Mais uma vez, o futuro da Companhia de Desenvolvimento de Caxias do Sul (Codeca) esteve em discussão na Câmara de Vereadores na tarde desta terça-feira (24). A audiência pública, proposta pela Comissão de Legislação Participativa e Comunitária, que ocorreria em junho, tinha sido adiada porque a diretora-presidente da companhia, Helen Machado, havia testado positivo para covid-19.
A gestora apresentou dados da estrutura e da governança e o plano de gestão que, segundo ela, inclui a reestruturação da empresa. Contudo, não foram apresentadas medidas objetivas a serem adotadas. Os principais problemas, de acordo com a direção, são estruturantes e de pessoal. Entre os itens apontados, estão o envelhecimento e sucateamento da frota. Uma análise feita no período de 19 de julho a 5 de agosto apontou que a quantidade de passagens pela manutenção superou o número de veículos, ou seja, é como se cada caminhão ou carro tivesse passado mais de uma vez pela manutenção. No caso dos caminhões, a média é de 2,3 vezes na oficina cada um. A média de veículos parados nos últimos três meses foi de 60 do total de 205. A média de idade da frota é de mais de 14 anos e, quando se trata dos veículos pesados, cresce para mais de 19 anos. Em função das dívidas, entre março e maio a empresa não conseguiu comprar combustível que não fosse com pagamento à vista. Isso foi contornado em junho.
Outra questão posta como impacto é o gasto com a folha de pessoal (1.188 funcionários) que chega a 80% da arrecadação. A diretora-presidente mencionou o índice de afastamentos na oficina com percentual de 27% do quadro, e a taxa de falta justificada (atestados, por exemplo) de mais de 5%, consideradas altas pela empresa.
Ao final da apresentação alguns parlamentares fizeram questionamentos. O vereador Maurício Scalco (Novo) perguntou por que não ficar apenas com setor de coleta de resíduos se setor de obras dá prejuízo e, se o gasto é muito grande com servidores, haverá programa de demissão voluntária. O vereador Lucas Caregnato (PT) questionou quais as medidas serão tomadas para reverter a situação e se tem alguma ação para reduzir número de cargos em comissão. A vereadora Gladis Frizzo (MDB) perguntou se vai haver redução de salários, cortes de serviços, implantação de banco de horas, quais as atitudes serão tomadas
Henrique Silva, presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Limpeza e Conservação de Caxias, defendeu aporte de recursos por parte da prefeitura. Representante do Sindiserv também apoiou aporte de recursos. Representantes dos recicladores falaram que se a situação da Codeca está difícil, a das entidades está pior por falta de material que não chega nas associações.
O secretário municipal de Meio Ambiente, João Osório Martins, disse que não é possível repassar recursos do Fundo do Meio Ambiente para a Codeca. A Secretaria de Trânsito informou que tem sido feitos contratos para obras e, com isso, empregados recursos da pasta. O secretário de Gestão e Finanças, Maurício Batista, disse que o aporte de recursos na Codeca não é visto pela prefeitura como despesa e sim como investimento. Mas falou que é preciso considerar o déficit do caixa do município. Disse que o governo vem olhando com cuidado a questão, tem disposição de fazer aportes, desde que os cofre do município permitam.
Helen Machado disse que a solução para os problemas não é o repasse de recursos pela prefeitura, é preciso ter condições de honrar compromissos.
— A empresa tem que se pagar. Vamos ter que fazer algumas ações muito impactantes — disse Helen, sem detalhá-las.
A presidente da empresa falou que o tempo era curto para responder pontualmente a todos os questionamentos dos vereadores, mas disse que em relação ao pessoal foram reduzidos em 20% o número de funções gratificadas e que há outras ações que podem ser desenvolvidas.
Ainda durante a apresentação a diretora falou que parte do que já foi entregue nessa gestão é a renegociação de 91,65% das dívidas. Além disso, a companhia implantou o pregão eletrônico, fez a reestruturação do Ecoponto, retomou os projetos Bota Fora e Troca Solidária, reativou a usina de asfalto e fez a revisão do plano orçamentário, entre outros. Algumas ações que devem ser implementadas é a gestão operacional da frota a partir de GPS. No horizonte, a Codeca tem contratos em negociação, como a ampliação da Central de Tratamentos de Resíduos Rincão das Flores, cuja assinatura da ordem de serviço será nesta quarta-feira (23), no valor de R$ 596 mil.
O diretor Administrativo-Financeiro, Gustavo Britz, também solicitou a palavra para reafirmar alguns pontos. Ele agradeceu o apoio dos fornecedores e dos secretários na ajuda para a manutenção da companhia.
- Agradecer aos fornecedores, nove deles, que representam 91% da dívida da companhia e que financiaram esse valor. Empresas modelos de Caxias e que estão unidos no apoio e na recuperação da Codeca. Eles suportaram o pagamento da folha dos funcionários de maio até aqui, porque a dívida em maio atingiu o ápice de R$5,9 milhões. Agradecer também os secretários e suas equipes, que nos ajudaram na captação de valores que estavam pendentes e com novos contratos. - enalteceu.
Britz ainda ressaltou que os investimentos para o segundo semestre e que eles terão retorno rápido.
- A companhia no orçamento para o segundo semestre prevê um acréscimo de receita de R$ 1 milhão por mês comparado a primeiro semestre. Precisamos reduzir o custo de pessoal na casa R$350 mil por mês, já temos ações em andamento e muito do valor já foi recuperado. O retorno de investimento para salvar a companhia, será rápido e de curto prazo - conta.