O Sistema 3As do governo do Estado libera atividades físicas, mas efetua o regramento com especificidades para cada setor. Apesar dos representantes comemorarem a permissão em abrir as portas depois de ficarem meses sem trabalhar em 2020, ainda sentem que, na prática, as normas são de difícil interpretação. Um dos pontos observados, por exemplo, é o fato de competições serem permitidas, mas treinos não. Outro item presente no protocolo do Estado é sobre professor e aluno. Eles podem ter contato físico apenas se tiverem o esquema vacinal completo — conforme Portaria 393/2021. Considerando que nem metade da população está vacinada, a prática nesse formato é inviável e, por isso, nem consta nos planos apresentados à prefeitura por estabelecimentos consultados pela reportagem.
No caso de competições, equipes de Caxias do Sul que queiram disputar precisam abrir um processo administrativo e ter planos aprovados pela prefeitura. O gerente de Esporte e Lazer da secretaria municipal de Esporte e Lazer, Vinícius Piazza, diz que a pasta tem atuado de forma consultiva.
— Muitos têm ligado para tirar dúvidas sobre as competições. De forma geral, as atividades acontecem respeitando o protocolo, como academias. Mas as competições, como campeonatos no interior, precisam apresentar um plano. A maioria, quando vê que tem que fazer tudo isso, recua — conta.
Não bastasse a dificuldade relatada por alguns para encontrar onde estão as regras mais atuais, há o problema de compreender corretamente como cumprir. O vice-presidente do Conselho Municipal de Desporto, Mauro Amancio da Silva, afirma que não há clareza.
— É muito dúbio, dá muita margem para interpretações. Permitir competição e não treino, como pode? Totalmente inviável. Não consigo enxergar clareza. A própria fiscalização que vai ao local não tem clareza do que está fazendo — diz.
— Existe uma dificuldade na interpretação, pois o sistema 3As permite situações que a portaria restringe. Encaminhamos uma consulta para a secretaria de Esportes do Estado para que nos ajude com essas dúvidas, tendo em vista a grande quantidade de informações que envolvem as atividades esportivas — reforça Vinícius Piazza.
É possível conferir cada item das regras ao buscar por setor no site do governo do Estado neste link utilizando a caixa de pesquisa "Atividade". O documento completo também pode ser conferido aqui. Entre as normas, está a de que áreas em ambientes abertos podem ser ocupadas com distância de 8m². Em ambientes externos, o limite mínimo é de 16m². Para esportes coletivos com duas ou mais pessoas deve haver agendamento e intervalo de 30 minutos entre jogos, para evitar aglomeração na entrada e saída e permitir higienização. O distanciamento interpessoal é de no mínimo de 2 metros entre atletas durante as atividades. Ter público espectador é proibido.
Clubes pedirão liberação de banhos em vestiários
Uma situação virou pleito dos representantes de clubes recreativos em Caxias. É o chuveiro. Os vestiários estão abertos apenas para viabilizar a troca de roupas. Para o presidente do Recreio da Juventude, Paulo Marchioro, a estrutura do RJ comportaria o serviço.
— O pessoal sai da prática no frio de Caxias suado e sem poder tomar banho. Precisam ir até em casa. É nossa maior dificuldade hoje e nossos vestiários são gigantescos. Estamos preocupados com a covid, mas sabemos que as pessoas enclausuradas em casa, sem a prática esportiva, ficam mais abaladas — diz.
Um documento será encaminhado ao prefeito Adiló Didomenico (PSDB) nos próximos dias com a solicitação, assinado também por outros clubes, conforme Marchioro. No Recreio da Juventude, as saunas seguem fechadas, assim como salões e quiosques que costumavam ser alugados para eventos, e churrasqueiras, mesmo que estejam ao ar livre. O uso de piscinas foi liberado ainda no verão. Uma sala de imersão virtual para exercícios físicos está desativada. O clube investiu R$ 3 milhões na tecnologia, mas o espaço não conta com ventilação natural e, por isso, permanece de portas fechadas. As duas academias do clube — RJ e antigo Guarany — somavam 3,2 mil alunos, mas atualmente contam com 1,2 mil frequentadores.
Criatividade no judô
Impedidos de promover contato físico para as técnicas necessárias, a escola Kuse Dojô, de Caxias do Sul, apostou em algo diferente para ensinar judô. Desde que os alunos puderam voltar aos encontros presenciais, eles passaram a treinar posições e golpes com um boneco feito com boias de piscina — os conhecidos espaguetes de isopor.
— No início, fazíamos com cabo de vassoura, cadeira, materiais totalmente alternativos para que os alunos pudessem ter em casa. Era uma adaptação, ainda que amadora do ponto de vista de quem trabalha com o contato físico. Depois, evoluímos para os bonecos. Colocamos carinhas de personagens para motivar os alunos. Realmente tivemos que nos reinventar muito mais do que em outras modalidades — diz o professor Miguel Augusto Kuse, 37 anos.
A escola Kuse Dojô tem cerca de 70 alunos a partir de 4 anos de idade. Cerca de 70% dos matriculados são crianças.
Danças de salão somente com aula particular
Na escola de danças Carla Barcellos, professores não têm contato com alunos, que também não se aproximam entre si. Por isso, as aulas passaram a ser individualizadas. A professora de ballet e jazz, Bruna Bregolin, explica que a adequação às aulas foi tranquila.
— O que afeta mesmo é a falta de acesso com as crianças porque não podemos mais ter o carinho, ficar próximos.
A escola, que costumava reunir dezenas de casais para danças de salão e gaúcha, agora agenda no formato particular.
— Vimos que era mais difícil de cuidar. Teria que ter casais fixos que morem no mesmo ambiente ou que fossem namorados. Ficava difícil fechar uma turma. Optamos, então, por atender casais em modalidade particular — relata.
Conforme a Fiscalização da Secretaria de Urbanismo de Caxias não houve recebimento de denúncias quanto a descumprimento de regras em clubes e escolas de práticas esportivas. Ao ar livre, em Caxias, é permitido caminhar, correr e fazer exercícios em praças e parques, mas está proibido o uso de equipamentos públicos, como as academias. Nas escolas, cabe a cada uma ter o plano para aulas de Educação Física aprovado pela prefeitura. Esse setor é de responsabilidade da Secretaria Municipal da Educação (Smed).