A pressão sobre o sistema de saúde reduziu nas últimas semanas, a vacinação caminha – com passos bem lentos – e as liberações propostas pelo governo do Estado dão sinais positivos de que tudo pode melhorar ali na frente. Querendo ou não, esse contexto cria um clima mais positivo sobre a população e as perspectivas ficam otimistas. No entanto, tudo necessita de uma compreensão sobre a pandemia do coronavírus, que assola o mundo por quase um ano e meio.
— Essa pandemia é uma incógnita desde o início. Quando a gente imagina que já passou o pior, nos deparamos como foi o cenário de março. Nós tivemos uma demanda além da capacidade das instituições de saúde. Saímos de 10 para 42 leitos de UTI e ainda não conseguimos fechar nenhum. Isso mostra que tem uma estabilidade e não há redução ainda. Qualquer pico daqui para diante é muito preocupante — explica Cleciane Doncatto Simsen, diretora executiva do Hospital Virvi Ramos.
Os cenários colocam uma perspectiva mais otimista de que a vacinação dos idosos já será um ponto de muita importância para os próximos meses. Com a imunização dos grupos que acabam padecendo mais para um vírus que a cada nova mutação se apresenta mais agressivo, fica uma esperança de que os hospitais vão sofrer menos ali na frente.
Um estudo da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), juntamente com a Universidade de Harvard (EUA), aponta que há redução na morte de idosos acima dos 80 anos e que completaram o esquema vacinal. Em janeiro, esse grupo correspondia a 28% das mortes, que recuou para 13% ao final de abril. A imunização está surtindo os primeiros efeitos desejados.
— A vacina começa a dar sinais, com estudos mostrando que há redução na hospitalização de idosos. Ela não vai impedir tudo, porque ela não tem 100% de eficácia para casos graves. Ainda assim, ela vai reduzir e atrasar o impacto nos hospitais com uma possível nova onda — destaca o infectologista Alexandre Zavascki, professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
No entanto, Zavascki faz um alerta muito necessário para esse momento:
— É importante que as pessoas entendam que enquanto tiver uma quantidade alta de vírus circulando, nenhuma vacina é 100%. Não pode deixar de lado os cuidados básicos. Quando vacinar um número maior da população, o vírus vai reduzir e a circulação e a chance de contrair será bem menor.
Os novos tempos, a vida normal só chegará quando for encontrada a verdadeira imunidade de rebanho. Ela é criada com mais de 70% da população imunizada, sendo que o novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, prometeu todos os brasileiros vacinados até o fim do ano. Uma promessa que deixa uma perspectiva de encerrarmos o ano numa condição muito melhor.
— Eu diria que a perspectiva está em 80% a 90% melhor do que no ano passado. Primeiro, porque aprendemos a viver na pandemia e tem a luz no fim do túnel, que é a vacina. Eu acredito muito nisso. Vejo muito melhor do que o ano passado — afirma Ivanir Gasparin, presidente da Câmara de Indústria e Comércio de Caxias do Sul.
O inverno pode ser fator complicador
Não há uma fórmula mágica, bola de cristal ou vidente que possa prever como serão os próximos meses da pandemia no Estado. Os dados indicam estabilização dos casos positivos e das internações por coronavírus, o que gera bastante cautela sobre a comunidade médica. As chances de mais um pico é real, baseado pelo inverno europeu, com muitos países entrando em lockdown, e uma mutação da variante brasileira descoberta no Rio de Janeiro, a P.1.2.
— O que a gente precisa compreender é que os casos baixaram, mas eles estabilizaram em um nível altíssimo e não conseguem cair mais. Isso já faz algumas semanas. Agora, independentemente de uma variante, é possível e esperado um novo aumento dos casos. Se vai determinar uma crise novamente, como foi em março? Aí é diferente. Já teremos um percentual de pessoas vacinadas e talvez atrase a chegada aos hospitais. A minha impressão pessoal, nos níveis em que estamos de 40 casos novos por 100 mil habitantes, é de uma transmissão altíssima e a chance de novos acréscimos são grandes — explica Zavascki.
A visão de Zavascki é semelhante à de Cleciane Simsen, que vive a realidade de um dos principais hospitais de Caxias. Nos últimos dias, as internações voltaram a aumentar. Existem 30 pacientes com a doença na UTI do Virvi Ramos. Além disso, ela lembra das doenças sazonais, que ajudarão a manter os hospitais cheios. Cleciane usa como base o fato de a população baixar a guarda nos cuidados básicos, como no uso da máscara, assim como os que não fazem a segunda dose da vacina.
— São muitas variáveis que vão pesar na hora de momentos melhores ou piores. Se não houver a conscientização e o acesso à vacinação, vamos ter problemas por tempo indeterminado — desabafa Cleciane, que deposita as esperanças na vacinação:
— A vacinação é o único caminho de esperança. A conscientização das pessoas nós não temos a garantia, mas a imunização é uma garantia. Isso ocorreu com outras doenças, que a partir da imunização conseguimos eliminá-las.
Esperança para encerrar o ano em alta
A economia é diretamente afetada pelos passos que a pandemia fez em mais de um ano. Em Caxias, existem diferentes formas de sentir o impacto dela. Enquanto alguns setores têm problemas com matéria-prima por estarem vendendo mais, outros, como o de eventos e os que dependem da circulação de pessoas, vivem dias complicados.
— Alguns setores estão naquela expressão: está ruim, mas está bom. Existe falta de matéria prima, mas você está produzindo mais do que tinha há dois anos? Sim. Você aumentou o preço, mas conseguiu repassar? Então está ruim por faltar mercadoria, mas está bom porque está vendendo. Por outro lado, quem depende de aglomeração de pessoas, como o comércio e os eventos, está com dificuldade. A indústria, que depende da aglomeração, está sentindo mais — opina Gasparin.
O presidente da CIC acredita que o cenário da vacinação trará um novo momento para a economia caxiense ainda neste ano. Com a população imunizada e a contaminação reduzida, ele acredita que muitos setores que estão com negócios represados vão retornar com mais força, principalmente os de eventos.
Ao mesmo tempo, a pandemia mostra que muitos irão sentir um impacto negativo forte. Gasparin ressalta que o turismo empresarial irá reduzir de forma significativa com as reuniões virtuais. São questão que cada um precisará analisar muito bem nos próximos meses.
— Eu tenho discutido muito com os dirigentes de sindicatos que há setores que não retornarão ao que era o normal. Cada um precisará analisar o seu negócio, porque não vai voltar ao que era antes e muitos serão impactados positiva ou negativamente. A CIC tem sinalizado isso nas últimas reuniões. Os empresários precisam analisar muito bem se vale a pena continuar no seu ramo específico — explica o dirigente.