Inquieto, cheio de energia e sorridente, Virgilio Canever, 72 anos, se dedica há mais de duas décadas a um projeto que foi inspirado por seu jeito de ser: otimista. Isso mesmo. Se tem uma palavra do dicionário que define Canever, é otimismo. Servidor aposentado do Banco do Brasil, professor de História e de xadrez da Associação dos Pais e Amigos dos Deficientes Visuais (Apadev) de Caxias do Sul, ele criou um dicionário do bem:
— Sou apaixonado por essa ideia de poder ensinar palavras positivas. Reuni palavras mágicas que demostram o bem que temos no mundo. Para representar cada uma delas, existem pensamentos e histórias que podemos seguir porque se ensina pelo exemplo.
A ideia original do autor era reunir, em um dicionário, apenas palavras positivas para ajudar e inspirar pais e professores a encontrar um novo jeito de ensinar às crianças. O trabalho começou com uma pesquisa nos dicionários tradicionais.
— É um trabalho fácil, mas cansativo, então eu demorei muito tempo para fazer isso. Dedicava algumas horas por dia à pesquisa, mas às vezes deixava o dicionário na gaveta — relembra.
Depois de anos, ele concluiu o levantamento e veio a decepção:
— Temos mais de 220 mil verbetes no dicionário. O que me desaminou foi que eu não achei muitas palavras positivas. Depois de alguns anos que levei para passar todo o dicionário, eu achei em torno de 1,6 mil palavras positivas e me decepcionou ver que tem muito mais palavras negativas que positivas reunidas ali.
Ele explica que destas 1,6 mil palavras sobraram apenas 400 porque muitas têm o mesmo significado. Canever até pensou em criar um minidicionário com 365 palavras para serem ensinadas uma por dia. Novamente, teve que mudar de ideia.
— Não foi possível porque tem palavras que dizem o mesmo: bonito e lindo, por exemplo. Assim, não achei palavras possíveis para um calendário. Até pensei em 202 palavras para um calendário escolar, mas fui deixando de lado, engavetando meu sonho — conta o professor.
O otimismo, que ele considera o sentimento inspirador para seguir em frente, o fez ter novas ideias e tirar o rascunho da gaveta:
— Não podia desistir mesmo que a ideia tivesse perdido a originalidade. Selecionei 52 palavras para que pais e professores ensinem as crianças, mas foi então que me dei conta de que a nossa língua não precisa de 52 verbetes, 12 já bastam para ter um novo olhar. Basta ler as palavras para entender que com 12 podemos ensinar tudo o que é do bem no universo.
As palavras mágicas
Diante das mudanças, o professor reuniu no livro Palavras Mágicas: dicionário do bem, um novo jeito de educar as 52 palavras que considera essenciais para ensinar o que é o bem e que são possíveis de ser colocadas em prática. Na definição do que significa cada um dos verbetes, não há antônimos, afinal, ele acredita que não seja necessário ter pensamentos negativos, antagônicos à bondade. Para ser ainda mais inspirador, começou outra pesquisa:
— Coloquei pensamentos conhecidos, meus e de autores desconhecidos e histórias que falam dessas palavras. Levei muito tempo para organizar porque eu não queria pensamentos negativos e, mais uma vez, percebia que para enaltecer o bem, falamos do mal. Eu queria só palavras positivas, nada realçando o negativo. Foi difícil, muitas vezes pensei em jogar fora e, mais uma vez, ficou engavetado por um tempo porque era um lindo projeto, mas precisava avançar de outra maneira.
Naquele momento, ele conta alegre, que veio a intuição: ensinar 52 palavras, mas realçar 12 que tenham um significado real na vida de cada um.
— São 52 palavras, mas com 12, uma palavra por mês, os pais podem ensinar aos filhos, mostrando com atos e ações o que é ser bom. Os professores podem fazer o mesmo. São palavras que quem vai ensinar pode escolher por se identificar com elas, tem que ser o verbete que te toca, que significa algo em sua vida, que seja fácil de falar sobre ele e de cumprir a palavra. Tem que ensinar pela ação, dar o exemplo e por isso escolher as que têm mais sintonia com sua personalidade, caráter e escolhas — pontua.
O autor as considera palavras mágicas porque são capazes de reeducar quem ensina e educar quem aprende:
— Se essa criança aprender cinco ou seis palavras dessas 12, se aplicar ao pé da letra, não tem como ela ser uma má pessoa. Tenho certeza que será um bom cidadão. Se aplicar as 12, será uma pessoa iluminada. Sabemos que existem poucas pessoas assim, mas elas existem, e podemos chegar perto dessa iluminação e ser pessoas melhores escolhendo as palavras que vamos seguir em nossas vidas.
Canaver ressalta que o mais interessante é que a palavra amor não está incluída entre 52 selecionadas.
— Vão se perguntar como, mas por quê? E a resposta é simples: se aplicarmos a palavra amor em tudo, como ela se define, não precisa de nenhuma outra palavra. Se aplicar no sentido da palavra, como ela determina, não teríamos maldade, mas somos humanos e não conseguimos fazer isso, porque somos falhos, mas podemos com certeza ser melhores se colocarmos em prática parte delas.
Em busca de apoio
A primeira palavra do livro é abraço e, a última, zelo, que coincidentemente são dois verbetes usados com frequência em meio à pandemia de coronavírus pela saudade de abraçar e a necessidade de cuidar de si e dos outros. A pandemia, aliás, atrasou o projeto e o autor precisa de patrocínios para que o livro se torne mais barato e possa chegar às mãos de pais e professores.
— Imprimi com meus recursos 150 livros, mas eles ficaram com um valor alto. Estou em busca de patrocínios para que ele cumpra a missão para a qual foi escrito, que chegue até as crianças.
O lucro da venda será repassado por Canever à Apadev:
— Sou tesoureiro da instituição e quero ajudar porque com a pandemia estamos precisando ainda mais de doações — conta ele.
A descrição das palavras está acompanhada por fotos, frases e pensamentos. Entre os 52 termos, há agradecimento, alegria, aprender, bondade, compaixão, doação, moral, honra, equanimidade, fraternidade, otimismo, retidão, tolerância, união.
Confira algumas palavras e pensamentos selecionados pelo professor:
Abraço: "Você foi o maior dos meus casos, de todos os abraços o que eu nunca esqueci" - Roberto Carlos, cantor e compositor
Amizade: "Um amigo se faz rapidamente; já a amizade é um fruto que amadurece lentamente" - Aristóteles, filósofo
Caridade: "A caridade é a fonte de todas as virtudes" - Allan Kardec, fundador da doutrina espírita
Educação: "A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo" - Nelson Mandela, símbolo da luta contra o apartheid
Ética: "Se tenho moral, estou bem com os homens. Se tenho ética, estou bem com Deus" - Virgílio Canever, autor do livro Palavras Mágicas
Gratidão: "Se eu vi mais longe, foi por estar de pé sobre ombros de gigantes" - Isaac Newton, matemático, físico e teólogo
Honestidade: "Nenhuma herança é tão rica quanto a honestidade" - William Shakespeare, poeta e dramaturgo
Humildade: "Se te curvares com humildade, mais reto serás" - Virgílio Canever, autor do livro Palavras Mágicas
Lealdade: "O sangue nos torna parentes, mas é a lealdade que nos torna família" - autor desconhecido
Paz: "Não existe um caminho para a paz. A paz é o caminho - Mahatma Gandhi, líder pacifista
Perdão: "As plantas perfumam até os pés de quem as esmaga" - Ramon de Campo Amor
Sabedoria: "Só sei que nada sei" - Sócrates, filósofo
Solidariedade: "As mãos que ajudam são mais sagradas do que os lábios que rezam" - Madre Teresa de Calcutá, religiosa
Verdade: "A verdade é filha do tempo e não da autoridade, Galileu Galilei, astrônomo e físico
Zelo: "Quem com zelo zela, com zelo será zelado" -Virgílio Canever, autor do livro Palavras Mágicas
Onde comprar:
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