Depois de mais de 40 dias internada com covid-19, a psicóloga Judite Ema Fiorese, 63 anos, foi recepcionada pelos vizinhos de um maneira emocionante. O grupo do condomínio organizou uma surpresa: todos em suas sacadas, com lenços brancos, vibrando por ela ao som de "Amigos para sempre".
— A música que sempre foi uma forma de contato na pandemia, porque eu animava o pessoal, mas dessa vez surpreendeu a mim. Fizeram diversos cartazes no elevador. O Nino, do prédio da frente, cantou junto com os vizinhos. Foi uma mensagem de esperança, amor e acolhimento. Eu fiquei muito emocionada. Quando saí do hospital já comemorei, cheguei aqui fiquei mais emocionada e depois, com a música, todos cantando e vibrando por mim não teve como não chorar de emoção. Foi muito lindo — afirma.
O músico Nino Henz, que mora no prédio em frente ao dela, foi convidado por outra moradora do edifício a realizar a homenagem. Durante a pandemia, nos aniversários, os moradores criaram o hábito de ir na sacada cantar os parabéns e, na chegada de Judite, resolveram comemorar juntos.
— Foi bem bacana, combinamos com todos os moradores do prédio da frente. Sem querer acho que demos uma boa ideia para as pessoas. Despertar um outro lado, tocá-las emocionalmente. Precisamos de mais empatia, que seja possível olhar mais para o outro, com mais respeito e carinho, o que está faltando nesse momento.
Além da música, foram lidas também palavras carinhosas para Judite que, para o seu filho, Jader, são de motivação e incentivo para todos para que não passem pelo que a família deles passou.
O enfrentamento à doença
Judite ficou 33 dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), o primeiro deles na data do seu aniversário.
— Nesse período, tanto ela quanto os familiares, estavam com muito medo do que iria acontecer. Entretanto, naquele momento tínhamos que transformá-lo em confiança e muita fé. Nessas horas percebemos o tamanho da nossa fé e da força da união da família — destaca o filho.
Jader comenta que a doença é solitária tanto para o paciente quanto para quem está fora. Eles se comunicavam por meio de chamadas de vídeo, até mesmo quando ela não podia falar, pois acreditavam que ouvir a voz deles, mesmo que inconscientemente, seria positivo.
— É uma doença que afeta não só a parte respiratória, mas a parte cognitiva, a parte motora. O paciente vem para casa reaprendendo funções primárias da vida, tem que reaprender a andar, se alimentar, respirar e falar. Quando acordou depois de sair da UTI ela não sabia quem era, não sabia que tinha família e só depois foi montando o quebra-cabeças.
Ao relembrar da saída do hospital, Judite garante que a vitória não é só dela, mas também de toda a equipe, pois cada um que sai de lá com vida depois da covid-19 tem que comemorar. Agora que está em casa, ela se recupera com o auxílio de fonoaudióloga e fisioterapeuta.