Desde o início da pandemia de covid-19, quase 700 famílias de Caxias do Sul choraram pela perda de pelo menos um ente querido. Neste final de semana, a família Borba se despediu do patriarca e da matriarca. Depois de uma vida juntos, 52 anos de casados, Juvêncio Heleodoro de Borba, 82 anos, e Juremi Vidal de Borba, 71, morreram com diferença de 32 horas um do outro, em decorrência de complicações causadas pela doença.
A nora, Juliana Cardoso Fonseca de Borba, 34, conta que a sogra, Juremi, era uma mulher ativa. Saía da Vila Ipê, onde moravam, para fazer as compras de casa e ir aos grupos de orações na igreja evangélica que frequentava. Gostava de mandar mensagens aos parentes e amigos por meio de rede social. Já o sogro, Juvêncio, estava mais recluso nos últimos tempos em função de problemas de saúde. Ele tinha cardiopatia e ela diabetes, pressão alta e asma. Dona Juremi contraiu o vírus primeiro. Com sintomas da covid-19, comprometimento dos pulmões, ela foi internada no Hospital do Círculo, no dia 12 deste mês. Teve piora no quadro e precisou ser entubada para respirar com a ajuda de aparelhos. Dias após, seu Juvêncio, foi levado à UPA, foi liberado para voltar para casa e, depois, devido à baixa oxigenação, foi internado no Hospital Geral no dia 22, onde morreu às 23h da última sexta-feira.
– Ele pedia dela toda a hora. Se recusava a ir para o hospital. Juntou a tristeza dele com a doença. Ele também já era doente, tinha tido dois infartos e teve um terceiro no hospital – comentou Juliana.
Ele foi sepultado na tarde de sábado. Dona Juremi morreu às 7h deste domingo. Ela foi enterrada na tarde do mesmo dia, no mesmo Cemitério do marido, no bairro Santa Catarina.
O casal deixou a cidade de Jacinto Machado, em Santa Catarina, há mais de 35 anos, para tentar uma vida melhor em Caxias. Ele trabalhou na Amalcaburio, empresa do ramo de peças automotivas, e ela na Companhia de Desenvolvimento de Caxias (Codeca). Ambos eram aposentados, tiveram cinco filhos (um deles já falecido), seis netos e uma bisneta que está perto de completar um ano.
– Minha sogra sempre me dizia: a gente tem que fazer o bem sem olhar a quem. Sempre vou lembrar disso. Eles fizeram tudo pelos filhos. Sempre queriam a família unida. Meu sogro gostava muito de comemorar aniversários, Natal, Páscoa... para reunir a família. Eles não tinham medo de pegar o coronavírus. Eles não queriam era ficar sozinhos. Diziam que queriam viver com a família aqui na terra e, depois, Jesus podia levá-los a hora que ele quisesse _ disse Juliana.