As aulas a distância em decorrência da pandemia e a possibilidade de reaproveitamento dos materiais escolares do ano passado fizeram com que as doações de livros, cadernos e mochilas, entre outros, diminuíssem em Caxias do Sul neste ano. É o que confirmam dois projetos sociais da cidade que ajudam estudantes em situação de vulnerabilidade social.
Filipe Binotti Pessoa, presidente da Passarte, projeto caxiense que desde 2011 restaura materiais escolares usados e repassa para estudantes, afirma que sempre houve uma quantidade pequena de doações, mas a a situação se agravou com a pandemia
— O que a gente recebeu até hoje foi em torno de duas doações por dia, mais ou menos 20 quilos de doações de material escolar por dia. Agora, a gente está recebendo em torno de 20 quilos por semana. Isso é extremamente pequeno para uma cidade do tamanho de Caxias. Até por isso estamos desbravando outros lugares, como São Paulo e Porto Alegre, onde o engajamento das pessoas é bem maior, até mesmo pela quantidade de pessoas — explica Filipe, que está na capital paulista.
Por outro lado, o voluntário lembra que enquanto as doações caíram, a procura por materiais escolares por parte das famílias necessitadas aumentou.
— Neste ano, a gente recebeu muitos pedidos de doações, mais do que nos outros anos. Muita gente está sem trabalho e realmente faz sentido ter aumentado os pedidos — pontua.
Em um novo formato
Com a queda nas doações de materiais escolares, os voluntários adaptaram o modelo da Passarte em 2021. Até o mês de janeiro deste ano, o projeto recebia material escolar usado, que era restaurado e depois doado para os estudantes de baixa renda. Agora, eles arrecadam livros, cadernos, apostilas, arquivos de empresa, papéis, jornais e revistas que são vendidos para sebos e reciclagens. O valor arrecadado é utilizado para a compra dos materiais didáticos.
— Era um processo difícil, caro e agora na pandemia não estava rendendo. Mudamos o modelo e estamos somente neste formato que está funcionando bem em todos os lugares, principalmente porque não precisamos mais estar fisicamente. O próprio sebo e a reciclagem vão no ponto de coleta selecionar as doações e nos informam o valor. Nós geramos um boleto e a nota fiscal — esclarece o presidente do projeto.
As crianças atendidas pela Ação Social Murialdo do bairro Santa Fé, na zona norte de Caxias, foram umas das últimas beneficiadas com o novo modelo da Passarte. O espaço mantido pelo Instituto Leonardo Murialdo atende em torno de 200 crianças no turno inverso da escola, com serviços de convivência e fortalecimento de vínculos.
A coordenadora do Centro de Formação Profissional Murialdo, Cheila Silva, relata que foram arrecadadas 1,2 toneladas de livros e papéis nos últimos três meses de 2020, quantidade repassada para o Passarte. O volume foi revendido e gerou R$ 600 para a compra de material escolar para os estudantes de sete a 14 anos atendidos no Santa Fé. Cheila recebeu os objetos no ponto de coleta da cidade das mãos da voluntária Bruna Sartor na última quinta-feira (18).
— Entendo que a corrente de solidariedade que se formou através dessa doação foi muito maravilhosa. Muitas vezes, as doações deixam de acontecer porque temos receio do destino final desse material, contudo a Passarte possui um olhar muito cuidadoso ao realizar uma triagem, onde o que não é reaproveitado, é reciclado. Beneficia as pessoas, o meio ambiente, e fortalece o princípio de cuidar da nossa casa comum — destaca Cheila.
Uma campanha fixa
Uma das coordenadoras do projeto social Amor Perfeito, de Caxias, Cristina Mossi, 43, também percebeu a diminuição das doações de material escolar em 2021. A iniciativa que tinha o objetivo de arrecadar itens para recém-nascidos até dois anos de idade, passou também a atender os estudos das crianças de até seis anos de idade em situação de vulnerabilidade social.
— Recebíamos mais cadernos e neste ano menos. Em compensação recebemos mais itens como canetas, lápis, mas nada que supra a necessidade das famílias cadastradas no projeto. Sempre fazemos campanhas na nossa página do Facebook para divulgar e incentivar a doação, mas com pouco retorno. Agora, ela será fixa com o intuito de que, no próximo ano, consigamos suprir a necessidade das famílias — comenta Cristina.
Para a voluntária, a alteração significativa no número de doações é um reflexo do modelo de estudos seguido pelas escolas atualmente, além de ser um efeito da diminuição da renda da população.
— Houve uma demanda maior das famílias por cadernos, pois o material entregue (nas escolas) foram cópias, que passaram a ser coladas no caderno, e não copiado, e menor utilização dos demais itens em trabalhos realizados na escola. Sabido também que, de modo geral, a questão econômica vigente pela pandemia gerou um maior controle de gastos, e consequente reaproveitamento — avalia.
Como ajudar os projetos
:: Pontos de coleta da Passarte
CAXIAS DO SUL: no primeiro andar do Bourbon San Pellegrino (Avenida Rio Branco, 425). O espaço fica aberto de segunda a sábado, das 10h às 19h45min. Nos domingos e feriados, a doação é das 14h às 19h45min. A sala não possui voluntários presenciais.
O projeto também coleta doações (acima de 500 quilos) de cadernos, livros e papéis usados de qualquer lugar do Brasil. O telefone da Passarte é (11) 4673-3815.
:: Pontos de coleta do Amor Perfeito
CAXIAS DO SUL:
Espaço Herbalife Nutrition Romeo e Lucia Gelain (Avenida Júlio de Castilhos, 1.511 - sala 14, Centro), Studio de Beleza Kátia Rossi (Avenida Mariland, 312 - bairro Mariland), Rua João Florian, 18, apto 901 (bairro Desvio Rizzo, em frente à lagoa) e Espaço Beleza Shirley Soares (Rua Dr. Montaury, 1.128 - sala 14 a, Centro).
FLORES DA CUNHA: Doce Anjo Bazar infantil (Rua Borges de Medeiros, 1.676)
PELA INTERNET: entrar em contato pela página do projeto Amor Perfeito no Facebook.