Se a maioria dos setores da economia sofreu os impactos da pandemia de covid-19 ao longo de 2020, esse efeito chegou nas livrarias mais intensamente em dezembro do ano passado e em janeiro deste ano. Segundo o gerente de uma empresa do setor em Caxias do Sul, o movimento está, de forma geral, entre 30% a 40% menor do que no mesmo mês do ano passado e, por consequência, no faturamento na mesma proporção.
As causas estão relacionadas às mudanças trazidas em função da doença ao modelo de ensino, que migrou do presencial para o remoto ou híbrido, e às consequências dessa alteração. As famílias se adequaram ao novo sistema e muitos materiais escolares, pouco usados em 2020, serão reaproveitados neste ano letivo, o que reflete em índice maior de queda na venda de alguns itens específicos, como mochilas, por exemplo. Da mesma forma, as escolinhas ficaram com muitos produtos em estoque e reduziram as listas. Além disso, os pais ainda estão receosos sobre como se desenvolverão as aulas a partir dos próximos meses e, portanto, estão esperando definições para, então, comprar o que for realmente necessário para os filhos. E ainda existem algumas escolas da rede municipal que não liberaram as listas de materiais escolares.
O gerente da Livraria Rossi, Eduardo Toss, explica o momento:
– Agora sim, sentimos o grande efeito no que chamamos de nossa safra, que é o começo de ano. Os efeitos são pesadíssimos, afetam o movimento e o faturamento. O movimento está extremamente ligado a se o ensino será remoto ou presencial ou híbrido. Esperamos que haja um prolongamento da busca pelos itens escolares, sem picos em janeiro e fevereiro, mas que comece, tome forma a partir do início das aulas e se estenda até depois do começo do ano letivo. Mesmo assim, sabemos que não é um ano comum, que não vamos alcançar aquele faturamento tradicional.
Michele Bonato, 36 anos, e o filho Vicente, 7, vivem exatamente esse período de incerteza sobre como será o ano letivo. Em função da pandemia, a família migrou da rede particular para a pública ainda em 2020 e aguarda definições sobre o calendário e o formato das aulas para este ano, quando o menino fará o 2º ano do Ensino Fundamental.
– A (rede) municipal ainda não definiu se volta e quando volta. Nem tenho lista. Tenho alguma coisa (do ano passado). O que der, reaproveitarei – comentou a mãe, referindo que, na escola para a qual Vicente foi, a Catulo da Paixão Cearense, as tarefas eram entregues impressas aos alunos e, com, isso, o estudante usou menos o caderno e as folhas, por exemplo.
Giovanna Gonçalves Boeira, 9 anos, estava com a avó, Maira Varaschin, 65, comprando materiais em uma livraria na tarde da última quarta-feira. Ela contou que não sabe o que vai precisar – ela vai para o 5º ano – porque ainda não tem a lista, mas ganhou alguns itens básicos, como canetas.
Especialista orienta para a hora da compra
Em levantamento feito pela reportagem em três livrarias de Caxias do Sul, entre os dias 27 e 28, foi possível verificar que a variação de preços é muito grande dentro do mesmo estabelecimento e, por isso, vale a pena pesquisar. Além disso, é preciso avaliar o peso do apelo comercial. Em alguns itens, com o valor do produto mais caro, é possível comprar 16 da versão mais barata. Nessa escolha, entram opções por marcas e modelos. O Procon de Caxias divulgou nesta sexta-feira (29) pesquisa de materiais.
A educadora financeira, Márcia Andrea Kleemann, elencou 10 dicas para os pais que estão prestes a ir às compras de materiais escolares para os filhos. No topo, ela aponta a pesquisa e, também, o reaproveitamento de materiais que vem associado a ensinar aos filhos o uso consciente, o que ela executa na prática, em casa, com João Vitor, 8 anos.
– Temos vários itens que podemos reaproveitar do ano passado para esse! No caso de 2020 para 2021: cola, tesoura, apontador, canetas... tudo será reaproveitado. Mas, no nosso caso, não tem relação com aulas remotas, pois sempre converso com o João Vitor sobre o cuidado que precisamos ter com nossos materiais. Educação financeira está relacionada aos nossos comportamentos e hábitos financeiros. E nós, como pais, somos o "exemplo" para nossos filhos. No nosso caso, ele vai junto comprar.
Na lista dos reutilizáveis pelo estudante para este ano estão mochila, estojo, lápis de cor, canetinha, cadernos e borracha. Com isso, Márcia e João Vitor foram às livrarias para comprar um dicionário, régua e canetas, basicamente. Claro que os livros didáticos são prioridade e não podem ficar fora da lista. Mas, nem tudo é tão rígido nessa relação de consumo, que não possa incluir uma extravagância. No caso do João Vitor, em vez de levar apenas uma caneta que escreve em preto e que apaga, pedida pela escola, ele comprou uma segunda que escreve na cor verde.
Na casa da bioquímica Ana Paula Diefenthaler, 45 anos, neste ano, os materiais foram comprados com a mesada da Júlia, que foi para o 3º ano, e com presentes dos avós.
– Sempre faço bastante pesquisa, mas, desta vez, ela juntou o dinheiro durante o ano inteiro, deixei ela escolher e acabaram sendo coisas mais caras. Mesmo assim, ela vai aproveitar grande parte do material do ano passado. O que se torna caro são os livros didáticos e que foram subaproveitados no meu entender (com ensino remoto em 2020) – comenta Ana Paula.
Márcia apoia o uso da mesada pelas crianças e orienta sobre o planejamento familiar:
– Sabemos que todo o início de ano temos esse gasto, então, não é "surpresa". Eu sempre oriento no sentido de "quanto cabe no orçamento". Vou me endividar para comprar o material? O teto é de cada família: quanto posso gastar com material escolar que não irá nos prejudicar?
Com adoção do modelo de aulas remotas, a internet deve ser incluída no orçamento familiar.
10 dicas para a hora de comprar:
1. Pesquisa de preços em, pelo menos, três lugares diferentes.
2. Avalie os materiais que podem ser reutilizados.
3. Destine um valor para a compra do material escolar.
4. Verifique o orçamento da família e o que é possível "gastar".
5. Identifique o que é necessário para o aprendizado do seu filho x o que é supérfluo.
6. Converse com seu filho, sobre a importância de cuidar bem dos materiais, desperte a consciência sobre o uso.
7. Compras coletivas: famílias podem se juntar para comprar em quantidade, o que possibilita em alguns casos "descontos" consideráveis.
8. Negocie: pague a vista, peça desconto, ou negocie prazos de pagamento.
9. Levar o filho junto ou não para as compra? Pode ser um bom momento para ensinar o seu filho a importância da pesquisa de preços e planejamento.
10. Com a pesquisa de preços, podemos negociar tudo em um lugar ou realizar as compras em lugares diferentes.
Pesquisa
Confira os preços de alguns itens da lista de materiais neste ano em três livrarias de Caxias* e quanto custavam no ano passado:
Estojo
Menor preço - 8,00
Maior preço - 89
Caderno grande de uma matéria
Menor preço - 4,99
Maior preço - 34,90
Régua de 30cm
Menor preço - 2,30
Maior preço - 11,30
Caneta ponta grossa azul
Menor preço - 0,80
Maior preço - 10
Canetinha hidrocor com 12 unidades
Menor preço - 9,99
Maior preço - 34,90
Lápis de cor dom 12 unidades
Menor preço - 7
Maior preço - 30
Lápis preto
Menor preço - 0,50
Maior preço - 7,50
Borracha branca
Menor preço - 0,50
Maior preço - 8
Cola branca
Menor preço - 2,30
Maior preço - 7,40
Mochila
Menor preço - 84,90
Maior preço - 375
*A pesquisa foi realizada pela reportagem entre os dias 27 e 28 de janeiro.