Naquele que é descrito pelos especialistas como o momento mais crítico da pandemia na Serra, o maior município da região decidiu adotar a estratégia de tentar desafogar o sistema de saúde público com mais leitos de UTI. A contratação de oito leitos em Caxias do Sul foi confirmada pela prefeitura na manhã desta quarta-feira (24). Sete deles serão abertos no Hospital Geral e um já está em funcionamento Hospital do Círculo.
As novas vagas vão fazer a ampliação de leitos de terapia intensiva mais que dobrar na Serra em menos de um ano, como forma de oferecer suporte aos infectados pelo coronavírus. Até março do ano passado, eram 150 vagas. Hoje, já são 299 e o número segue com tentativas de expansão. Ainda está em avaliação junto ao Estado a possibilidade de fornecimento de equipamentos para o Hospital Virvi Ramos. Segundo a secretária da Saúde de Caxias do Sul, Daniele Meneguzzi, caso o governo estadual acene afirmativamente, esses leitos serão abertos somente se a capacidade instalada não for capaz de suportar a demanda em algum momento.
O investimento para manter as UTIs também tem aumentado. Para se ter uma ideia, em abril do ano passado, a abertura de um hospital de campanha no Pompéia teve custo de R$ 2.850 por diária por leito. O gasto agora para o funcionamento dos oitos nove leitos no HG e no Círculo é, em média de R$ 4 mil, por dia por paciente. O custo é dividido com a União, mas a maior parte está a cargo da prefeitura. Daniele conta que o que mais pesa é o preço dos insumos que aumentou consideravelmente nos últimos meses. A contratação de funcionários também ficou mais cara, devido à alta demanda por profissionais.
Mudança de perfil de pacientes e capacidade quase no limite
A capacidade de atendimento tem sido um dos argumentos da região para tentar manter atividades econômicas em funcionamento, mesmo classificada na bandeira preta do modelo de distanciamento controlado pelo Governo do RS. No entanto, o momento crítico é amplamente reconhecido. As internações aumentaram e mudaram de perfil nos últimos dias. A secretária da Saúde de Caxias diz que está em avaliação se isso é resultado de aglomerações no Carnaval, do relaxamento de medidas de distanciamento social ou da variante de Manaus, que teve uma confirmação em Gramado neste mês:
— Estamos bastante preocupados em função da rápida evolução e da gravidade dos casos. A gente tem observado que são pacientes mais jovens, na faixa dos 50 aos 60 anos, sem comorbidades ou com menos comorbidades, e um agravamento muito rápido levando à necessidade de internação em UTI.
O diretor técnico do HG, Alexandre Avino, confirma a mudança no perfil de atendidos e o crescimento rápido na busca por assistência. Segundo ele, os novos leitos no hospital devem entrar em funcionamento até o início de março. Com isso, o número de vagas em UTIs passará de 10 antes da pandemia para 38. É um esforço para garantir a atendimento mesmo diante da dificuldade em contratar mão de obra médica especializada e até mesmo da falta de equipamentos, como monitores necessários nas UTIs. O hospital tem mantido, por exemplo, um médico para cada 10 pacientes internados, mas Avino aponta que o ideal seria um profissional para cada oito doentes.
— Nós não sabemos se esses leitos vão ser suficientes ou não. O que nós temos hoje é o que os nossos leitos estão no limite, estão sendo 100% usados, o que não é o ideal. O ideal é trabalharmos com uma folga de 10% pelo menos. E não sabemos se isso vai ser possível.
Nesta manhã, 97% dos leitos de UTI do SUS em Caxias estão ocupados. No total, incluindo a rede privada, a ocupação também é alta: 93%. Isso ocorre mesmo com o cancelamento de cirurgias eletivas. Portanto, os pacientes internados são aqueles em situações de urgência e emergência. A maioria tem confirmação ou suspeita de covid.
A situação crítica no município que concentra a maior parte dos leitos da Serra gera preocupação até porque a situação regional também não é tão confortável. Nesta manhã, a ocupação geral está em 89% nos hospitais dos sete municípios que têm UTIs. O uso dos leitos cresce exponencialmente. Desde o dia 17, a taxa, que estava em 74%, não para de aumentar. A titular da 5ª Coordenadoria Regional de Saúde, Claudia Daniel, diz que o Estado negocia a abertura de mais vagas em outras cidades, mas que existe uma limitação:
— A nossa estrutura foi ampliada até uma capacidade quase esgotada.