A população de Farroupilha e região poderia ter contado com mais 10 leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) durante a pandemia de coronavírus, caso o governo do Estado tivesse utilizado a verba de R$ 1,7 milhão destinada para o Hospital São Carlos. A quantia foi doada no final de março por meio do Ministério Público Estadual, com o objetivo de abrir as vagas e oferecer o suporte estrutural neste momento delicado.
Passados mais de oito meses, apenas respiradores e monitores foram enviados. O esperado era o encaminhamento dos chamados kits de UTI, que contemplam todos os equipamentos necessários para a montagem de um leito de tratamento intensivo para um paciente com covid-19. O impasse está em processos licitatórios, segundo a superintendente do hospital, Janete Toigo.
— Até hoje, vieram 10 ventiladores e 10 monitores. O propósito do MP era de que fossem comprados leitos de UTI completos. Camas e bombas de infusão não vieram. Parece que as camas estão em processo de licitação. As bombas podem ser compradas sem licitação, mas precisaríamos no mínimo de 50. O recurso que nos foi doado seria suficiente até para mais itens, mas está parado no Estado — explica Janete.
O valor foi destinado a hospitais do Rio Grande do Sul por conta de um convênio entre Governo do Estado e Ministério Público Estadual, que disponibilizou o repasse oriundo do Fundo Reconstituição de Bens Lesados (FRBL). As quantias do fundo são destinadas a ressarcir a comunidade por meio de valores obtidos por indenizações e acordos judiciais. Além de Farroupilha, foram contemplados hospitais em Uruguaiana, Rosário do Sul e Santo Ângelo.
Inicialmente, a informação repassada pelo governo é de que não se encontravam interessados nos processos de licitação. Na manhã desta quarta-feira (9), a reportagem entrou em contato com o governo do Estado por meio de sua assessoria de imprensa. Foi solicitado que os questionamentos fossem enviados por e-mail, mas até o início desta tarde não obtivemos as respostas.
Recentemente, o Hospital São Carlos abriu a UTI Covid com recursos doados pela comunidade e por recursos federais. Desta forma, a instituição de saúde conta com 10 leitos de UTI exclusivos para coronavírus, além de outros 10 que atendem todas as demandas.
— Como achamos que não entraremos o ano (2021) de forma muito positiva, poderá ser necessário abrir mais leitos. Mas, agora, o fator principal é o humano. Médicos e enfermeiros que estão em falta no mercado. Em virtude de todos os hospitais terem aumentado os leitos de UTI, os profissionais foram realocados — diz a superintendente.
Lotação
O Hospital São Carlos vivencia um cenário atípico nas últimas semanas. Após passar o ano com a ocupação de leitos controlada, a segunda quinzena de novembro e as primeiras semanas de dezembro apresentaram picos de lotação. Nesta quarta-feira (9), a taxa atinge 95%. Conforme Janete, a ocupação chegou aos 100% em diversas vezes nos últimos 15 dias.