Caxias do Sul, assim como outras cidades do Estado, enfrenta dificuldade em encontrar médicos, enfermeiros, técnicos em enfermagem e profissionais de outras áreas da saúde, com experiência em intensivismo, para atuar nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), cada dia mais cheias.
Alguns hospitais do município estão com déficit para atender os leitos existentes, outros para contratar equipes para abertura de novos leitos, como no caso do Hospital Geral (HG), que ampliará em mais cinco o número de vagas, segundo anunciado pelo secretário municipal de Saúde, Jorge Olavo Hahn Castro, em entrevista ao programa Gaucha Hoje, da Gaúcha Serra, nesta segunda-feira (14). Com isso, o HG passará dos atuais 36 para 46 leitos de UTI pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A prefeitura vai investir R$ 4 mil por diária para custear cada leito.
– Estamos no pior cenário da pandemia e sabemos que com as festas de final de ano janeiro tende a ser ainda pior – disse o gestor público por meio de nota.
O diretor técnico do Hospital Geral (HG), Alexandre Avino, diz que a dificuldade é montar e manter as equipes médicas com o aumento da oferta de leitos:
– Não tenho o número exato de médicos necessários atualmente. As unidades estão atendidas, porém os médicos estão fazendo carga horária maior. O ideal seria haver maior rodízio e, consequentemente, intervalos e descanso.
Uma portaria da Associação de Medicina Intensiva Brasileira recomenda um médico, um fisioterapeuta e um enfermeiro para cada 10 leitos de UTI, e um técnico para cada dois pacientes críticos, além de um funcionário para limpeza, por turno. A infectologista do HG, Viviane Buffon, reitera que a maior demanda é por médicos.
– Médicos há uma carência grande. Intensivistas já não temos disponíveis e outros médicos que trabalhem em pronto-socorro e tenham alguma experiência em cuidado de pacientes críticos estão sendo recrutados. Devido à ampliação no número de leitos de forma muito rápida (durante a pandemia), chegamos praticamente, ao limite de profissionais disponíveis para este trabalho. Há também carência de materiais como ventiladores, monitores e outros equipamentos necessários para manter os pacientes em monitorização – disse a médica, referindo-se à abertura dos novos leitos.
O Hospital do Círculo tem déficit de pessoal para os 22 leitos de UTI adulto que já existem. Segundo a diretora da instituição, Isabel Bertuol, faltam 30 profissionais, entre médicos, enfermeiros e técnicos em enfermagem:
– Não estamos tendo nem profissionais para atender os atuais leitos. As dificuldades são inúmeras.
No Hospital Pompéia, a superintendente Lara Vieira, diz que estão "com toda equipe muito exigida em função desse crescente contágio na população":
– Atualmente não conseguimos aumentar o número de leitos disponíveis, não só pela infraestrutura, mas sobretudo por escassez de recursos humanos. Médicos, enfermeiros e técnicos, equipe de saúde como um todo.
O Hospital Saúde não respondeu ao contato da reportagem nesta tarde.
Conforme dados parciais da Secretaria Municipal da Saúde, de 29 de novembro a 5 de dezembro, 110 pessoas internaram por síndrome respiratória aguda grave (SRAG) nos hospitais da cidade. No mesmo período de 2019, Caxias registrou apenas uma internação. O auge, neste ano, ocorreu no inverno, de 19 a 25 de julho, quando 116 pessoas foram hospitalizadas por SRAG, sendo que no ano passado foram apenas 10.
Rede privada está contratando
O Hospital Unimed, que iniciou ampliação de leitos de UTI no último sábado, também está contratando profissionais. São 49 vagas para enfermeiros, técnicos em enfermagem, coletadores laboratoriais e bioquímicos. No sábado, o hospital abriu os primeiros leitos e, ontem, já estava com os 10 previstos operando. Os ventiladores mecânicos foram cedidos pelo município.
Para operar a nova unidade de forma imediata, foi preciso remanejar profissionais internamente.
– Não podemos dizer que está sendo fácil. Estamos sobrecarregados e com muito medo de contaminar os nossos familiares e a nós mesmos. Porém, estamos trabalhando com muito amor, atendendo cada paciente como se fosse nosso próprio familiar – disse Débora Pagno Simonetto, 31 anos, enfermeira do Centro Cirúrgico deslocada para atuar na UTI com pacientes com covid-19 da Unimed.
– Nesses nove meses de pandemia aprendemos no decorrer dos dias que sozinhos não somos nada e que toda e qualquer ajuda é essencial. Aprendemos também a sorrir com os olhos e que a vida é tão linda e que precisa ser cuidada. Estamos cansados, sobrecarregados, mas estamos fazendo nosso melhor. Cuide-se e previna-se. A vida é uma só – declarou Mariana Vicente, 30 anos, técnica de enfermagem também do Centro Cirúrgico e que foi deslocada para UTI com pacientes covid da Unimed.
Apesar da exaustão, os profissionais se dizem preparados para seguir atendendo.
– Saímos de duas UTIs para cinco UTIs. Estamos trabalhando desde o início do ano, bem sobrecarregados, mas preparados. Treinamos muito para que, se atingíssemos como ocorreu na Itália, estivéssemos preparados para esse momento. Estamos aqui firmes e fortes para seguir atendendo a todos os pacientes que chegarem. Estamos muito preocupados com tudo que está acontecendo, pedindo para o pessoal tomar todos os cuidados, mas para os que chegarem graves vamos dar o nosso melhor – relatou Paulo Finimundi, 44 anos, fisioterapeuta coordenador atuante nas UTIs Unimed que passaram a ter 45 leitos de UTI adulto.
O Hospital Virvi Ramos deve abrir mais oito leitos
Depois de enfrentar dias com os leitos particulares da UTI lotada, o Hospital Virvi Ramos de Caxias também decidiu abrir mais vagas. Ainda não há previsão de quantos dos oitos leitos que devem ser abertos serão para pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) e quantos para particulares. O hospital tem 17 e nove, respectivamente. Também não se sabe quando começarão a operar. A data vai depender justamente da contratação de profissionais. Da mesma forma que outras instituições da cidade, o Virvi Ramos tem dificuldade em preencher o quadro. São necessários 20 técnicos em enfermagem, quatro enfermeiros, dois fisioterapeutas e um médico intensivista.
– Estamos atravessando um momento extremamente complicado na saúde. Os casos vêm aumentando progressivamente, nas últimas semanas, casos mais graves têm vindo. As UTIs estão lotadas as enfermarias também lotando. Os profissionais da saúde exaustos porque vêm em uma rotina pesada há nove meses. Temos tido dificuldade de contratar profissionais para agregar novos colegas ao quadro das equipes. Pedimos para que a população nos ajude, colabore conosco, se cuidando, mantendo as medidas de distanciamento social, de segurança - uso de máscara e higiene das mãos - para que nós possamos continuar atendendo a todos da melhor maneira possível – resumiu Nayane Brancher, médica da equipe clínica e UTI.
Enquanto novos contratados não chegam, os que estão na chamada linha de frente do atendimento relatam cansaço extremo, ao mesmo tempo força para continuar.
– Nosso trabalho tem sido bem desgastante, porque estamos com setores bem cheios, mas também recompensador, quando o paciente sai da UTI, tem alta, estamos conseguindo com que ele vá para casa com melhor qualidade de vida – ponderou o fisioterapeuta, Michelângelo da Rosa.
A enfermeira Thaís Esteves coordena o hospital de campanha e a CTI do Virvi desde o começo da pandemia. Ela diz que o momento requer atenção maior dos profissionais:
– Está sendo bastante cansativo, porque também tem colegas se afastando, e isso deixa o serviço mais pesado. Isso requer um cuidado maior até para os que ficam aqui não adoecerem também mentalmente e fisicamente.