A rede de saúde pública continua enfrentando um velho problema em Caxias do Sul: parte dos pacientes confirma que irá comparecer ao atendimento pré-agendado de consultas especializadas, mas depois não aparece. O descaso prejudica outras pessoas, que estão há meses na espera por atendimento e poderiam ter sido encaixadas no horário vago. Além disso, o descompromisso mobiliza à toa equipes inteiras de profissionais.
Essa realidade abrangeu uma média de 22% a 25% de consultas no ano passado em Caxias do Sul e não deverá ser diferente neste ano, segundo a Secretaria Municipal da Saúde (SMS). Mesmo sem dados fechados, é possível sinalizar que o usuário segue desrespeitando os dias de consultas marcadas em 2020.
Uma amostra disso pode ser constatada no último sábado (5). Criado para diminuir a espera por atendimento especializado, o programa Fila Zero da prefeitura promoveu a quarta edição de um mutirão para reduzir a longa de lista de pacientes. Somente neste dia, 21,1% das pessoas não compareceram. De um total de 147 pacientes com horário marcado, 31 não foram e sequer avisaram que não estariam no mutirão conforme havia sido combinado anteriormente. A área de gastrenterologia contabilizou 11 faltas e 36 presenças. O setor foi o que mais registrou abstenção, seguido de ortopedia, em que nove dos 38 pacientes agendados faltaram. As outras edições, todas neste ano, também registraram entre 25 e 45 pessoas que não compareceram.
O problema é conhecido dentro da pasta da saúde, que tenta evitar as ausências telefonando para cada interessado dias antes da consulta.
— Não sabemos o motivo. As consultas são agendadas em torno de 10 dias antes de acontecer. A pessoa diz que vai e chega na hora e não vai. Se informasse que não poderia ir, seria cancelada e outro seria encaixado — lamenta a diretora do Departamento de Avaliação, Controle, Regulação e Auditoria (Dacra) da SMS, Marguit Meneguzzi.
Os motivos, conforme Marguit, são desconhecidos de forma oficial pela Draca. O setor de exames também enfrenta o mesmo problema, ainda que menor do que na área de consultas. No caso de sábado, dois de 27 exames agendados não foram realizados porque os pacientes não apareceram.
A pessoa que perde o dia da consulta terá que refazer o processo novamente. Ele precisará marcar um atendimento com clínico geral na Unidade Básica de Saúde (UBS) para então, se o médico considerar necessário, ser encaminhado novamente para a espera da consulta com um especialista. A demora entre a consulta com o clínico geral e a consulta especializada depende da demanda momentânea, mas após a ligação com a confirmação da data, o prazo não ultrapassa 15 dias, conforme Marguit.
— Alguns dizem que é porque estão há muito tempo esperando, mas entre o aviso por telefone e a consulta, o máximo de intervalo de tempo são 15 dias — explica.
Na prática, o usuário pode esperar até mais de um mês por uma consulta, mas não após o recebimento da ligação, segundo Marguit.
Consultas em UBSs
A realidade em unidades básicas de saúde nos bairros é similar. Em contato com duas das maiores no município, a reportagem apurou que é comum o paciente faltar também na consulta inicial. Neste caso, não há ligação para avisar da data, mas o próprio usuário precisa ir ao local presencialmente quando precisar marcar atendimento. A exceção é para idosos. O grupo com mais de 60 anos pode agendar via telefone.
Informações de servidores são de que os moradores alegam ter perdido o ônibus ou ter tido problemas familiares para o não comparecimento na maioria das ocasiões. Em alguns casos os relatos são de que a causa para o atendimento não era grave e que, por isso, a necessidade foi descartada no decorrer do processo. A orientação ao usuário que desiste da consulta é avisar com antecedência na UBS.