Às 5h30min, seis vezes por semana, Valdomiro Adair Alves, 44 anos, sai de sua casa, localizada no bairro Cidade Nova, com destino à Companhia de Desenvolvimento de Caxias do Sul (Codeca), no bairro Centenário, distante cerca de 11 km, para iniciar a jornada de trabalho no setor de capina. Ele inicia às 6h30min e encerra seis horas mais tarde. Detento do regime semiaberto, Alves encontrou na Codeca motivação para não desistir depois de ter entregue mais de 100 currículos em empresas da cidade sem surtir efeito.
Alves será um dos integrantes da nova turma de cursos profissionalizantes que são fruto de uma parceria entre a companhia e a Vara de Execuções Criminais, com apoio inicial do Sindicato da Indústria da Construção Civil de Caxias (Sinduscon). O lançamento da proposta foi realizado na manhã desta quarta-feira (25), no auditório da Codeca em um ato simbólico. Alves também estava. Será um dos primeiros a ingressar na nova oportunidade.
— É difícil alguém que abras as portas. Estamos trabalhando aqui (na Codeca) e somos bem tratados. Mas a ideia é, futuramente, podermos ter, talvez, um emprego melhor, ganhar um pouco mais e sustentar a família — disse à reportagem.
A primeira turma terá vaga para 50 pessoas e deverá começar ainda neste ano. O diretor administrativo da Codeca, Luis Felipe Burtet, explica que todos os reeducandos (detentos) que trabalham na Codeca - a possibilidade existe por meio de um convênio com a Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe) - serão obrigados a participar de no mínimo um curso ofertado. Cerca de 20 pessoas integram o quadro de colaboradores que cumprem algum regime prisional.
— Estamos expandindo as contratações também para o regime aberto. Aconteceram casos em que alguns não queriam fazer a progressão de regime para poder continuar trabalhando na companhia. Todos serão obrigados a fazer, no mínimo, um curso e, infelizmente, os que não quiserem aderir, terão que ser substituídos — diz.
Conforme Burtet, o grupo em treinamento poderá atuar em serviços de manutenção que a Codeca já realiza em espaços como parques, praças, canis e cemitérios. Os futuros profissionais também poderão trabalhar na pintura e consertos de prédios públicos desde que aconteça um convênio. Neste caso, até escolas poderão procurar a Codeca para contratação dos serviços. De acordo com Burtet, não haverá custos para efetivar a iniciativa.
O Sinduscon ofertará cursos de desenho arquitetônico, noções de projeto estrutural, alvenaria e pintura. No evento, o presidente do sindicato, Rodrigo Postiglione, afirmou que o setor precisa de mão-de-obra e que há deficiência de profissionais capacitados na construção civil.
— Daremos apoio à formação do pessoal. Levaremos eles ao ambiente onde será feita a manutenção e nossos técnicos passarão as instruções. Nosso ganho será a questão social — disse.
A juíza da Vara de Execução Criminal Regional em Caxias do Sul, Joseline de Vargas, considerou que o sistema prisional não possui característica de reabilitação, o que faz a iniciativa auxiliar na diminuição de casos de reincidência.
— A parceria agrega para que o apenado consiga se capacitar para depois exercer uma profissão e consiga seu sustento não reincidindo no crime. Temos rotatividade para essa necessidade. Sempre há apenados em progressão de regime. Isso contribui para que consigamos evitar que eles voltem a cometer novos delitos e ajuda a sociedade em geral. Também temos interesse que outras entidades sejam parcerias da Vara Criminal — diz
A Codeca estuda uma segunda etapa do projeto, com ofertas de cursos na área de mecânica.