A bordo do Chevette 1979, de motor 1.4 — já com a potência reduzida por falta de reparos — o agricultor Luiz Banaletti pretendia chegar até o CTG e festejar a Semana Farroupilha de 2019. No meio do caminho entre o bairro Vila Nova, em Bento Gonçalves, e o distrito de Barracão, no interior do município, o idoso, então com 71 anos de idade, interrompeu a viagem. No alto de uma árvore, avistou um gavião espreitando a mata. Preocupado com o destino do animal que viria a ser atacado, irrompeu por entre os arbustos. E teve uma surpresa:
— Achei que era um preá, mas ouvi o barulhinho piu, piu, piu. Era um ganso, coisinha mais linda. Pequenininho, parecia que recém tinha saído do ovo. Procurei pai e mãe, mas não achei nada, então levei pra casa — relembra o trabalhador rural aposentado.
Para manter a ave protegida, ele diz ter retirado a camisa que usava, enrolado o filhote e acomodado com cuidado, no banco do carona. A ida ao piquete foi cancelada, e regressou à residência para apresentar o novo habitante à esposa e ao filho mais velho.
Acreditando ser um macho, deu inicialmente o nome de Patolino à ave, homenagem ao personagem da Looney Tunes.
— Eu vi que não era um macho quando colocou ovo, aí mudei pra Patolina — diz, entre risos, bem — humorado.
A amizade incomum entre o homem e a gansa pode ser vista nas ruas do município da Serra, mais de um ano após o resgate. Banaletti e Patolina passeiam na Maria Fumaça, nas calçadas do Centro de Bento Gonçalves, e até na Festa Nacional do Vinho (Fenavinho) ela já foi vista, ao lado do tutor. Cidades vizinhas, como Carlos Barbosa, Cotiporã e Farroupilha — onde conheceu o Santuário de Caravaggio — também estão no roteiro percorrido.
Ao encontrar a dupla, o público elogia — e o agricultor enfrenta a tietagem.
— Um caminhoneiro uma vez viu a Patolina do meu lado e não acreditou. Colocou em cima do caminhão e disse que ia levar para o Amapá. Levou a foto só — brinca.
As ordens de andar e interromper as caminhadas são seguidas pela gansa adestrada, “como se fosse uma criança” e compara: os dois netos obedecem menos que a mais jovem integrante da família.
A alegria da ave acolhida preencheu um espaço vazio. Há anos, relembra, a casa estava sem animais de estimação. Dois gatos e quatro cães que cuidavam da propriedade foram envenenados por algum desafeto dos animais, situação que o atordoou a ponto de desistir da adoção de novos pets.
— O mau-trato que o outro te traz é a dor que vai ficar no teu coração — define, sobre a perda dos antigos animais.
Hoje, Patolina vive em um terreno ao lado de Chico e Chica, gansos dados de presente por um dos filhos. Dispensou inclusive o cesto em que foi cuidada antes de deixar de ser filhote. O aposentado, simpático e acolhedor com a reportagem, responde apenas uma pergunta com desagravo: sobre planos de abater o animal.
— Fazer um churrasco? Comer ela? Tá brincando, meu? Essa aí só depois da minha morte — garante, voltando às gargalhadas ao compreender que a proposta não passava de uma provocação.
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