Como um protetor facial, mas que deixa olhos e testa de fora, as chamadas "máscaras sociais" vêm se tornando cada mais populares com a chegada dos dias quentes. Elas se assemelham ao face shield, são produzidas com material transparente, no entanto, diferente do equipamento, não cobrem o rosto todo. Mas será que isso as torna eficaz contra o coronavírus? A resposta, de acordo com especialistas da área da virologia e da infectologia, é não.
O uso de máscaras alternativas também pode estar sendo mais comum em função de que a máscara cirúrgica descartável ou de tecido, os tipos mais comuns e também os mais indicados contra o coronavírus, trazem algumas limitações. Elas podem ser desconfortáveis, especialmente quando o clima esquenta e é preciso passar o dia com a proteção abafando o rosto, e também dificultam a vida de pessoas com deficiência auditiva, com transtornos do espectro autista e até mesmo crianças em fase de alfabetização, já que todos dependem da visualização da boca para se comunicar. A comunicação (ou a falta dela) também é bandeira levantada por profissionais que precisam usar a voz no trabalho e encontram dificuldades em projetá-la com máscaras grudadas no rosto, de maneira clara e audível.
Há cerca de dois meses, um caso em Curitiba ilustrou um desses dilemas. O casal Alisson Fernandes dos Santos e Aline Gonçalves dos Santos foi barrado pelo segurança na entrada de um supermercado. Ambos usavam protetores transparentes do nariz para baixo. Alisson é surdo e usava o equipamento porque o modelo não compromete a leitura labial. Na época, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) reconheceu a importância de máscaras inclusivas, mas reforçou que elas devem ser fabricadas de forma a se ajustarem ao rosto, sem espaços nas bordas inferior, superior ou laterais. Segundo o órgão, não existem normas técnicas de fabricação e eficiência para o modelo de máscaras inclusivas.
Nesse caso, o mais seguro é adotar as recomendações que valem para as máscaras de tecido: bem fechadas e ajustadas ao rosto, mas com transparências que permitem a leitura labial. Fernando Spilki, presidente da Sociedade Brasileira de Virologia (SBV), indica a fabricação de equipamentos como o desenvolvido por uma estudante de Educação de Surdos da Eastern Kentucky University ou a Clear Mask. Em Caxias do Sul, uma estilista criou uma versão inclusiva, que veda bem as laterais do rosto e o queixo e que também está valendo.
Por que os protetores transparentes não protegem tanto quanto a máscara?
Os protetores faciais transparentes, também chamados de face shields, costumam ser usados por profissionais da saúde por cima da máscara cirúrgica ou da N.95 em situações de alto risco de contágio. É o caso das enfermarias, ambientes fechados e onde ficam vários pacientes com confirmação ou suspeita de covid-19. Por meio de tosses e espirros, alguns deles estão sujeitos a espalhar no ar as partículas contaminadas. Daí a importância de uma barreira extra para conter estes respingos.
Segundo Spilki, o escudo consegue bloquear perdigotos (gotículas de saliva) que se dirigem diretamente ao rosto, mas não segura as partículas menores que se espalham pelo ar e podem chegar ao rosto por baixo ou pelas laterais da proteção. Isso porque o vírus pode estar em partículas finas suspensas, que vêm de diferentes direções e serão aspiradas caso o indivíduo não esteja de máscara.
Por isso, a proteção efetiva é a máscara cirúrgica ou, então, a de tecido, que pode ser confeccionada em casa desde que seguidas as recomendação do Ministério da Saúde. Ela deve ter pelo menos duas camadas de pano, como algodão, tricoline ou TNT, e seu uso deve ser individual. Outro fator importante está no ajuste certo ao rosto: a máscara precisa necessariamente cobrir toda a extensão da boca e do nariz, não pode ficar frouxa.
— O ideal é que as máscaras sempre cubram o contorno do rosto de maneira aproximada ao que fazem as máscaras cirúrgicas convencionais — complementa Spilki.
Se manter um contorno bem ajustado ao rosto já é um problema com os face shields, que vão até a testa, imagine com os equipamentos que se estendem apenas até o nariz. Para a infectologista Viviane Buffon, a proposta da máscara social é inferior aos face shields convencionais, porque deixa os olhos de fora. Segundo a especialista, por mais que proteja contra secreções, a máscara social não é eficaz para barrar a entrada de partículas menores pelo ar, uma vez que suas laterais são abertas.
— Ela é um protetor facial, mas não pode ser considerada uma máscara segura contra a covid-19 — afirma a médica.
O Ministério da Saúde continua recomendando o uso de máscaras de tecido pela população. Segundo as diretrizes federais, as proteções de plástico devem ser usadas por profissionais da saúde que atendem casos suspeitos ou confirmados de covid-19, somadas a outros equipamentos. Além do face shield ou óculos de proteção, o conjunto de EPI's compreende gorro, avental impermeável de mangas longas, luvas específicas e, claro, a máscara — a cirúrgica ou a de proteção respiratória, como a N.95.
Os tipos de máscara
:: De tecido: em Caxias, foi a recomendada pela prefeitura desde decreto publicado em 30 de abril, por ser a mais segura no uso pela população em geral. Pode ser reutilizada e fabricada em casa, mas sob algumas orientações do Ministério da Saúde.
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:: Cirúrgica: a mais procurada nas farmácias, oferece menos proteção do que a N.95, mas serve para atendimentos médicos comuns. Reduz a passagem de partículas maiores do que micropartículas.
:: N.95 ou PFF2: é o tipo mais recomendado para quem convive diretamente com o vírus, como na coleta de testes de pacientes com suspeita. Possui uma espécie de filtro, que bloqueia micropartículas e pequenos micro-organismos. Não é indicada para a população em geral, especialmente para infectados, uma vez que reduz a ventilação.