O noivo Leonardo Henrique Quinebre Alves, 26 anos, aguardava ansioso e sorridente, enquanto a noiva Liliane Stamm, 26, caminhava pelo tradicional tapete vermelho. Elegante e graciosa, em um vestido branco estilo princesa, com corpete, e transpassado nas costas, de braços dados com o pai, ela seguiu em direção ao altar. O clima era agradável em Lagoa Vermelha naquele 20 de setembro de 2020 e a emoção tomou conta dos noivos e dos convidados.
O casamento aconteceu de acordo com o planejado e seguiu o padrão de uma cerimônia tradicional ao ar livre, exceto por alguns detalhes marcantes: os 50 convidados assistiram a cerimônia sem descer dos carros, não havia padrinhos e nem damas ou pajens para levar as alianças. O modelo drive-in foi a opção encontrada pelo casal para celebrar o amor perante Deus, familiares e amigos, em meio à pandemia de coronavírus. A união de Leonardo e Liliane entra para história como o primeiro casamento neste modelo celebrado no RS.
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O "novo normal" para casamentos
Ao chegar ao estacionamento da Associação Atlética Banco do Brasil (AABB) de Lagoa Vermelha, os convidados recebiam um kit com álcool gel e máscara branca, personalizada, com o desenho de alianças e as iniciais do casal. Eles foram direcionados para estacionar na diagonal, formando duas fileiras, à direita e à esquerda do tapete vermelho, para que os noivos passassem no meio. No altar, os noivos, os pais deles e o pastar que celebrou o amor do casal. Com a pandemia, tudo precisou ser adaptado: os convidados estavam vestidos à rigor, de máscaras dentro dos carros e interagiram com buzinaços e pisca alerta.
"O casamento foi muito melhor do que sonhei em toda a minha vida", conta noiva
Leonardo e Liliane se conheceram há um ano, em um grupo de estudos de um aplicativo de mensagens. Ele é natural do Mato Grosso, mas mora no RS desde criança e ela nasceu no Amazonas, mas morou em diversos estados porque é filha de militar. Quando começaram a se falar ele estava no RS e ela no Mato Grosso. Servidores públicos, eles se aproximaram e depois de alguns meses marcaram o primeiro encontro. O casal se viu pela primeira vez em Porto Alegre:
— Decidimos fazer um propósito de seis meses com Deus, para saber se essa era a vontade Dele para as nossas vidas, pois um dos dois teria que "abrir mão" de bastante coisa. A primeira passagem bíblica que lemos juntos foi Eclesiastes 4:9-12, a qual menciona que é melhor serem dois do que um. Os meses do propósito foram passando e nós fomos tendo certeza de que era o que queríamos para nossas vidas — conta Liliane.
Leonardo ressalta que a história dos dois é marcada pela fé.
— Eu estava conhecendo Cristo, me batizei, e a Lili já tinha mais envolvimento com a fé. Nós decidimos esperar pelo casamento, não queríamos que fosse apenas uma aventura, e pedimos a Deus que nos respondesse se essa era a vontade dele: que ficássemos juntos. De uma forma ou de outra ele nos respondeu que sim, que essa era a vontade dele.
Quando passaram os seis meses, mesmo tendo certeza de que queriam casar, eles ainda não sabiam como iriam organizar o casamento em meio à pandemia.
— Novamente oramos e decidimos que a data seria dia 20 de setembro, um dia antes do meu aniversário e dois dias depois do batismo do Leo na Igreja Adventista. No início de junho, Deus mudou a rota das nossas vidas, eu me desliguei do meu cargo no MT, como assessora de juiz e saí de Barra do Garças (MT) em 15 de junho e cheguei em Lagoa Vermelha em 17 de junho — afirma ela.
Foi quando começou a procura por profissionais que pudessem realizar o sonho do casal. Os dois ouviram muitos nãos no caminho.
— Nós estávamos muito certos da decisão de casar e tínhamos plena convicção de que Deus estava cuidando de todas as coisas. Não havíamos sequer cogitado modelo drive-in. Queríamos algo bem tradicional e simples, mas abraçamos a ideia e ficamos superempolgados com tudo — contam os dois.
Apesar de toda ansiedade e dos requisitos a respeito do uso de máscaras, álcool gel e do distanciamento seguro entre os carros, o tão esperado "sim" superou qualquer expectativa:
— O casamento foi muito melhor do que sonhei em toda a minha vida. Era um misto de emoções, muita felicidade pela concretização desse sonho de um jeito tão diferente e tão incrível. Embora nessa pandemia as pessoas estejam ficando mais deprimidas e com vontade de desistir, nós optamos por confiar em Deus e sonhar cada vez mais alto. Deus nos surpreendeu. Oramos muito pedindo para viver o extraordinário de Deus e agora estamos experimentando tudo isso — emociona-se Liliane.
Leonardo concorda com a esposa:
— O dia estava lindo. Recebemos o carinho de inúmeras pessoas e sentimos o agir de Deus. Conseguimos fazer a cerimônia com todas as pessoas que queríamos ao nosso lado. Ficou tudo perfeito. Um casamento diferente em meio a uma pandemia, uma novidade, mas com o mesmo clima de união, de família, de ansiedade e de amor entre nós e a família. Não me arrependo nenhum um pouco .
Ele recorda ainda que a previsão para o dia 20 era de chuva:
— Recebemos uma resposta de Deus e confiamos nele. Marcava chuva para o dia do casamento, e se chovesse não teria como realizar a cerimônia ao ar livre, e mesmo com a previsão que chovesse convidamos os amigos dez dias antes do casamento. Como a Lili sempre fala: Deus não coloca em nossos corações um sonho que ele não possa realizar, e foi perfeito.
O casamento foi transmitido por um telão, pelo aplicativo Zoom e pelo YouTube.
"Foi a minha estreia também", conta designer de evento
Para Giseli Inês Candeia de Moraes, designer de eventos, responsável pela organização da cerimônia, o casamento drive-in também foi uma novidade. Ela conta que o momento foi desafiador e ao mesmo tempo reconfortante porque sentiu mesmo à distância a emoção e alegria dos noivos e dos convidados:
— Fui procurada pela noiva e expliquei que os casamentos no modelo que conhecemos estão suspensos. Ela perguntou quais eram as opções e apresentei: o drive-in, que vi que foi feito em Curitiba ou elopment wedding, que é um casamento só com os noivos, o celebrante e o fotógrafo. Ela conversou com o noivo eles escolheram o drive-in eu disse: "vamos nessa, vamos fazer acontecer", e ela confiou em mim. Foi a minha estreia nesse modelo, e a cerimônia foi belíssima como todo o casamento.
Ela conta como organizou o casamento.
— Fiz um projeto para a celebração ao ar livre. O limite era quatro pessoas por carro, e foram cerca de 50 convidados. Foi feita uma passarela mais elevada para eles caminharem e os convidados ficaram de máscaras dentro dos carros. Eles desceram por carro, um grupo por vez e com as máscaras para tirar fotos. Receberam um kit com doces e salgados e lembrancinhas. Tudo estava embalado — explica.
A profissional ressalta que o casamento é um dos momentos mais importantes da história do casal, um marco:
— É uma opção para não adiar o sonho de casar. Eles confiaram no nosso trabalho e o resultado foi a celebração do amor. Claro que foi diferente porque estamos acostumados a recepcionar pessoas e ali estávamos organizando carros. Mesmo assim, com a nossa realidade, os noivos estavam radiantes e teve toda a magia de um casamento, a conexão e a emoção da união entre duas pessoas.
Dos 50 convidados, 20 ficaram para o jantar. Eles foram recepcionados no salão, que tem capacidade para receber 200 pessoas. As medidas sanitárias foram respeitadas, como o uso de álcool gel, distanciamento físico, delimitação no chão, quatro pessoas por mesa, revezamento para serem servidas. Também não foram servidos doces, apenas bolo que foi entregue a cada convidado, e depois do jantar não houve festa.
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