A comunidade de Linha Alcântara, no interior de Bento Gonçalves, tenta se recuperar da destruição provocada pela enchente do Rio das Antas na semana passada. Oito dias após uma das maiores cheias da região, os moradores ainda limpam as casas e convivem com o medo de novos temporais que possam fazer o rio subir mais uma vez. Na quarta-feira (15), a Defesa Civil emitiu um alerta para 17 municípios do RS em função da previsão de chuvas, dentre eles São Sebastião do Caí e Santa Tereza. Foi lá que uma casa foi arrancada pela força da água na semana passada.
— Ouvi um estralo, era 13h daquela quarta-feira. Eu corri gritando para o meu marido "Aldo, Aldo, a casa do falecido Luís está sendo arrastada" — conta Eva Maria Borgion, 68 anos, que mora ao lado da residência levada, ao lembrar da semana passada.
A moradia, que fica bem na margem do Rio das Antas, bem próximo da ponte que liga Bento Gonçalves a Cotiporã, tinha apenas móveis no momento da enchente.
— Os filhos do dono tinham levado tudo para o andar superior, mas não adiantou porque a água levou tudo. Destruiu a casa — diz o vizinho Aldo Borgion, 74.
A chuva também fez estragos na casa de Eva e Borgion, a água invadiu o porão. O casal teme por novas enchentes:
— Foi horrível. Ainda bem que foi de dia, à noite seria pior. Temos medo, mas Deus sabe que estamos aqui.
O rio subiu tanto na semana passada que derrubou árvores e arrastou parte das casas, deixando o asfalto embaixo d' água. Na estrada, colchões, camas, móveis e electrodomésticos foram descartados. Antônio de Oliveira, 62, mora há quatro anos na beira do rio e ficou espantado com a chuvarada. A casa ao lado da deles ficou completamente embaixo d' água também. Ele e a esposa, Lurdes de Oliveira, 59, ainda tentavam recuperar nessa quinta-feira (16) o que sobrou em meio a sujeira:
— Essa foi a primeira vez que vi um estrago assim. Perdemos tudo. Nunca vi tanta violência assim da água. Foi muito rápido e forte. A água entrou em casa e foi levando tudo. A geladeira foi arrastada. Íamos atrás para segurar, mas era muito forte. A natureza está se vingando.
Do outro lado da ponte
Em Cotiporã, Nair Storti 49, estava perto de casa no momento do temporal na semana passada e assistiu a chuva sem poder fazer nada. A água carregou tudo o que ela construiu. Uma das paredes casa de Nair desabou.
— Estávamos no galpão e o rio entrou pelos dois lados do terreno. Ficamos ilhados. Não faço mais casa aqui. É muito triste ver tudo desabando e a água levando tudo embora sem poder fazer nada — lamenta.
Mas, em meio aos estragos, Nair e a família conseguiram resgatar dois cães que por pouco não morreram afogados. Eles viraram mascotes:
— Eles foram abandonados e quase morreram afogados. Pegamos um caiaque para resgatar os dois, a Tuca e o Branco.
Maria Helena Dallavalle, 69, mora na parte mais alta da região que foi afetada pela chuva; no entanto, também sente medo. Ela está há uma semana sem energia elétrica.
— Mesmo no alto tive medo. Parecia que o rio estava bem perto da nossa casa. Foi horrível — lembra.