A Associação dos Municípios da Encosta Superior do Nordeste (Amesne) contestou novamente a decisão do governo do Estado em manter a classificação de bandeiras da Serra em vermelha. Ao Pioneiro, o presidente da Amesne, José Carlos Breda, explicou os motivos do posicionamento contrário. Confira:
Pioneiro: Qual foi a defesa no recurso?
José Carlos Breda: Colocamos cinco ou seis itens. Demonstramos que mesmo com aumento de casos, há capacidade da Serra em permanecer na bandeira laranja, pois o número de leitos disponíveis não mudou muito, mas 12 contaminados são de outras regiões e estão aqui e contando na nossa conta.
A ocupação está ao redor dos 78%. Quando conversamos há duas semanas o senhor exaltou que a região estava na média dos 64%, na ocasião, abaixo dos 73% do Estado. Mas agora a região inclusive passou aquele índice do Estado. O senhor não acredita que isso sinalize gravidade equivalente à bandeira vermelha?
É que estão colocando pacientes de outras regiões. E 12 pacientes num universo de 160, 170, isso dá um percentual significativo, impacta bastante. Estamos pedindo para desconsiderar esses do cálculo. Agora, o que está me parecendo, mas isso é uma opinião pessoal, é que está chegando momento de se pensar o Estado como um todo. Por região já está se mostrando insuficiente, a região metropolitana está esgotando capacidade de leitos e aí nossa região começa a receber (os pacientes). Não sei se o governo do Estado não precisa olhar o estado como um todo e aplicar o distanciamento igual para todos.
O senhor reconhece então uma bandeira vermelha geral para todo o Estado como aceitável?
Eu não estou dizendo que bandeira vermelha geral para todo o Estado, pois não tenho convicção de que a bandeira vermelha vai ajudar, mas acredito que o critério pode ser adotado para todo o Estado. Esse critério por região talvez não funcione mais, talvez esteja chegando momento que o Estado precise enfrentar unido, no mesmo alinhamento. Porque começa a gerar quase que uma disputa porque tal região está melhor... outra está pior...
E um lockdown para o Estado inteiro, poderia ajudar?
Eu não diria isso, porque... eu não sei se é necessário, mas, por exemplo, a capital já está se mostrando quase que necessário. Mas se olhar o Estado como um todo não. Acho que um lockdown em todo o Estado não, mas não sou médico.
Mas então reconhece que a bandeira vermelha é de fato a realidade da região?
Eu diria o seguinte: a nossa região teria condições de ficar mais duas semanas na (bandeira) laranja , pelas condições que têm e capacidade de ampliação, em Vacaria, em Canela... tem ainda capacidade de ampliar. Agora, o Estado poderá precisar da região, o Estado como um todo.
O objetivo é abrir leitos ou salvar vidas?
Abrir leitos para salvar vidas.
Mas o senhor acha que a região está tendo esse discernimento que salvar vidas é evitar que a contaminação se propague?
Sim, é o grande esforço que a região tem feito, de colocar estrutura para ampliar atendimentos. Para o que é o leito de UTI? Para internar pessoas. Para a nossa região, se todos os identificados de contaminados precisassem de leitos clínicos, teríamos leitos para todo mundo. Será que vamos deixando a pessoa ficar em casa ou já encaminhar logo para leito clínico, já que tem vaga, e tratar logo esse pessoal? Porque se forem procurar atendimento muito tempo depois, muitos não conseguem reverter.
Mas essa ideia de prevenção também corrobora com a ideia preventiva de conter a circulação de pessoas...
Também. Isso também tem de fazer, mas por quê? Por descuido das pessoas. Hoje (domingo) dei uma volta por outros municípios e as pessoas estão passeando sem máscara, pessoal parece que perdeu a consciência, porque acaba que nosso esforço não vai ser suficiente se o descuido das pessoas continuar.
Mas manter na bandeira vermelha não ajudaria a dar um choque de realidade nas pessoas?
Pode, pode porque restringe pelo comércio estar fechado, mas tem o seguinte... tem 27 municípios na nossa macrorregião que continuam na bandeira laranja, e outros estão na bandeira vermelha, então as pessoas vão de um município mais restritivo para outro com menos... Por isso acho que é válido pensar o Estado como um todo. Mas quem sou eu para estar dando essa ideia. Eu vendo isso (pessoas sem máscara em outros municípios), acho que nem se colocar bandeira preta as pessoas vão se conscientizar. As pessoas estão muito ansiosas, vão tentar burlar de todas as formas. A gente tem duas formas de aprender, pelo amor e pela dor, espero que ainda tenha tempo de aprender pelo primeiro, porque pelo outro é só quando perde alguém da família.
Mas entrando com recurso pela redução de bandeira, não passa mensagem errada para as pessoas de que a situação está menos grave do que realmente está?
Bem colocado. Acontece o seguinte... são critérios que o Estado estabeleceu e a nossa região comporta permanecer na bandeira laranja e temos reforçado a questão do cuidado. É um modelo estabelecido pelo Estado, e tem pessoas que entendem que dá para conciliar as duas coisas, economia e saúde. Porque não é dentro da fábrica e no comércio que mais se vê a contaminação. É na circulação das pessoas.
Mas quando fecharam tudo, as pessoas ficaram em casa.
No início sim. Mas hoje não ficariam mais.
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