A covid-19 assusta em inúmeros aspectos. O fato de não ter uma medicação específica e comprovadamente eficaz para reduzir o impacto deste vírus no organismo traz incertezas para os contaminados. Por mais que 80% dos infectados terão apenas sintomas leves, estima-se que 4,5% dos casos precisarão de internações em unidades de tratamento intensivo e ali a taxa de letalidade é alta, entre 30% e 50%. Por isso, quem deixa o tratamento intensivo recuperado celebra como uma grande vitória.
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A diretora executiva do Hospital Virvi Ramos, Cleciane Doncatto Simsen, de 53 anos, é uma dessas pessoas que chegaram aos leitos de alta complexidade. Internada no dia 16 de julho, ela foi a 16ª paciente que recebeu plasma convalescente em Caxias do Sul. Ficou uma semana em tratamento intensivo e superou a covid-19. Em casa, ela ainda aguarda o protocolo de mais sete dias em isolamento para poder retomar a vida normal. Uma vida diferente, um jeito de olhar que também se altera.
— É um momento que você reflete sobre uma série de coisas. Fica só, no sentido de estar diante de uma doença que não tem um desfecho favorável para boa parte das pessoas. A gente reflete, revisa algumas coisas que pode melhorar até em termos de qualidade de vida — ressalta Cleciane, que complementa sobre outro fator importante:
— Fica a questão da solidariedade e da humanidade. Eu tive muito apoio de amigos e muitas orações. Isso traz energia positiva e acreditar que tem pessoas torcendo pela gente faz muito bem.
Encerrado esse isolamento, Cleciane quer abraçar a filha Vitória, de 13 anos, algo que está privada de fazer no momento. A segunda é voltar a trabalhar. Como diretora de uma instituição de saúde, num momento de pandemia viral, é no Virvi Ramos que ela se vê nos próximos dias.
— Tenho que voltar a trabalhar. Já retornei hoje (ontem) por videoconferência. Mas quero voltar a trabalhar para ajudar as pessoas. Tenho gratidão por ter vencido isso e ter a oportunidade de acesso. A gente sabe que pessoas morrem sem chegar no hospital. A gente sabe que um atendimento de qualidade é fundamental nesse momento — completa a diretora.
A diretora é uma entre os inúmeros serranos que passaram pela covid-19. Até ontem, eram 9,081 pessoas, uma taxa de 80% de recuperados. Agora, a missão de Cleciane é estar pronta para voltar à linha de frente e ajudar que mais pessoas consigam este mesmo resultado.
MUDANÇA RÁPIDA
No domingo, completou 15 dias que Cleciane sentiu os primeiros sintomas. Ela não estava entre os mais de 80% dos contaminados que sentem apenas sintomas leves. Essa alteração foi de uma maneira extremamente rápida, quanto a velocidade e a força de disseminação que este vírus está demonstrando.
— Quem trabalha comigo sabe o quanto eu sou obsessiva com o uso de máscaras e álcool em gel. Até dos controles para evitar contaminação dentro da instituição. Foi uma surpresa ruim, porque acreditei que não iria me contaminar. Para ter uma ideia, eu não vou no mercado. Faço entrega no domicílio. Eu não consigo imaginar como me contaminei e isso prova que o vírus está aí. Mesmo com todos cuidados, a pessoa pode se contaminar e sem (proteções) poderá ser muito pior. Não é uma doença leve — relata Cleciane.