A compra de sedativos e de outros medicamentos utilizados em pacientes que precisam de intubação nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) é de responsabilidade dos hospitais, mas agora está contando com um reforço de mobilização da Secretaria Estadual da Saúde (SES). Isso se deve ao desabastecimento nacional causado pela falta de insumos no mercado para a produção de sedativos.
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Hospitais da Serra estão com cirurgias eletivas suspensas por falta de fornecimento de insumos
Por meio da assessoria de imprensa, a SES afirmou que o Ministério da Saúde acenou com uma compra emergencial no mercado nacional, e até mesmo internacional, em parceria com a Organização Pan-Americana da Saúde, para abastecer os estados. Ainda conforme a secretaria, alguns lotes de medicamentos já começaram a ser entregues e o Rio Grande do Sul deverá ser contemplado em breve.
Conforme levantamento realizado com alguns dos principais hospitais da Serra, não há falta nos estoques, embora procedimentos eletivos estejam sendo impactados pelo racionamento estabelecido em função da dificuldade de compra. Enquanto buscam a negociação com laboratórios, os hospitais também contam com a possibilidade de aquisição por intermédio do Estado.
— Fizemos a gestão antecipada dos materiais e o monitoramento diário dos estoques. Dessa forma, conseguimos manter os quantitativos e o uso de forma a fornecer toda assistência necessária aos pacientes — afirma Roberta Pozza, diretora médica do Tacchini, de Bento Gonçalves..
Movimento governamental
Na última semana, a SES aderiu a ata de registro de preço do Ministério da Saúde manifestando a intenção de comprar os medicamentos do chamado kit intubação. A União fará o processo licitatório. Nesse processo, as empresas ofertam os medicamentos, e o Estado fará a compra, o armazenamento e a distribuição dos anestésicos para os hospitais do Plano de Contingência Hospitalar, logística essa que já está organizada em função da pandemia.
Recentemente, a Secretaria orientou a suspensão de procedimentos eletivos e está solicitando que hospitais e clínicas públicas e privadas disponibilizem aos hospitais com setores de Emergência e UTIs seus medicamentos em estoque, especialmente sedativos e bloqueadores neuromusculares. Ao mesmo tempo, a SES está notificando as distribuidoras de medicamentos do Rio Grande do Sul para ver se possuem esses sedativos.
Parceria com o Conselho de Veterinária
Enquanto a situação não é normalizada, uma das medidas foi criar uma parceria colaborativa com o Conselho Regional de Medicina Veterinária do Rio Grande do Sul (CRMV/RS) para o reabastecimento de medicamentos do chamado kit intubação nos hospitais gaúchos. O Conselho de Secretários Municipais de Saúde (Cosems) também é parceiro do projeto que prevê que medicamentos em estoques de clínicas e hospitais veterinários que não fizerem falta imediatamente para o atendimento de animais possam ser repassados para hospitais que estiverem necessitando.
Conforme o Governo do Estado, são medicamentos que possuem prescrição humana e animal liberada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Alguns fármacos que podem ser cedidos para utilização em humanos são: propofol, midazolam, diazepam, fentanilas, lidocaína e todos opióides, como metadona e morfina.
Saiba como estão alguns dos principais hospitais da Serra perante o desabastecimento nacional por falta de insumos:
CAXIAS DO SUL
:: Hospital Pompéia
De acordo Gilzélia Almeida, diretora assistencial do Pompéia, as cirurgias eletivas SUS estão suspensas desde o começo da pandemia. E em relação ao abastecimento de anestésicos e sedativos, o Hospital Pompéia não passa por nenhum problema nesse sentido no momento. Ela afirma que, no início da pandemia, a instituição realizou uma compra que aumentou o estoque em cerca de 30%. Segundo a diretora, essa quantidade daria conta das demandas de, pelo menos, 60 dias (ainda com as eletivas ocorrendo).
:: Hospital do Círculo
Por meio da diretora de serviços próprios da instituição, Isabel Cristina Bertuol, o hospital informou que a instituição fez uma readaptação na sua escala e no seu agendamento cirúrgico frente a esse desabastecimento, há mais de um mês.
— Neste momento, a partir da segunda quinzena de julho, está se restabelecendo, porque estamos começando a receber alguns medicamentos que não estávamos recebendo. Então, deve fazer um mês que o Círculo precisou restringir o agendamento de cirurgias, porque tivemos que priorizar o uso desses medicamentos para os pacientes graves e também para cirurgias de urgência — explica.
:: Hospital Geral
Por meio de assessoria, o hospital informou que os procedimentos eletivos foram retomados dentro da capacidade do centro cirúrgico, a partir do recebimento de parte das medicações. O HG informou, ainda, que foram afetados cerca de 100 procedimentos, devido à falta de medicamentos.
:: Hospital Saúde
Mantendo o controle sistemático de uso e estoque de insumos hospitalares, o Saúde reduziu os procedimentos realizados, alterando o fluxo de atendimento. Por meio de assessoria o hospital afirmou que não está desabastecido, mas que mantém o monitoramento diário da oferta e o consumo dos insumos, além do contato direto com os médicos, especialmente anestesistas, com o intuito de buscar métodos alternativos para a realização de procedimentos cirúrgicos. "Estão sendo realizados os procedimentos cujas técnicas de anestesia podem ser executadas sem a necessidade dos medicamentos com dificuldade de reposição", afirmou, em nota.
:: Virvi Ramos
O Hospital Virvi Ramos aponta que, no momento, não está com falta de sedativos, em função de planejamento antecipado de compras realizadas no início do ano e também pelo fato que não houve a UTI 100% ocupada com pacientes diagnosticados com a Covid-19.
- Temos muita preocupação, pois a medida que as UTIs aumentarem a ocupação, aumentará o consumo e estamos com dificuldades de adquirir e repor estes insumos, em função de que a indústria farmacêutica relata falta de matéria prima. Atualmente, há pouca oferta e preços abusivos. Já enviamos ofício para a secretaria municipal e estadual de saúde, que estuda uma maneira de viabilizar a reposição destes medicamentos indispensáveis ao tratamento de pacientes com a Covid-19 - aponta Cleciane Doncatto Simsen, Diretora Executiva do Hospital Virvi Ramos.
BENTO GONÇALVES
:: Hospital Tacchini
Desde meados de março o Hospital Tacchini passou a trabalhar em regime de prontidão. Ou seja, foram cancelados procedimentos eletivos, exames, tratamentos ambulatoriais e esvaziado ao máximo a ocupação dos leitos afim de que a estrutura esteja preparada para receber as demandas de novos pacientes. De acordo com a diretora médica do Tacchini Sistema de Saúde, Dra. Roberta Pozza, até o presente momento, não é registrada falta de medicamentos.
VACARIA
:: Hospital Nossa Senhora da Oliveira
As cirurgias que estão agendadas para esta semana, estão sendo realizadas para não prejudicar os pacientes. A exemplo dos outros hospitais que já estão suspendendo as eletivas, estamos analisando o caso internamente junto com a Direção Técnica do Hospital. Face ao desabastecimento desses medicamentos, seremos forçados a suspender as eletivas, caso não haja solução em curto prazo. Esta decisão passa por entendimento junto a Secretaria Municipal de Saúde.