O acidente que resultou na morte de Elias Basso, 43 anos, há uma semana, na Rota do Sol, em São Francisco de Paula, foi causado por um buraco de grande porte na rodovia. É o que garante o agricultor Antônio Leonardo Saccaro, 63 anos, que presenciou a colisão entre o Ecosport em que estava Basso e um caminhão.
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No início da noite da sexta-feira (17), Saccaro trafegava pela rodovia no sentido Caxias do Sul-Lajeado Grande em um caminhão Mercedes Benz 912 baú. Em determinado momento da viagem, foi ultrapassado, dentro das regras de trânsito, por alguns veículos, entre eles a caminhonete conduzida pela esposa de Basso, Tatiane, 38, e onde também estava o filho do casal, de 13 anos.
A partir desse momento, o agricultor passou a trafegar imediatamente atrás do Ecosport por cerca de um quilômetro. Sabendo dos problemas na rodovia, por onde circula de duas a três vezes por semana para se deslocar até a Ceasa, em Caxias, manteve o distanciamento entre os veículos e a velocidade reduzida. Foi quando, no km 189, próximo ao Arroio Moreira, entre as localidades de Décio Ramos e Lajeado Grande, viu o Ecosport ser atingido pelo caminhão sem controle, que seguia em direção a Caxias do Sul. Há cerca de dois meses há no ponto um buraco de grande porte ao lado da linha que divide as pistas.
— Quando a carreta entrou no buraco, arrancou o eixo. Vi a carreta rodopiando e o eixo solto. Nem o carro nem a carreta tiveram culpa. Eu só vi que as luzes (do caminhão) se apagaram e puxei para a esquerda. Vi a morte de perto. Se eu não tivesse deixado a caminhonete passar, poderia ter sido comigo. Nós trocamos a morte. Perdi toda a vontade de dirigir — lembra Saccaro.
Consciente do risco que a cratera oferecia, naquela mesma semana o agricultor tentou chamar a atenção para a situação da rodovia. Enviou relatos a veículos de comunicação e buscou meios para ele mesmo viabilizar o conserto.
— Na segunda-feira anterior tinha 10 carros estragados e um deles com o eixo quebrado, que fez o mesmo trajeto da carreta após passar no buraco. Passei na Codeca, em Caxias e disse "me dá um balde de piche para fechar o buraco", mas disseram que é com o Daer (Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem). Eu já vi carro com a roda traseira perdida e é tudo carro novo — relata.
Procurado pela reportagem, o Daer disse que devido à chuva que atingiu o Estado neste mês, toda a malha rodoviária foi prejudicada e que uma operação tapa-buracos está programada para a próxima semana na rodovia.
Investigação vai concluir as causas
De acordo com o tenente Cléu Minuzzo, comandante do Pelotão Rodoviário de Gramado, responsável pelo trecho do acidente, o registro da ocorrência no Comando Rodoviário da Brigada Militar (CRBM) menciona o buraco na pista, mas somente uma investigação poderá apontar se ele influenciou na colisão. O pelotão já havia recebido relatos da presença do defeito e alertou o Daer para realizar o conserto. Nenhuma testemunha, porém, foi identificada pelos policiais.
— O trecho está bom. É um ou outro buraco aberto, até em função da chuva. Para quebrar o eixo de uma carreta tem que ser um buraco muito grande — pondera.
O tenente alerta, contudo, que a surpresa que um buraco na rodovia causa aos motoristas pode ter consequências graves com o eventual excesso de velocidade.
— Por isso, trabalhamos sempre para manter o motorista dento da velocidade. A Rota do Sol é uma rodovia que possibilita que o motorista coloque alta velocidade, se ele quiser, porque não tem muitas curvas, mas é uma rodovia perigosa — alerta.
A investigação do acidente é conduzida pela Polícia Civil de São Francisco de Paula. De acordo com a delegada Fernanda Seibel Aranha, as informações colhidas pelos investigadores ainda são preliminares, já que a ocorrência foi registrada na delegacia de Taquara. Laudos periciais ainda não foram entregues e os condutores dos veículos envolvidos não foram ouvidos ainda. Também não foram identificadas ou ouvidas testemunhas que possam ajudar a esclarecer o acidente.
Codeca não doa material asfáltico
Procurada por Saccaro na tentativa de obter o material asfáltico para consertar o buraco, a Codeca disse em nota que, por ser tratar de rodovia estadual, qualquer intervenção na Rota do Sol é responsabilidade do Daer. Como a Codeca é uma empresa de economia mista, só realiza obras mediante convênio ou contratação direta. Além disso, a companhia ressalta que não doa material de pavimentação à comunidade sob qualquer justificativa.