A bandeira voltou para a cor laranja na região de Caxias do Sul, mas não significa que a situação esteja amena quanto ao contágio de coronavírus. O próprio prefeito do município admitiu, em entrevista ao programa Gaúcha Atualidade nesta terça-feira (7), que "a população não está consciente da gravidade da situação". Para Cassina, o retorno para o risco médio de contágio foi conquistado em função da maior oferta de leitos e ao que ele considerou "baixo número de óbitos" em Caxias, comparando o município a cidades brasileiras de mesmo porte. Além disso, segundo ele, a taxa de ocupação dos leitos gira em torno de 60%. Cassina foi enfático, também, ao dizer que há pressão por parte de representantes da economia local.
— Sofremos pressão muito grande das entidades de classe ligadas a economia, tanto comércio, indústria, serviços, quanto agronegócio. Há uma pressão muito grande — disse.
Questionado sobre o comportamento da população, o prefeito considera que não há conscientização total.
— A população não está consciente ainda da gravidade, vemos saírem sem máscara, se aglomeram, saem em família ao supermercado. Poderíamos estar bem mais tranquilos, mas o povo não está ajudando. Além disso, o idoso é incontrolável e adora uma fila — citou.
Caxias investe, atualmente, mais que os 15% exigidos pela Constituição na área da saúde. São mais de 26% do orçamento municipal, conforme o prefeito. Cassina considerou, ainda, que os surtos registrados na cidade, no supermercado Zaffari e na UBS Cinquentenário, estão resolvidos.
— Está controlado porque com dois casos já se considera um surto. Não é nada de outro mundo — opinou.
Dados diferentes
Ao contrário do que disse o prefeito sobre a ocupação não passar de 60% dos leitos, o boletim epidemiológico divulgado pela secretaria municipal da saúde na segunda-feira, aponta que a taxa em leitos de UTI adulto está em 73%, sendo 82% no SUS e 66% no sistema privado.
A informação de que as academias estão regularizadas com as medidas de segurança não é consenso. Em uma apuração da reportagem no último sábado, uma aula de muay thai acontecia em grupo na academia Shape, no bairro São Pelegrino. A reportagem, inclusive, flagrou, uma das participante sem máscara.
"Essa instabilidade de abre e fecha custa muito caro", diz presidente da Federasul
A presidente da Federação das Entidades Empresariais do Rio Grande do Sul (Federasul), Simone Leite, também foi ouvida no programa desta terça-feira. Ela classificou como ‘intransigência’ a maneira como o governo do estado trata o momento em relação às entidades empresariais. Simone defende que as atividades devam continuar seguindo os protocolos e que o modelo por cores e bandeiras considere indicadores sócio-econômicos.
— As bandeiras não podem ser gatilhos da inação por parte do poder público, tem que ser gatilho para construir mais leitos e contratar mais profissionais, como fez o prefeito de Caxias que nos relatou mais recursos para a saúde. A iniciativa privada está colocando muitos recursos e têm feito a sua parte, mas estamos sendo chamados só pra pagar conta, não estamos sendo ouvidos no momento de tomar decisões. Essa instabilidade de abre e fecha custa muito caro — disse.
O entendimento da presidente é de que não há como "agir dentro da total falta de previsibildade". Simone aproveitou para criticar a venda de produtos típicos do comércio lojista, como calçados e edredons, dentro de supermercados.
— A dona Maria não pode abrir a porta mesmo cumprindo os protocolos, mas o supermercado e o camelô podem. Não temos condições iguais de oportunidades — declarou.
Conforme a presidente, o que o governo deve fazer é investir em testagem da população.
— Recebo relatos diariamente de pessoas desesperadas. A crise econômica também mata! — disse