Graças a uma iniciativa chamada de "cortina do abraço", os hóspedes da Casa de Repouso Recanto das Borboletas, em Farroupilha, agora podem chegar um pouquinho mais perto da família. A ideia partiu da auxiliar de educação Chéusli Haskel e de suas três irmãs Tamily, Natily e Evely, que desenvolveram uma espécie de capa de plástico que foi fixada ao portão da casa. O material tem espaços que permitem colocar os braços para dentro da cerca, possibilitando, assim, um abraço quase completo entre os idosos e seus visitantes. Mesmo que através da cortina, o contato é um alento em meio ao distanciamento social imposto pela pandemia de coronavírus: as visitas aos 26 idosos que vivem na casa de repouso estão suspensas desde 16 de março.
Talvez você tenha visto o vídeo que inspirou a família a fabricar a cortina. Nos Estados Unidos, a pequena Paige, de apenas 10 anos, projetou uma proteção de plástico semelhante a da foto acima para poder abraçar os avós. O vídeo da cena viralizou e a ideia motivou Chéusli a pensar em maneiras de aplicar a cortina a uma realidade bem conhecida por ela. É que a mãe dela, Geloci, trabalha como enfermeira no Recanto das Borboletas. Por isso, a família sabia bem como a distância entre os idosos e familiares nos últimos meses vinha tornando os dias mais difíceis por lá.
— Nossos hóspedes estão acima dos 85 anos, alguns com alzheimer. Mesmo com as chamadas de vídeo, muitos não compreendem por que a família não vem visitar e acabam pensando que foram abandonados — explica Dalva Beatriz Borges da Silva, proprietária da casa.
Dalva recorda que já havia pensado sobre a ação, mas não sabia como implementá-la. Quando Chéusli e a família compartilharam a ideia, tudo começou a se encaixar. No primeiro protótipo, a cortina contava com apenas um braço. Alterações e testes foram, aos poucos, resultando na versão final, que já proporcionou cerca de 15 encontros desde 31 de maio.
— Nós queríamos algo que fosse legal e seguro. No primeiro dia de visitas, fiquei dentro do carro, observando de longe, para ver se havia mais alguma coisa que podíamos aperfeiçoar. Foi bem gratificante, percebemos a emoção dos dois lados, familiares e idosos — emociona-se Chéusli.
Nesse meio tempo, foi preciso também conseguir o aval do médico geriatra da casa, bem como das vigilâncias epidemiológica e sanitária de Farroupilha. Para garantir a segurança dos hóspedes, visitantes e funcionários, Dalva salienta que alguns cuidados devem ser seguidos. As visitas ocorrem nas terças, quintas e domingos, mediante agendamento prévio, das 14h30min às 15h30min. Dentro do período, são divididos 15 minutos para cada visitante, que deve comparecer sozinho e pontualmente ao local, para evitar aglomerações. A equipe aplica um questionário e afere a temperatura dos familiares, que limpam as mãos com álcool gel e ficam sobre um capacho com hipoclorito, usando máscara. Máscara, aliás, é para todos, incluindo os hóspedes e a equipe da casa. A cortina, por sua vez, é inteiramente desinfetada a cada abraço.
A psicóloga Elizabeth Laybauer foi uma das visitantes nesse novo formato. Como é de se imaginar, foi grande a felicidade ao encontrar a amiga, Clementina Ritter, hóspede da casa. Em virtude da idade — ela está prestes a completar 91 anos —, Clementina teve de ficar sentada durante a visita. Assim, foram alguns minutos conversando e segurando as mãos através do portão.
— Ela ficou tão feliz! Foi uma alegria muito grande poder encostar na Pitina, mesmo através do plástico — lembra Elizabeth, se referindo à idosa com o apelido que quer dizer "pequena". — Esperei ela ir embora para poder chorar.
A equipe do Recanto das Borboletas espera que a ideia possa inspirar outros locais a fazerem o mesmo.
— Isso nos faz dar valor para as pequenas coisas, como um abraço e é também uma esperança em meio a tempos tão difíceis — afirma Chéusli.