Poucas pessoas na ruas, fluxo de carros tímido e comércio praticamente deserto no final da manhã desta quinta-feira (25) em Protásio Alves. O movimento que já é pequeno, em uma cidade pequena com cerca de dois mil habitantes, baixou ainda mais depois dos 10 casos confirmados de coronavírus no município, no dia 19 de junho. Ao circular na área central é possível observar que as medidas de segurança para evitar o contágio da covid-19 são seguidas pelos moradores. Comerciantes e pedestres usaram a mesma expressão para descrever esse momento: medo.
Proprietária de uma padaria, Mônica Souza, 37 anos, está assustada. Segundo ela, depois das confirmações, a área central ficou praticamente vazia. Na semana passada, durante a bandeira vermelha, o movimento era maior. Depois dos casos, todos estão com medo.
— Esperávamos que o vírus chegasse aqui porque as cidades vizinhas como Nova Prata tem casos. O que não imaginamos é que seriam tantos ao mesmo tempo. Algumas pessoas contaminadas têm filhos. Eles vieram de outras cidades.
Ela optou por medidas mais rígidas:
— Só podem comprar e levar e temos tele. Preferimos não permitir que os clientes comam na padaria porque atendemos muitas pessoas de fora da cidade.
Mônica conta ainda que, na comunidade de Capela São João, no interior, onde há casos, os moradores têm o costume de frequentar um a casa do outro.
— Não respeitam muito o isolamento e também se visitam.
Medo é a palavra mais usada
Destino de turistas que procuram as Águas Termais, Protásio Alves, viu o movimento reduzir desde março. Na praça, uma fita amarela tenta impedir o uso dos bancos. As missas estão canceladas e a apreensão é sentida entre os moradores.
— Ficamos mais preocupados porque chegou na cidade. Antes parecia distante, mas conheço as pessoas infectadas porque aqui todos se conhecem. É uma sensação diferente _ ressalta o frentista Mauro Mello, 33.
O comerciante Elder Prigol, 48, está apreensivo, mas confiante:
— Começou agora. Demorou, mas chegou na cidade. Me cuido, tem apreensão com o número de casos, mas não tenho medo. Acredito que cada pessoa reage de um jeito ao vírus. Os cuidados têm que ser mantidos. Sempre que pego em dinheiro ou atendo, limpo o balcão e passo álcool gel nas mãos e nos móveis.
Em outro ponto da cidade, o atendimento é restrito. O anúncio está na porta da loja e o álcool gel à espera dos clientes.
— Acredito que depende da saúde de cada um o avanço do vírus. Nos cuidamos e tem todas as medidas de higienização constantes. Atendemos um cliente por vez. Mesmo assim, surgir 10 casos de uma vez nos assusta— aponta a proprietária da loja, Luana Ceccagno, 36
Menor município do Nordeste Gaúcho ainda não tem casos
O movimento no centro de André da Rocha era tímido. Com 1.333 habitantes, o menor município do Nordeste Gaúcho ainda não registrou casos de coronavírus. André da Rocha, que ostentava a menor população do Estado, passou o posto para o município de Engenho Velho, no noroeste do Estado, que tem 1.034 habitantes, de acordo com a estimativa 2019 do IBGE para a população.
— Estamos trabalhando bastante na prevenção. O cuidado é a melhor alternativa. Temos dois casos suspeitos, e os pacientes estão em isolamento. Estamos preparados para o atendimento de sintomas leves. Já os que precisarem de internação vão para Passo Fundo ou Nova Prata —explica o prefeito Sérgio Carlos Moretti (PTB).
Ele afirma que equipes da prefeitura têm visitado empresas para fiscalizar e cobrar medidas.
— Os funcionários do frigorífico foram testados e estamos monitorando. Temos ido às empresas e pedimos conscientização de todos. Não tem uma receita. É o cuidado aliado à consciência, porque sabemos que irá chegar aqui porque está na região, e estamos preparados —garante.
Cuidados para barrar o vírus
A referência na área de saúde é Passo Fundo. As viagens de pacientes só são permitidas em necessidade extrema. O município seguiu na bandeira laranja quando a Serra passou para vermelho em 13 de junho. Mesmo assim, as igrejas estão fechadas desde março. No comércio, todos os cuidados são tornados para não ter aglomeração.
—São medidas necessárias. Ninguém entra sem máscara e atendemos cinco clientes por vez —afirma a caixa de mercado, Priscila Farias Lima, 21.
Para ela, os moradores têm colaborado para barrar o contágio:
— A diferença da cidade pequena é que fica mais fácil de nos cuidarmos. Todos usam máscaras e cuidam uns dos outros. Os idosos saem menos. Há essa consciência — diz.
Proprietário de um mercado na área central, Miguel Ângelo Ramos Tagliari 54, sente receio do avanço da doença.
— Estou um pouco apreensivo com o vírus tão perto. Temos cuidado, mas é questão de tempo para que chegue a nossa cidade. Mudei os hábitos e percebo que lavo as mãos com mais frequência e o álcool gel faz parte da rotina agora Era algo que não se vendia e agora não falta.
Perto dali, em um restaurante, os cuidados também são levados a sério. Não há açougue e padaria na cidade. A alternativa é Nova Prata, a 22 quilômetros. Essas idas provocam apreensão. Proprietária de um posto de combustíveis e de um restaurante da cidade, Judite Zandoná de Oliveira, 55, toma todos os cuidados para evitar a disseminação.
— É uma questão de tempo até chegar no município. Somos bandeiras diferentes, mas dependemos de Nova Prata para comprar o que precisamos. Essa ida e vinda gera apreensão. Temos receio. Em relação ao movimento, aumentou a entrega de viandas, mas reduziu a demanda no restaurante.
Ela acredita que os idosos têm se cuidado mais:
— Eles não saem. Reduziu tudo. Até a atividade física reduziu. É preciso.
Na praça da cidade, a fita amarela é um sinal de que o espaço não deve ser usado para evitar aglomerações. O mesmo ocorre em outros locais públicos do pequeno município serrano.