O grupo Amor em Movimento, do Colégio São José, em Caxias do Sul, desenvolveu uma ação especial importante por fortalecer vínculos neste tempo de pandemia. Chama-se Escrevendo cartas, e consiste nisso: escrever cartas. Ao todo, foram 20 cartas escritas por alunos voluntários do grupo e ex-alunos da escola que também participavam do movimento, endereçadas a pessoas com uma trajetória de anos dentro do colégio, pessoas que trabalham na escola inclusive em funções de apoio retaguarda.
— É uma forma de desligar deste momento. (Exige) Parar, pensar, sentar e escrever, conhecer mais as pessoas que vivem no mesmo lugar. Aumentar vínculos. Pensar em como fazer até a decoração da carta abre um universo diferente. (Possibilita) Criar memórias, mostrar o quanto gosta do outro, se importar — destaca a professora Lorita Menegon, coordenadora do grupo.
Todas as cartas já foram entregues e os textos também enviados em mensagens de áudios lidos pelos estudantes que os escreveram. Irmã Teresinha Cardoso, 84 anos, que restaura livros infantis na biblioteca do São José, recebeu uma carta da aluna Eduarda Pistorello Chrysostomo Silva, 18 anos, que se formou no Ensino Médio no ano passado.
Uma bela iniciativa, que faz refletir sobre a importância do outro e aproxima.
De Duda para Solange
Uma das que receberam correspondência foi Solange Facchin, orientadora educacional do São José. A carta a ela foi escrita pela ex-aluna do Colégio São José, Maria Eduarda Cunha Pretto, hoje com 20 anos e estudante de Psicologia da FSG.
Trechos da carta de Duda
"Sempre ouço dizer que cartas, em meio a um mundo tão tecnológico, são algo ultrapassado, antiquado e até sem sentido. Eu, particularmente, não concordo. Acredito que as cartas sejam uma das formas mais sinceras de demonstração de carinho. Envolvem o tempo, o pensar, o sentir, o concentrar, o dedicar, o escrever e o destinar. Quem a escreve tenta demonstrar a forma como vê o mundo, e quem a lê a tenta traduzir com o ar de sua subjetividade e intensidade, com seus significados tão particulares quanto seu dia a dia, mas também com a tentativa de entender o sentimento e o desejo do outro.
Encontro-me, enquanto escrevo, ao pôr-do-sol de mais um dia da pandemia. Tal momento, na verdade, que nunca imaginei viver. Decidir aproveitar aproveitar essa parte do dia para escrever pois teu nome leva Sol — e eu amo o sol. (...) A união do céu alaranjado que vejo, com o entendimento que agora tenho do teu nome, me faz arriscar a dizer, com certa certeza, que tu é incrivelmente especial.
Desejo que, a cada dia, teu acordar se torne mais bonito e mais vivo. Que teu dia te faça despertar para cada beleza da vida, para cada conquista apesar do medo e para cada vitória apesar da dificuldade. Tenha certeza de que a tua sensibilidade frente ao outro é também o teu pilar pra felicidade.
Por fim, gostaria de saber como tu está? Como tu te sente em meio à mudança de rotina e aos novos desafios? Como estão teus netos? O que faz tu te sentir viva? O que te motiva? O que tu ama?"
A reação de Solange, endereçada a profe Lorita, que coordenou o projeto
"Lorita, tu me entregou uma das mais comoventes e inesperadas mensagens, pois nunca imaginei que isto fosse acontecer. Acalentou a minha alma num momento difícil para mim. Cada vez sinto mais que Deus se faz presente em pessoas como Duda, como tu... Que Ele recompense vocês por tudo. Gratidão sempre. Por favor, me mande o contato da Duda, pois quero muito agradecer. Beijos."