Desde o início da pandemia, o consultor para projetos de risco caxiense Isaac Schrarstzhaupt se concentra em números. Bem verdade que esta é a sua profissão. Mas, agora, ele foca no coronavírus. E não só do município, já que as ferramentas fazem cálculos para o Brasil e o mundo.
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A análise de Caxias já teve momentos preocupantes, como no início do contágio, onde a previsão era de um colapso do sistema de saúde caxiense em julho. Só que a restrição de movimentação, onde o crescimento desceu de 6% para 3% ao dia, chegou a criar um cenário perfeito: sem problemas no sistema. Mas os dados dependem de uma variável, que é o comportamento da população. E as perspectivas voltaram a se tornar preocupantes.
— Quando estávamos fechados, isso gerou uma taxa de crescimento baixa e empurrou o colapso lá para a frente. Fiz uma previsão que até outubro não teria colapso. Agora, completados os 14 dias da flexibilização, a gente vê que desde 30 de abril começou o crescimento maior (para 8% ao dia) — destaca Isaac, que completa que isso não significará diretamente um colapso na saúde:
— A ressalva é que o comportamento afeta esses números. Se o crescimento for grande, isso acaba gerando medo e cria o isolamento voluntário das pessoas que estão saindo por sair. Automaticamente, baixa o crescimento e, com isso, não ocorre o colapso. Esse colapso gera um paradoxo, por isso que falamos que quanto mais o isolamento funciona, mais desnecessário ele parece.
A conta é simples. Estudos de diversas correntes – quase todas com base no exemplo da Coreia do Sul, país com maior testagem em massa da população – dão conta que 15% da população infectada precisará ser internada e 5% deles precisarão de UTI. Tomando como base Caxias do Sul, que atualmente tem 100 leitos, eles comportariam aproximadamente 2 mil infectados simultâneos da covid-19, se estivesse livre especificamente para esta doença. Como a maior parte dessas vagas são ocupadas por outras enfermidades, fica claro que um número bem menor de portadores do vírus poderá colapsar o sistema – e aqui não se incluem apenas os confirmados.
Se Caxias parece viver um momento tranquilo, o mesmo não se repete no país. E, de novo, as projeções não são favoráveis. Segundo os cálculos de Isaac, o Brasil deve alcançar as estatísticas dos Estados Unidos – nação que mais sofre, neste momento, com a covid-19 – no dia 90 da pandemia. O problema é que os norte-americanos estão no dia 66 da pandemia, o Brasil no 54. Até por isso, não será nada estranho se chegarmos às mil mortes diárias e que o famoso lockdown – já em vigor nas capitais do Maranhão e Piauí e que deverá entrar em vigor no Rio de Janeiro – seja uma ferramenta comum em mais estados.
No Rio Grande do Sul, o governador Eduardo Leite (PSDB) estima que o pior momento do coronavírus será no final de junho. Justamente no início do inverno.