A chuva da última semana trouxe boas notícias para praticamente toda a Serra. Além da ajuda para barragens de diversas cidades, as precipitações do final da segunda-feira (11), de terça e quarta-feira colaboraram para que alguns rios, córregos, cachoeiras, cascatas e riachos da região conseguissem recuperar boa parte da sua ocupação pluviométrica. Segundo a estação do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), localizada no aeroporto de Caxias do Sul, entre 20h55min de segunda-feira e 8h45min da terça foram registrados 38,3 milímetros de chuva. Em abril, este número ficou em 29,9 mm, enquanto nos 10 primeiros dias de maio não passou de 9,7 mm.
Esses números mostram o quão relevantes foram os quase dois dias inteiros de chuva.
Para alguns setores, a preocupação desse momento está na capacidade de um produto melhor pensando no restante do ano.
— O problema são as pastagens. As de verão tiveram um crescimento ruim no final, por conta da seca. E as de inverno já tinham germinado mal por falta de chuva — diz o engenheiro agrônomo do escritório da Emater em Caxias, João Villa, que acredita que, em uma primeira avaliação, o nível da água dos rios deva resolver o período da plantação das estações frias do ano.
No Rio Caí e seus afluentes, a chuva ajudou a retomar a beleza do local, além da quantidade de água ter colaborado para que as culturas de inverno, que estão em período próximo à plantação, tenham água suficiente para que consigam semear de maneira consistente — o que não aconteceu com muitas culturas de verão. No Arroio do Ouro, um dos afluentes do Caí, em Vale Real, a chuva trouxe à normalidade o nível de água. Porém, de carona, veio a sujeira.
— Quando o rio está baixo, estava bem limpa. A sujeira vem quando sobe. Algumas empresas e até mesmo a estação de tratamento lançam dejetos. Aí é que aparece mais a escuridão na água — afirma Luiz Bonatto, administrador de um hotel-fazenda às margens do arroio.
Em outro ponto da Serra, em Farroupilha, a Cascata do Salto Ventoso é um dos pontos que mais sofreu com a estiagem do início do ano. Até segunda-feira, a seca havia feito com que as tradicionais quedas d'água, que atraem milhares de pessoas no ano, desaparecessem. Porém, a chuva da semana representou o retorno da beleza do local, mesmo que ainda fora do volume normal.
— Até começar a chuva, estava seco. Ainda está com um volume baixo, mas já dá para ouvir de longe o barulho da cachoeira — diz Ketlin Werner, que junto da família cuida de um parque no local, ainda fechado por conta das medidas restritivas de isolamento social por causa da pandemia do coronavírus.
Preocupação no Rio das Antas
Enquanto em quase toda a região houve o aumento do nível de água nos rios, um ainda preocupa: o Rio das Antas. Na região próxima da travessia entre Nova Pádua e Nova Roma do Sul, é possível caminhar no rio sobre as pedras, em uma área que habitualmente seria tomada pela água. Em relação à medida normal, a diferença é de cerca de um metro abaixo.
Na balsa da travessia entre as cidades, há um poço com aproximadamente seis metros de profundidade, o que dificulta a observação dessa baixa. Porém, até para quem passa boa parte da vida entre uma margem e outra do rio, a situação atual é assustadora.
— Há 25 anos que trabalho aqui e o rio nunca esteve nesse nível. Estão secando as nascentes. A chuva dessa semana mudou pouco por aqui — diz o balseiro Airton Grifantte, que alerta que a travessia só é possível por conta da característica do local.
— Aqui nunca vai ter problema, porque é um poço. Se fosse em qualquer outro lugar, já teria parado pela profundidade.
Além dos efeitos no rio, a estiagem também prejudica a vegetação ribeirinha. O tom amarelado nas folhas já aparece em número maior do que o normal na região.
— As árvores estão secando. Onde tem rocha, já secou tudo — diz o balseiro, alertando que boa parte dessa vegetação pode ter sido perdida em definitivo.
A água está tão baixa que algumas pessoas têm feito um passeio diferente pelo local.
— Eles deixam o carro de um lado, vão caminhando pela margem por alguns quilômetros, atravessam o rio caminhando, voltam pelo outro lado e atravessam na balsa para pegar o carro e ir embora — conclui Grifantte.
Reflexo financeiro
Para Nova Pádua e Nova Roma do Sul, além do reflexo ecológico do Rio das Antas em um nível baixo de água, há também um prejuízo financeiro para os dois municípios. Sem o fluxo suficiente, a usina hidrelétrica Castro Alves não funciona e não paga para as cidades o valor referente ao alagamento para Nova Pádua e do maquinário para Nova Roma do Sul. No último mês, a utilização quase não existiu. O repasse é referente ao quanto tempo a usina é utilizada no mês.
— Em Nova Pádua, o Rio das Antas serve pouco para a agricultura, pois há a área de preservação ambiental. Por isso, a prefeitura fez um projeto de subsídio de 50% de ajuda para os agricultores construírem açudes dentro das próprias propriedade — afirmou o secretário de administração e fazenda de Nova Pádua, Pedro Quintanilha.