O clima agradável e ensolarado deste sábado (30) atraiu os caxienses para os parques e praças dos bairros da cidade. Mesmo com a orientação da prefeitura para manter o distanciamento social e o decreto que determina o uso obrigatório de máscaras nas ruas de Caxias do Sul, não foi o que se viu em pelo menos sete pontos da cidade. Brincadeiras na grama, rodas de chimarrão, vôlei e futebol, eram praticados por jovens e crianças sem usar a máscaras ou com a peça abaixo do nariz ou no pescoço.
A reportagem percorreu a cidade por duas horas e passou pela Universidade de Caxias do Sul e pelos bairros Petrópolis, Cruzeiro, Jardim América, Fátima, Santa Fé, Vinhedos e Santa Lúcia Cohab. Na UCS, por volta das 14h, apesar de não ter aglomerações, o movimento era intenso. Mesmo com espaço entre os grupos, as determinações repassadas pelo município como usar máscara e as orientações do Ministério da Saúde como não compartilhar chimarrão foram deixadas de lado por alguns frequentadores. Sentados em um banco, um casal de namorados dividia a cuia:
- Estamos ao ar livre, longe dos outros, só nós dois e não tem aglomeração, por isso, não acho necessário, mas as máscaras estão aqui - afirmou Samuel Carvalho, 32 anos, ao lado da namorada Camila Pereira, 23, tirando as peças do bolso.
Perto dali, em uma escada à beira do lago, estavam três jovens que também não usavam a máscara para proteger o rosto.
- Se estou ao ar livre, longe das pessoas, com a minha esposa ou pessoas com quem convivo não uso. Acho que não é necessário porque o ar circula - ressaltou Bárbara Santana, que estava ao lado da esposa e da amiga Tuani Souza, 20.
No bairro Petrópolis, o movimento era pequeno, mas dois adolescentes estavam sentados lado a lado, sem máscara e uma jovem passeava com o cachorro, também sem usar a proteção. Já no bairro Cruzeiro, um grupo de jovens conversava sem a peça, enquanto um pai brincava com o filho também sem usar o item. Outros dois casais caminham sem máscara.
SEM MÁSCARA, GRUPO JOGAVA VÔLEI
Conhecida como Parkão, a praça do bairro Jardim América, era uma das mais movimentadas, por volta das 15h. As pessoas estavam em grupos, mantendo certa distância, mas próximas entre elas, sem respeitar a distância segura entre eles. A maioria das crianças corriam e brincavam sem usar a máscara e alguns adultos usava a peça de forma errada: pendurada ao queixo para fumar ou sorver o mate. A cuidadora de idosos, Carla Nascimento, 38, fumava no momento em que foi abordada pela reportagem. Ele estava com o marido e os filhos de 15, nove, seis e quatro anos.
- Eles precisavam de um pouco de ar, brincar e quando estão brincando e correndo não conseguem usar a máscara. Não ficamos onde tem muito movimento, procuramos manter a distância, e se chegam mais pessoas logo vamos embora. Para circular na rua todos usamos - garante ela.
Próximo dali, uma senhora tomava chimarrão, e passeava com o cachorro. Ela preferiu não se identificar, e ficou surpresa ao saber da orientação para não frequentar os parque e praças mantendo assim o distanciamento social.
- Mas se não pode porque não tem guarda aqui? - questionou afirmando que iria embora em seguida.
A professora Sulmara Deggeroni, 40, cuidava do filho Pietro, três. Sem máscara porque tomava chimarrão, ela contou que foi a primeira vez que saiu com o menino desde que as medidas para conter o vírus entraram em vigor:
- Desde que começou o isolamento ele não sai, não vai para a escolinha, e fica contemplando a rua pela janela. Eu tento entreter e brincar com ele em casa, mas ele me pediu: "mamãe eu quero ir passear contigo lá fora de mãos dadas", por isso eu trouxe ele brincar um pouco. Tenho medo, mas mantemos o distanciamento e tenho álcool gel para limparmos as mãos.
Na mesma praça, na quadra de areia, sem máscara, um grupo jogava vôlei. Ao serem abordados, alguns colocaram a peça para proteger o rosto, mas optaram por não falar com a reportagem.
No bairro Fátima e Santa Fé, o movimento nas praças e parques era pouco expressivo, e a maioria dos frequentadores estava com máscara. Na saída do Santa Fé, no entanto, um grupo de dez adolescentes andava de skate, e nenhum deles usava a proteção no rosto.
FUTEBOL, SEM MÁSCARAS, NAS QUADRAS DO VINHEDOS E DO SANTA LÚCIA COHAB
Ao contrário da maioria dos frequentadores, na praça do Loteamento Vinhedos, Gisele Oliveira, 36, analista de RH e Júlio de Silveira, 44, consultor e os filhos Elen, 9 anos e Murilo, seis, usavam máscaras. A família que mora no Colina Sorriso evita lugares movimentados e repassa cuidados de higiene aos filhos como forma de prevenção.
- Antes de sair de casa já conversamos para que eles saibam que tem que usar as máscaras e temos conosco álcool gel para que eles higienizem as mãos sempre que trocam de brinquedo - ressaltou Gisele.
Júlio complementa:
- Evitamos ir a lugares movimentados, onde tenha aglomerações ou fechados, sem circulação de ar, e já ensinamos eles a tocar o menos possível nas superfícies.
Perto dali, um grupo estava sentado bem perto, sendo que apenas algumas pessoas usavam máscara, e crianças brincavam sem o item. Sentado mais distante, em um balanço, o Relações Públicas, Anderson Paviani, 43, tomava chimarrão:
- Olhei do carro e optei por ficar aqui porque percebi que podia manter um distanciamento seguro.
Ao lago da praça, em uma quadra, um grupo, todos sem máscaras, jogavam futebol.
A cena se repetiu na praça do bairro Santa Lúcia Cohab. A quadra estava cheia, sendo que nenhum dos jogadores estava com a proteção exigida por decreto para estar na rua, em grupo, e praticando esporte. Na praça ao lado, o movimento também era expressivo, e apenas uma das cerca de vinte pessoas que estava no espaço usava máscara.
O QUE DIZ A PREFEITURA
O secretário de Urbanismo de Caxias do Sul, João Uez, lembra que o uso dos parques e praças de Caxias do Sul não estão liberados, para evitar aglomerações. Ele ressalta que a fiscalização tem atuado para que as pessoas usem as máscaras.
- As quadras e parques não foram lacradas, mas não podem ser usadas, com aglomerações, e sem máscara. Se a pessoa estivesse sozinha praticando esporte, ou vôlei em dupla, por exemplo, poderia estar jogando com alguém da família ou que reside na mesma casa. Não pode estar lá na quadra com outras pessoas.
Ele ressalta que há poucos fiscais, mas que a fiscalização seria acionada para verificar a situação:
- Essa parcela da população que está praticando esporte num momento que não pode, não está autorizado, sem máscara é irresponsável, porque o vírus está presente na nossa cidade. As pessoas tem que sair o mínimo possível, e tem que responsabilidade. O poder público tem que fiscalizar, mas as pessoas tem que avaliar o que está fazendo, é de extrema irresponsabilidade o que estão fazendo.
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