Em Caxias do Sul, ainda mantém-se as restrições de algumas atividades econômicas, ao mesmo tempo em que se promovem medidas de prevenção à covid-19. Em meio a essa dinâmica global, o discurso é um só: "se puder, fique em casa". Por detrás dessa sentença, amplia-se a preocupação das pessoas com suas vidas particulares, da porta de casa para dentro do lar, em detrimento de uma vida coletiva, de convívio entre as pessoas, sobretudo nos espaços urbanos. E é justamente esse o ponto de partida para a nona edição do City Talk, promovido pelo Vivacidade, grupo que discute as relações das pessoas com a cidade, desde 2017. O evento virtual, que ocorre nesta sexta-feira (10), é gratuito (veja como se inscrever no quadro abaixo).
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O designer Tiago Fiamenghi é um dos co-fundadores do Vivacidade, coletivo que ficou conhecido por suas ideias de revitalização do bairro São Pelegrino. Para ele, mais do que decretar uma nova visão de ocupação do espaço urbano para depois que a pandemia passar, esse evento virtual vai propor novas questões.
— Estamos fazendo esse evento justamente para que surjam mais perguntas. Nós por exemplo, no Vivacidade, sempre promovemos que as pessoas possam ter experiências de troca e de convívio. A vida de uma cidade está justamente na rua. Mas estamos todos fazendo campanha para ficar em casa. E quando as pessoas não estão na rua a cidade se torna morta. Mas que cidade é essa que queremos depois que tudo isso passar? — questiona.
Essa é só uma das provocações que promete apimentar o debate de sexta-feira, que contará com a participação do arquiteto Caio Esteves, da Place for us, primeira e mais relevante consultoria de Place Branding do Brasil, e Leonardo Brawl, do TransLAB.Urb, um laboratório de Inovação Social Urbana: Cocriação & Participação.
— O Caio e o Leonardo são dois grande pensadores que atuam no território urbano — pontua.
OLHAR PARA DENTRO
Tiago diz que tem a sensação de que as pessoas estão saturadas de olhar para dentro. Porque mesmo quem está saindo de casa, seja por causa do trabalho, que é essencial à sociedade, como os médicos e enfermeiros, eles não estão convivendo nos espaços urbanos.
— Será que depois desse momento teremos mais vontade de ir pra rua e construir um território urbano mais agradável, com áreas de recreação mais interessantes, com mais opções para todos? Ou vamos de fato continuar a ser uma sociedade que prioriza aquilo que tem da porta para dentro? — provoca.
DE CASA PARA O TRABALHO
Dentro dessa linha, de ocupação dos espaços da cidade, Tiago nos conduz a uma nova indagação. Lembrando que tudo isso, e mais a participação das pessoas através do evento virtual nesta sexta-feira (10), servirá para ampliar o debate sobre Caxias do Sul para além da pandemia.
— A gente sabe que temos uma cidade que funciona fervorosamente das 8h às 18h e, depois disso, com quarentena ou se, ela se tona muito inóspita, porque poucos utilizam o espaço urbano — aponta.
Porque aqui entra uma outra questão, que muitos teóricos de diferentes áreas, já pontuaram, que Caxias é a cidade onde se tem foco no trabalho, e não em atividades de lazer, entretimento ou cultura.
— Para a maioria dos caxienses, o espaço urbano é o canal de conexão do ponto A para B, ou do atendimento ao cliente para o restaurante. De um modo geral, as pessoas não passeiam pela cidade, não fazem um passeio a pé, nem conhecem a história da cidade.
VIVER A CIDADE
Interessados em participar do debate, não importa de que área do conhecimento sejam, podem se inscrever de forma gratuita e entrar na live que ocorre na sexta-feira (10). A participação efetiva da sociedade é, na visão do Vivacidade, a melhor arma que uma sociedade pode dispor para planejar a cidade que escolheu para viver.
— Muitas vezes, quem planeja a cidade não vive a cidade, porque poucos têm conhecimento do território urbano. Precisamos aliar a legitimidade de quem vive o território urbano, com conhecimento técnico — argumenta.
Parece utópico, mas o Vivacidade trabalha para gerar reflexões. E mais do que tudo, despertar no caxiense a participação na construção dessa ocupação urbana, que muitas vezes foi negligenciada até para uma bênção sacerdotal. Para Tiago, o argumento é simples, mas eficaz:
— Se as pessoas não participam da construção da ocupação dos espaços, logo, não se sentem pertencentes a esses espaços, logo, não cuidam. É por isso que as pessoas não cuidam dos espaços públicos.
Um viva ao Vivacidade, que promove reflexões sobre a vida que segue, apesar da pandemia.
PROGRAME-SE
O quê: City Talk, com Caio Esteves (Places for us) e Leonardo Brawl (TransLAB.urb)
Quando: sexta-feira (10), às 17h
Quanto: gratuito
Onde: Live no YouTube
Inscrições: sympla.com.br/vivacidade
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