A epidemia de coronavírus que assola o mundo muda a rotina, o comportamento e a relação entre os produtores rurais e os consumidores em Caxias do Sul. O uso de máscaras, protetor facial e o distanciamento entre vendedor e cliente passaram a fazer parte do dia a dia das feiras itinerantes da cidade. São 34 pontos que recebem a Feira do Agricultor em dias diferentes na semana. Conhecida pelas aglomerações, principalmente, de idosos, as feiras são realizadas, mas com cuidados para evitar o contágio da covid-19.
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A reportagem esteve em duas feiras na manhã desta quarta-feira (29). O movimento era tímido por volta das 7h na Rua Euzébio Beltrão de Queiroz, no bairro Santa Catarina. As bancas estavam mais distantes uma das outras para impedir a aproximação entre os clientes e produtores. Há fitas de isolamento para manter a distância e todos os feirantes usavam máscaras e, em alguns casos, até mesmo, protetor facial.
— Não me adaptei à máscara, suo muito, então comecei a usar o protetor facial, que é fácil de limpar e protege o rosto todo. Com as fitas garantimos o distanciamento necessário e me sinto seguro para atender aos clientes — conta o produtor Valter Raupp Bittencourt, 42 anos.
O feirante Otacir Marin, 55, também está seguro com as medidas. Para ele, as fitas conseguem manter a distância necessária entre feirantes e clientes. Ele acredita ainda que a pandemia foi um alerta para mudar hábitos de higiene, principalmente para quem comercializa comida.
— Me dei conta de como agia errado porque para abrir a sacola plástica, às vezes, colocava o dedo na boca e isso nunca mais irá se repetir, porque é um cuidado para a vida toda, não apenas com esse vírus. Foi um aprendizado — reconhece.
A feirante Patrícia Trentin, 39, era um das poucas com luvas.
— Passei a usar luvas com a epidemia porque é uma maneira de manter os cuidados necessários. Percebo que temos de prevenir não apenas o coronavírus, mas outras doenças e cuidar uns dos outros — ressalta.
Atendimento diferenciado, mesmo de longe
No bairro São José, na Rua Governador Roberto Silveira, o movimento também era tranquilo durante a manhã. A reportagem observou que as bancas estavam distantes uma das outras e há cordas ou correntes para impedir a aproximação. Os feirantes estavam de máscaras e também adquiriram novos hábitos como higienizar as mãos com álcool gel antes de embalar os produtos e tocar nas sacolas.
Rudimar Antônio Paim Gomes, 51, era um dos mais cuidadosos. O tubo de álcool gel fica em cima da mesa, em frente à balança.
— Tenho cuidados no manuseio dos produtos. Respeito o distanciamento, mas seguimos com o nosso atendimento diferenciado, mesmo de longe. Os clientes são fiéis às feiras e nos valorizam porque temos produtos de qualidade e atendemos bem, conversamos, temos atenção com eles. A pandemia não mudou isso, ao contrário. Agora, mesmo com as correntes para nos distanciar, estamos cuidando uns dos outros. Adquiri novos hábitos de limpeza e cuidados com a higiene para seguirmos com as feiras que atendem tão bem a comunidade — afirma.
Ele também vende máscaras para clientes que tenham esquecido. A peça custa R$ 7. Em outra banca, o produtor Daniel Brito, 41, usava protetor facial:
— Não consigo usar a máscara o tempo todo. Noto que os clientes estão mais cuidadosos. Não tem tumulto nas feiras, eles circulam com cuidado para manter a distância. No caso dos idosos, o movimento reduziu muito, porque os filhos têm vindo comprar o que eles precisam.
O feirante Tiago Pellenz, 37, acredita que o movimento aumentou, mas a circulação ocorre em momentos diferentes, o que ajuda a combater aglomerações:
— Na feira não há filas, não tem que esperar para ser atendido, estamos ao ar livre e as correntes em frente às bancas mantém o isolamento. Como a feira começa cedo e segue até as 9h, as pessoas têm vindo em horários diferentes e fica tranquilo para circular. No meu caso, mudei os hábitos com higiene, intensifiquei os cuidados. Esse vírus veio nos ensinar, e eu que trabalho com comida tenho aprendido.
Clientes se sentem seguros
Cerca de 10 clientes circulavam entre as bancas no bairro Santa Catarina à procura de frutas, verduras, pão, bolos e produtos coloniais. A maioria usava máscaras. Otília Paim, 52, no entanto, estava sem a proteção. Moradora do Tijuca, ela frequenta a feira há anos:
— Uso máscara, hoje saí apressada e esqueci. Estou afastada do trabalho e saio apenas em casos de necessidade, como ir à feira, farmácia e ao mercado. Na feira é tranquilo porque não há aglomerações — diz.
A idosa Inês Sartor, 81, estava circulando entre as bancas com tranquilidade. De máscara, ela diz que se sente segura porque não há movimento na feira.
— Só saio de casa se for necessário. Venho à feira porque me sinto tranquila para fazer as compras, sem tumultos, e há os cuidados necessários. Só vou à farmácia e ao mercado uma vez por semana — ressalta.
Abraços à distância e novo cumprimento entre cunhadas
No bairro São José, o movimento também era tranquilo por volta de 7h30min. A reportagem flagrou "abraços à distância" entre as cunhadas Sueli Gomes, 74, e Maria Lovison de Souza, 75. Sueli comprava bananas e conversava com o feirante quando Maria se aproximou e disse: "um abraço". Ela abriu os braços de longe e abraçou a si mesma. Depois, as duas tocaram os pés uma da outra como forma de cumprimentar.
— Eu estava há um mês sem sair de casa e estava muito triste já. Meu filho disse: mãe tu pode sair para ir na feira mas com cuidado. Eu só vim aqui até agora, era ele quem estava vindo. Estou me cuidando muito — ressalta Sueli.
A cunhada conta que elas só têm se falado por telefone para matar as saudades:
— Sinto tanta falta dela, dos meus filhos e netos. Não temos nos visto. Foi bom encontrar com ela mesmo à distância. Não saio de casa, apenas para vir à feira, porque o movimento é tranquilo.
Uso das máscaras é obrigatório para feirantes
O secretário da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Valmir Susin, lembra que o uso de máscaras, álcool gel e de correntes e fitas para manter o isolamento é obrigatório.
— Há fiscalização e os produtores respeitam as normas, porque ele precisam trabalhar e para manter as feiras abertas temos que tomar todos os cuidados.
Ele ressalta que os pontos onde as feiras ocorrem são higienizados antes e depois da chegada dos caminhões:
— Temos feito a higienização das ruas onde são montadas as bancas, e também na Ceasa. Lá nas segundas e quintas-feiras higienizamos os pneus dos caminhões dos produtores que vem de fora. Já o pavilhão do produtor e os box são higienizados nas quartas para evitar ao máximo que o vírus circule.