Na semana passada, o Brasil fez reverência a médicos e demais profissionais da saúde. É uma justa homenagem para uma área vital na luta contra o coronavírus. No entanto, outras dezenas de profissionais estão nas ruas para garantir o conforto e a segurança de quem está em casa no isolamento.
A reportagem identificou pelo menos 20 funções diferentes e consideradas essenciais, mas o número pode ser muito maior. De padeiros a policiais militares, de balconistas a entregadores de gás, é uma grande parcela de trabalhadores e empreendedores que não descansa e se expõe para evitar o colapso social de Caxias do Sul. Eles merecem o seu aplauso.
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Atrás do balcão, o porto seguro
Da janela da farmácia na Rua Moreira César, no bairro Pio X, Cristina Zaniol Camargo, 36 anos, acena para uma cliente do outro lado da rua. Refém da quarentena, a idosa precisa de medicamentos constantes e deixou de ir ao estabelecimento de Cristina. Um aceno e a farmacêutica sabe que é hora de separar os remédios e fazer a entrega.
Na linha de frente, Cristina entende mais do que ninguém qual é seu papel nesse momento tão delicado. Depois dos consultórios médicos e plantões de hospitais, as farmácias são o alento para a população. Cristina não arreda e se mantém firme no trabalho para garantir essa assistência. O medo, é claro, não está ausente. No ano passado, a farmacêutica contraiu gripe A, vírus que foi transmitido por um cliente. Então, o risco do coronavírus é latente.
Uma fita amarela demarca o limite que o público pode se aproximar do balcão. A irmã de Cristina, Saiane Zaniol, 32, usa máscara. Nos últimos dias, elas optaram por atender por uma janela, mas a decisão tem relação com a insegurança. Com praticamente todo o comércio fechado no entorno, elas não querem ser vítimas de assaltantes.
De certa forma, o aumento de movimento nas farmácias em razão do coronavírus evidenciou o conhecimento dos farmacêuticos e a disponibilidade dos atendentes. São eles que precisam evitar a automedicação que, aliás, cresceu e vem provocando escassez de produtos básicos.
- As pessoas nem sempre recebem a instrução correta. Elas vêm para pedir ajuda, antes buscavam preço.
A epidemia mudou também a forma de relacionamento com o público. Até a semana passada, a farmácia comercializava álcool gel. Na hora de reposição, a fábrica quis cobrar mais caro pelo produto. Cristina não achou correto repassar o valor para os clientes e optou por não vender no balcão.
- É frustrante dizer que não tem álcool gel. Só que as pessoas iriam imaginar que estaríamos explorando e não queremos passar por oportunistas - explica.