Na semana passada, o Brasil fez reverência a médicos e demais profissionais da saúde. É uma justa homenagem para uma área vital na luta contra o coronavírus. No entanto, outras dezenas de profissionais estão nas ruas para garantir o conforto e a segurança de quem está em casa no isolamento. Eles também merecem o seu aplauso.
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"Dependemos uns dos outros"
Mesmo confinada, a população de Caxias do Sul segue produzindo lixo em grande quantidade. No lado de fora, dezenas de trabalhadores da Codeca precisam manter as ruas limpas, entre eles, Leonida Borges Ferreira, 36 anos, mãe de dois filhos. Mais conhecida como Dida, a coletora é parte de uma equipe que retira os detritos de empresas e hospitais. Antes, havia o costumeiro cuidado em relação aos perigos camuflados no lixo. Agora, Leonida precisa encarar a realidade do coronavírus.
Desde que as informações sobre a epidemia prenderam a atenção de todos, ela passou a sentir medo. Ao mesmo tempo, teve consciência de que o serviço não pode parar. Caso contrário, haveria caos, propagação de pragas e doenças. É uma batalha diária em que a linha da defesa depende do esforço de homens e mulheres de uniformes verdes.
Apesar de ser uma perspectiva diferente dos profissionais de saúde, Leonida e outros coletores estão expostos, pois mantém contato com resíduos e diferentes pessoas. A Codeca liberou funcionários do grupo de risco e está programando férias para outros. Mas é impossível paralisar a coleta. Antes de sair de casa, a trabalhadora ora em agradecimento e por proteção. Também tem a tarefa de acalmar os filhos e o marido.
- Eles estão muito preocupados por eu ter que ir trabalhar, mas entendem que é necessário.
Ela revela que a mãe Dimacir Borges Ferreira, 73 anos, está em quarentena em outra casa.
- É uma das coisas que mais me angustia. Conversamos pela janela, não mantenho contato de perto. Temo muito em trazer qualquer risco de vida pra minha mãe - diz Leonida.
Até a semana passada, a equipe de Leonida percorria 35 pontos de recolhimento. Com o fechamento de empresas, o número diminuiu. O percurso começa nos Pavilhões da Festa da Uva e termina no bairro Cidade Nova. As ferramentas de trabalho incluem máscara e luvas. A proteção facial é utilizada mais em locais considerados perigosos. Nas redes sociais, o reconhecimento a esses trabalhadores é tímido, mas poderia ser maior. Ainda assim, a coletora não deixa de sorrir.
- Todo trabalhador, independentemente do serviço que executa, merece ser respeitado como pessoa e como profissional. Fazemos parte de um sistema no qual dependemos uns dos outros de forma direta ou indireta. Se a população se conscientizar disso, não vão sair de casa. Isso é a melhor forma de apoiar aos que precisam trabalhar - pondera.
Que todos te ouçam, Leonida.
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