Com móveis e eletrodomésticos estragados pela chuva, o cenário era de destruição na manhã desta quarta-feira (26) em diversos pontos de Caxias do Sul depois do temporal que atingiu a cidade na tarde de terça-feira (25). O cheiro de esgoto também era forte, já que os bueiros entupiram, subiram e invadiram as casas em pelo menos 13 bairros da cidade. Famílias perderam móveis, eletrodomésticos, carpetes e roupas. Depois que a água baixou, os moradores passaram parte da noite e da manhã limpando os estragos provocados pela chuva.
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Na Rua Camilo Marcoantonio, no bairro Floresta, onde um carro ficou submerso, a população estava indignada com a situação. O veículo é do sobrinho de Luci Natália Flores da Silva, 61 anos. Ela conta que esta não é a primeira vez que entra água na casa dela:
— Chove e os carros passam e a sujeira invade as casas. Eu estava no trabalho e minha filha chegou da praia e ligou avisando que a casa estava alagando. Conseguimos erguer algumas coisas, mas sempre temos prejuízo. Hoje é dia de limpar tudo. O carro do meu sobrinho ficou quase todo embaixo d' água. Ele ainda nem ligou para ver se funciona — lamenta ela.
Em outra casa, a moradora reclama do descaso do poder público. Aide Zulian, 66 anos, ainda guarda a reportagem do Pioneiro publicada no ano de 1984 quando a casa dela alagou. A machete segue atual: "Moradoras revoltadas com o resultado dos alagamentos"
— Hoje, a situação continua a mesma. Recententemente, há alguns anos foi feita uma galeria que ajudou a reduzir os alagamentos, mas mesmo assim a obra não resolveu, porque a água ainda não tem para onde escoar e os boeiros ficam todos entupidos e invadem as casas.
Ela reclama que já abriu mais de dez protocolos na prefeitura de Caxias.
— Sei que choveu bastante, mas para entrar água aqui uma chuvinha mais forte já basta. Perdemos móveis, a TV queimou. Estou cansada. A casa enche de água e ninguém resolve. Porque não fazem aqueles piscinões que foram construídos em outras áreas aqui na nossa região? — questiona ela.
Em uma das casas foi preciso quebrar parte da entrada da garagem para a água escoar. Maria Cararro, 77, moradora do bairro Floresta há 50 anos, lamenta as perdas, mas também ressalta a questão da saúde. A parte onde ela mantém um salão de beleza foi tomada pela água.
— Esse foi um dos piores (temporais). O esgoto invadiu as casas, todos os boeiros estavam entupidos. Foi um susto grande e o que mais me preocupa é que é água do esgoto que volta.
Limpeza também na Júlio Calegari
A situação era semelhante na Rua Júlio Calegari, no bairro Esplanada, onde a água subiu mais de um metro em alguns pontos. A força da chuva foi tanta que o asfalto cedeu em pelo menos dois pontos, e uma boca de lobo levantou. A água não chegou a entrar na mecânica onde Matheus Machado de Oliveira, 17 anos, trabalha, mas provocou transtornos.
— Teve muito congestionamento e agora está complicado para circular com o asfalto que cedeu.
Os pontos estão sinalizados, mas o trânsito fica prejudicado. Móveis como sofás, pacotes de rações e demais objetos estavam em meio a galhos de árvores, pedras e lama na manhã desta quarta-feira.
— Pelo menos dois carros ficaram cobertos pela água, e outros dois estavam estacionados bem em frente aos esgotos e impediam a água de escoar. Consegui salvar algumas coisas, como a geladeira e o carro, que estacionei em outro lugar. A situação é sempre a mesma quando acontecem esses temporais de verão — conta a cabeleireira Geni Camargo, 57 anos.
Em Galópolis muro de casa cedeu
Em Galópolis, onde o Arroio Pinhal invadiu a BR-116, a manhã também foi dedicada à limpeza. Antônia Maltauro, 62, não estava em casa quando o temporal começou. Ela recebeu uma ligação do marido avisando que a casa estava alagando:
— Perdi meus carpetes, a casa está uma bagunça, tem um cheiro muito forte, mas não podemos desanimar. Tem que erguer a cabeça, manter a calma e recomeçar.
Ela contou com a ajuda da família para tentar amenizar os estragos:
— Entrou um pouco de água há pelo menos dois anos, mas veio até a porta, e conseguimos conter, mas dessa vez tomou conta, e era muita lama. Minhas cachorrinhas estavam no pátio, elas nadaram, estavam bem assustadas. Graças a Deus estão bem. Minha esperança é que hoje o tempo fique firme.
Márcio Orlandi, 45, também não estava em casa. Ele recebeu os vídeos que mostravam o rio transbordando e voltou para casa. Nesta manhã, por volta das 10h30min, ainda limpava os estragos da chuva:
— Fiquei preso na Perimetral quando estava tentando voltar para casa, mas quando consegui chegar a Galópolis o rio já tinha baixado. Entrou menos água do que há dois anos, mas, mesmo assim, subiu e invadiu a garagem. Para mim, o problema são as pedras do rio, que não deixam a água escoar.
A água invadiu as casas que ficam nas margens do arroio. Em uma delas, o muro externo cedeu. Os donos moram nos Estados Unidos, e conforme os vizinhos a moradia estaria vazia.
CONTRAPONTO DA PREFEITURA
Somente na noite de terça-feira (25), a prefeitura de Caxias do Sul recebeu pelo menos 60 chamados de várias partes da cidade relativos a alagamentos e obstrução de vias. Sim, parte dos problemas foi causado por lixo largado de forma irresponsável pela população, o que acaba entupindo tubulações, mas o sistema de drenagem também foi insuficiente para escoar a enxurrada.
Segundo o secretário de Obras e Serviços Públicos, Gilberto Melleti, o número pode ter maior, pois ainda não foi possível contabilizar os encaminhamentos registrados pelo Alô Caxias (156), por exemplo. Em entrevista ao programa Gaúcha Hoje da Rádio Gaúcha Serra, o secretário garantiu que as equipes estão nas ruas desde o final da tarde de terça-feira. O caso mais grave envolve o rompimento da tubulação da Rua Júlio Calegari, no bairro Esplanada, em frente à sede da Visate. O asfalto cedeu e o trânsito flui com restrições.
— Parecia um chafariz jogando água para cima, já consertamos, mas houve um estrago e o asfalto está totalmente danificado, as águas levaram embora — descreve Melleti.
O secretário revela que 30 funcionários que não estavam de plantão precisaram ser acionados para desobstruir vias e bueiros. No início da manhã desta quarta-feira (26), uma reunião definiu uma força-tarefa para verificar os estragos na cidade e prosseguir com reparos. Não há relatos de famílias desabrigadas.
— Pela experiência dos profissionais da secretaria, nunca se viu um volume tão grande de água em tão pouco tempo. Com isso, não houve condição de fluxo nas galerias, nas tubulações, todas elas transbordaram. Começamos a receber chamados por volta das 17h (de terça-feira), imagens nunca vista. Eu diria que Caxias do Sul foi praticamente toda invadida pelas águas, nos mais diversos pontos — reforça o secretário.
Melleti também diz que apesar dos tanques de contenção de Caxias do Sul terem ficado sem manutenção, o que favoreceu o acúmulo de lixo e mato, não houve alagamentos nas regiões abrangidas pelas lagoas, caso do São José e Fátima Baixo.
— Assim que chegamos aqui em janeiro, solicitou-se que fosse feito a limpeza dos tanques e foi feita uma manutenção. Estamos solicitando licenciamento para que haja uma retirada de material excedente, licença que não havia sido solicitada antes. Os tanques ontem atuaram bem, não teve problemas, conseguiram segurar e manter a vazão, o que não causou alagamentos em determinados pontos.
O secretário, porém, apontou obras que são necessárias na cidade para conter futuros alagamentos:
— Temos alguns projetos que estão em andamento, alguns praticamente prontos, estamos licitando empresas para realizar serviços de drenagens maiores. Temos muito pontos que temos de atacar, são serviços volumosos. Na Matteo Gianella, tem uma grande obra, que demanda um túnel, está sendo elaborado um projeto. Nossa equipe técnica tem conhecimento de vários pontos e existe alguns projetos que vamos ter de atacar. Isso é inevitável, vamos nos reunir e fazer com que a prefeitura nos permita agir nesses pontos críticos _ conclui Melleti.
OS CHAMADOS AOS BOMBEIROS
Bela vista: 01
Rio Branco: 05
São Caetano: 04
São Leopoldo: 01
Santa Corona: 01
Desvio Rizzo: 03
Arco Baleno: 01
Cristo Redentor: 01
Salgado Filho: 04
Cruzeiro: 01
Esplanada: 01
Gloria: 02
Planalto: 01
Deslizamento de Terra
Número de ocorrências: 03
Corte de árvore rodovia
Número de ocorrências: 01
Interdição de residência
Número de ocorrências: 01
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