Geral

Prevenção

Vice-campeã do Proerd, policial militar de Caxias do Sul já formou mais de 3 mil alunos em Caxias 

Carmen Fagundes de Souza foi a segunda PM que mais orientou estudantes no Estado em 2019

Adriano Duarte

Enviar email
Arquivo pessoal / divulgação
Carmen e os alunos do Colégio Murialdo

A policial militar Carmen Rosemeri Fagundes de Souza, 45 anos, inicia o ano com a expectativa de manter ou superar um número que lhe valeu uma bela homenagem da Brigada Militar (BM) em dezembro passado. Por ter se dedicado com afinco, tornou-se a segunda instrutora com mais alunos em todo o Estado no Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (Proerd). O reconhecimento ocorreu durante um seminário do programa na Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), em Canoas. Era o que precisava para a policial fortalecer sua convicção de que é possível ser parceiro dos jovens em busca de um cotidiano mais seguro e saudável. 

Como instrutora do Proerd, Carmen conhece o espinhoso cotidiano que ronda estudantes em Caxias do Sul. A tarefa dela e de outros quatro colegas policiais militares ligados ao programa em Caxias é preparar crianças e adolescentes para que saibam dizer não às drogas, buscar ajuda em situações de abusos e resistir diante de influências nocivas. Em sala de aula, cerca de três mil estudantes já passaram pelos seus ensinamentos _ ela formou 1,3 mil alunos somente em 2019.

Natural de Ijuí, a policial veio para Caxias do Sul como aluna da BM no início dos anos 2000. O plano era conquistar a formação militar na cidade serrana e retornar para a cidade natal. Ela até tentou conseguir uma transferência, mas ficou por Caxias. Trouxe os pais e uma irmã para residir com ela. Após observar as habilidades e competências da servidora, o comando do 12º Batalhão de Polícia Militar (12º BPM) decidiu convidá-la para exercer a função dentro de escolas por meio do Proerd. 

— Então não tenho perfil para trabalhar no Batalhão de Choque — brinca.

No primeiro ano de atividade, em 2015, ela deparou-se com histórias tristes. Como era inexperiente, absorvia os dramas. A policial quase abandonou as escolas. 

— Minha família não queria que eu ficasse. Eu estava desistindo, voltava para casa destruída. Há crianças vencedoras e resilientes por tudo o que passam. Precisei me estruturar, aprender e crescer.

Com mais segurança, Carmem retornou às salas de aulas para um segundo ano e não saiu mais. Desde então, já passou por mais de 25 colégios, com o apoio da BM e da comunidade escolar. Ela conquistou a segunda colocação no Estado porque se dedica integralmente ao programa _ o primeiro lugar ficou com um sargento da reserva da BM que atua na Região Metropolitana. 

— Para ter dedicação exclusiva ao Proerd,  é preciso ter um número X de alunos. Nem todos conseguem porque precisam se dedicar a outras atividades, faculdades, essas coisas. E o trabalho é intenso porque você fica um turno inteiro, precisa encarar os problemas. Não é só uma cartilha para passar conteúdo. Tu acaba desenvolvendo uma relação de pertencimento com a turma — explica a policial. 

"Nossa relação é de respeito, sem julgamento"

O instrutor do Proerd também lida com situações que envolvem o simples afeto. Carmem não esquece do caso de uma guria de 13 anos que não conseguia ter uma conversa profunda com a mãe. A relação em casa era apenas oi, bom dia e como vai.

— Mãe e filha nunca tiveram um diálogo de verdade. Até que um dia, essa menina tomou coragem, foi com a mãe no mercado, comprou sorvetes e um monte de doces e programou um dia para ficar com a mãe, colocar o papo em dia, desabafar. Se um pai não tem ouvidos, não está disposto, os filhos vão procurar outras pessoas — pondera Carmen. 

A policial também desfaz mitos. É normal que muitas pessoas relacionem violência e drogas com famílias mais pobres. Grave engano. Ao circular por escolas públicas e particulares, Carmen aprendeu que esses problemas estão disseminados em qualquer classe. 

— Muda realidade econômica-social, mas a ansiedade das crianças são as mesmas. Na adolescência, tudo é potencializado. Hoje, os jovens não estão preparados para as frustrações. Entram na sala de aula com a cabeça em outro mundo e não conseguem o resultado em função do turbilhão de emoções que tentam resolver. Afastam as pessoas que poderiam ajudar.

Conforme Carmen, o principal dilema é dos pais que não percebem conflitos preocupantes nos filhos. Para ela, adolescentes têm necessidade de falar sobre si, muitos carregam problemas e querem respostas para ontem. Mas, ao mesmo tempo, não se sentem confortáveis para desabafar com pais e mães distantes. A policial exalta a qualidade do Proerd e aponta o caminho da evolução. Todos os instrutores estão passando por capacitação para a educação inclusiva, outro desafio nas escolas. 

— Nossa relação é de respeito, sem julgamento. Trabalhamos a prevenção, dentro do contexto policial. Levo as reportagens para que eles vejam que é necessário pensar no risco e na consequência. Mostramos que, quando estão nervosos, se colocam em risco.

A policial não se vê longe da sala de aula no futuro. Inclusive, pretende concluir o curso de Pedagogia neste ano _ ela tem formação no magistério. 

— É muito contagiante esse trabalho do Proerd porque te fortifica.

Leia também
Confira os fatos de 2019 que precisam ser resolvidos em 2020 em Caxias do Sul
Vinícola da Serra Gaúcha oferece atração especial para crianças
Tucano debilitado encontrado em casa de Caxias do Sul será levado para Gramado

GZH faz parte do The Trust Project
Saiba Mais
RBS BRAND STUDIO

Pré-Jornada

18:00 - 19:15