Duas turistas, de 59 e 44 anos, viveram momentos de pavor no último dia 8 quando visitavam o Cânyon Fortaleza, dentro do Parque Nacional da Serra Geral, em Cambará do Sul. Durante o passeio, quando elas estavam próximo ao mirante, foram atacadas por um búfalo. O caso foi registrado na Polícia Civil e as ocorrências foram encaminhadas para a Polícia Federal em Caxias do Sul, por ter ocorrido em um parque nacional.
A mulher de 59 anos estava com o esposo e o filho no dia do acidente. Ela é natural do Paraná e foi a primeira do grupo de turistas a ser atingida pelo animal. Ela contou à polícia que o bicho correu em direção ao grupo, e ela foi atingida, enquanto o marido e o filho conseguiram fugir do ataque. Já a turista de 44 anos, Juliana Farias Sardenberg, é paulista, de São Caetano do Sul, e estava com os filhos, Lucas, de 18 e Gabriela, de 8. A família estava acompanhada, no momento do ataque, por Douglas Machado, que atua como condutor no local.
"Foram os piores momentos da minha vida", desabafa turista
Ainda emocionada, Juliana conta que viveu os piores momentos da vida naqueles segundos. Ela conta que estava no Rio Grande do Sul com os filhos para passar as férias quando decidiram ir passear no parque em Cambará do Sul:
— O búfalo atacou primeiro uma senhora antes de me atingir. Depois, ele continuou descendo e me bateu. Ele me jogou pela nádega esquerda e me arremessou longe. Eu agradeço a Deus porque meus filhos não se machucaram, mas o trauma é imenso.
Veja o vídeo:
Chorando, a turista relembra os momentos de pavor:
— Meu filho conseguiu pegar a minha filha pela mão e jogar ela para frente. Ele correu mais e salvou a irmã. Ela tem asma, teve crises lá em cima. Foram os piores momentos que já passamos na vida. O Douglas (condutor) conseguiu me pegar pela mão e me puxar para corrermos.
Juliana foi atendida no hospital de Cambará do Sul, depois passou por um hospital de Gramado e agora está sendo atendida por um ortopedista de São Paulo. Ela não sofreu fraturas ou perfurações no corpo:
— O médico especialista em coluna daqui de São Paulo disse que o ataque foi o equivalente a ser atropelada por um caminhão. Todos os médicos que me atenderam falaram que foi um milagre. Eu sair disso tudo sem fratura... porque, além de o búfalo ser enorme, ele também tinha chifres enormes!
A turista reclama ainda que, até o momento, não contou com a apoio dos representantes do parque, apenas da agência da turismo e do profissional que a ajudou:
— Tenho dor no corpo inteiro. Mas não é só uma dor física, eu sinto dor na alma. Nunca imaginei passar por algo assim. Estou recuperando o emocional, estou sem trabalhar. É um absurdo que o parque ou o município não tomem uma providência. Vão esperar alguém morrer?
"No ano passado vi búfalos ali, mas nunca ocorreu um ataque", conta condutor local
Douglas Machado, que atua como condutor no Cânyon Fortaleza, conta que sempre leva os visitantes até o mirante, no ponto mais alto do parque, onde o acidente com o búfalo ocorreu. Ele ressalta que, no dia do ataque, ouviu cachorros e foi verificar a situação porque os animais não podem ficar no parque.
—Estávamos no mirante e ouvi os cães. Aí fui verificar e vi o búfalo. Voltei para avisar os turistas e iniciarmos a descida para sairmos dali _ lembra.
Ele lembra que todos começaram a descer e voltaram a ouvir os cachorros:
— Quando olhei para trás, o búfalo estava correndo na trilha, por onde os turistas passam, e ele veio em direção ao grupo. Uma senhora correu assustada em direção ao Cânyon e ele bateu nela. Nesse momento, a Juliana e os filhos ficaram assustados e tentaram correr. Eu disse pra eles esperarem e segurei a mão dela para correr. Mesmo assim ele bateu no lado esquerdo dela. Foi apavorante. No ano passado vi búfalos ali, mas nunca ocorreu um ataque. Acredito que ele ouviu os cães e se sentiu acuado e correu na nossa direção.
A primeira vítima foi atendida pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Ela passou um dia internada em Cambará do Sul e depois voltou para a residência, no Paraná. Já Juliana voltou para Gramado onde estava hospedada com os filhos, e depois para São Paulo.
— Mesmo que o búfalo não tenha me atingido não tenho conseguido ir trabalhar porque tenho sentido dor, e o susto foi grande— conta ele.
Moradores já haviam avistado búfalo próximo ao parque
Depois da publicação da reportagem, uma moradora de Cambará do Sul entrou em contato para relatar que ela e o esposo avistaram um búfalo próximo ao parque há cerca de um mês. Mariana Fogaça, 34, e Simon Tramontin, 21, estavam andando de bicicleta quando se depararam com o animal:
— Estávamos no trecho em que termina o asfalto e começa a estrada de chão, próximo ao parque, quando passou um carro dando sinal de luz, mas não entendemos no hora. Ele queria nos alertar que havia um búfalo no meio da rua. Meu marido manobrou quase em cima dele, e nos esforçamos muito para subir o morro e sair de perto dele. É perigoso porque ele é um animal grande e com chifres. Pode acontecer algo grave — afirma ela.
CONTRAPONTO
Procurado pela reportagem, o Parque Nacional da Serra Geral solicitou que o contato fosse realizado com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), atual administrador da área dos cânions. Por e-mail, a reportagem questionou o instituto sobre o ataque de búfalos, se é comum ter esses animais na área, se isso não representa um risco aos turistas, e o que tem sido feito para evitar novos acidentes no parque. No final da noite de sexta, por meio da sua página no Facebook, o Instituto se manifestou com uma nota:
"Informamos que no último dia 08, houve registro de uma ocorrência na Trilha do Mirante, no Parque Nacional da Serra Geral, envolvendo visitantes e búfalo. A partir do momento em que a administração dos parques tomou conhecimento dos fatos, adotou medidas administrativas, inclusive junto ao proprietário, a respeito da situação. Até que, efetivamente, estas medidas possam surtir efeitos práticos, estará sendo realizado monitoramento das trilhas do Mirante, da Borda Sul do Fortaleza e do Tigre Preto e Pedra do Segredo. Sendo que, mediante detecção de riscos, outras medidas de efeito imediato poderão ser adotadas, como o fechamento eventual de trilhas. Ressaltamos que estão sendo envidados os esforços necessários para evitar a adoção de tais medidas, pois, ao que parece, tal ocorrência se trata de um fato isolado. Pedimos desculpas por quaisquer transtornos. O ICMBIO, a administração dos parques, assim como seus colaboradores permanecem atendendo prontamente, abertos ao dialogo".
O prefeito Schamberlaen José Silvestre (PP) ressalta que o município prestou todos os atendimentos que eram de responsabilidade da prefeitura de Cambará do Sul:
— A verdade é que o parque ainda tem uma questão em relação a regularização fundiária, e tem moradores em situação de litígio em relação ao parque e ao ICMBio. Esses proprietários tem criação de animais e acredito que eles devam ter escapado e passado pela cerca. O município prestou toda a assistência por meio do Samu, e também o atendimento hospitalar. O que era nossa responsabilidade do município foi feito. O condutor que estava com uma das turistas também prestou suporte a turista e ele é cadastrado ao município.
O prefeito afirma, ainda, que o Turismo está à disposição dos visitantes para prestar atendimentos e esclarecimentos.
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