Pra quem olha, o aparelho com um pequeno visor opaco e poucos botões nem parece tão moderno assim. Pra quem não pode enxergar, porém, o Orbit Reader 20 representa, finalmente, a chegada a um futuro onde o braile — sistema de escrita tátil utilizado por pessoas cegas ou com baixa visão – pode ser lido e escrito em plataforma digital. Contemplado pelo Fundo Social Sicredi em 2019, o Instituto da Audiovisão (Inav) adquiriu o aparelho que é recente no mercado em sua versão de baixo custo, no valor de R$6mil (outras versões mais caras existem há mais de 20 anos). A novidade começa a ser introduzida aos usuários caxienses, abrindo um universo de possibilidades quanto à forma de interação de deficientes visuais com o meio digital.
A inclusão digital de cegos não é novidade mas, em sua forma mais popular, tanto em aparelhos celulares, quanto em computadores, ela costuma ocorrer com recursos de voz, ou seja, os usuários ouvem as páginas e aplicativos que acessam. Com a chamada linha Braille, portadores de deficiência visual ganham uma possibilidade há tempos desfrutada por quem enxerga.
— A prática da leitura e da escrita é muito importante e, para uma pessoa surdo cega, esta é a única forma de acessibilidade a um computador — avalia Fernanda Ribeiro Toniazzo, psicóloga e coordenadora geral do Inav.
A introdução do novo equipamento à rotina dos usuários do Inav começou pelas mãos do professor de informática Giovani França Pereira, 27 anos. Portador de deficiência visual congênita, Pereira é graduado em Análise e Desenvolvimento de Sistemas pela Universidade de Caxias do Sul (UCS) e apaixonado,claro, pelo mundo digital.
— O aparelho veio sem manual, mas estou estudando ele direitinho e já comecei a ensinar para as professoras e alguns alunos — afirma o professor, que também é aluno em outras inúmeras atividades promovidas dentro e fora do Inav.
Aos poucos, a máquina de escrever em braile começa a perder espaço para o novo equipamento, que funciona no modo autônomo e conectado ao computador e celular. O visor tem 20 celas brailes, cada cela braile tem oito pontos, que é a quantia de pontos do braile informático. O armazenamento ocorre em cartão SD e o carregamento ocorre via USB, meio pelo qual o aparelho pode ser conectado ao computador, ao celular, via Bluetooth e, nos dois casos, também funciona como um teclado.
Como Orbit 20 em mãos, Pereira recorda do primeiro celular adaptado que teve, com um recurso de voz instalado separadamente. Mesmo com a evolução dos aparelhos,ele acredita que há uma defasagem na oferta de acessibilidade a quem tem deficiência. Algo que, no entendimento dele, poderia ser resolvido por meio do diálogo.
—A inclusão no Brasil existe só no papel, na prática é bem diferente. Para fazer algum aparelho ou um espaço adaptado,é preciso entender a necessidade, buscando orientação com associações ou com os próprios portadores de deficiência ou, pelo menos, seguindo as normas direito — orienta Pereira.
ATENDIMENTO
Com uma aconchegante sede no bairro Cristo Redentor, em Caxias, o Inav atende atualmente a 160 usuários cegos e com baixa visão, com idades que variam de três meses a 86 anos. A equipe de 17 profissionais oferece os serviços de assistência social, educação e saúde. O serviço é mantido pela Fundação de Assistência Social (FAS) e pelo Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (Comdica), arrecadando fundos também por meio de carnês voluntários, brechó e eventos anuais como o tradicional Jantar às Cegas.
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