Quem passa pelo lago da represa São Pedro, no Complexo Dal Bó, no bairro Fátima, em Caxias do Sul, avista o que parece um imenso gramado. São plantas aquáticas que tomam praticamente toda a represa. As macrófitas (nome científico) podem surgir quando há excesso de matéria orgânica na água, ou seja, descarte de lixo, esgoto, insetos e animais em decomposição. A sujeira descartada nas ruas da cidade e no entorno da própria represa são carregadas pela chuva até as barragens e servem de alimento para a reprodução das plantas.
De acordo com o Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto (Samae), as macrófitas não são prejudiciais. No entanto, quando elas surgem em grande quantidade, como na represa São Pedro, é sinal que a lagoa está recebendo quantidade significativa de matéria orgânica originada de casas e indústrias. A reportagem percorreu o entorno da represa São Miguel até o encontro com a São Pedro e constatou acúmulo de lixo, como fraldas, papéis, garrafas pet, latas e sacolas plásticas, às margens da água.
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Em agosto deste ano, centenas de peixes morreram no lago da represa São Paulo, ao lado da São Pedro. O resultado da análise de amostras coletadas permite indicar que a provável causa é diminuição na concentração de oxigênio na água, em virtude da presença de plantas aquáticas na barragem. Equipes de uma empresa terceirizada trabalham com uma escavadeira hidráulica no local. As plantas são colocadas na beira da represa e depois em caminhões para serem levadas para fora da área de preservação. Elas serão usadas como adubo pelo Samae.
Frequentador está preocupado com a preservação da represa
O terapeuta Cristiano Sheyne Smiderle da Rosa, 43 anos, frequenta o Complexo Dal Bó para praticar yoga e meditação. Ele demostra preocupação com a conservação da represa:
— Faço trilhas, medito e visito frequentemente a represa. É meu jardim, um lugar mágico, e a água que deveria ser límpida está tomada por um tapete verde.
Ele também teme a possível reprodução de mosquitos da dengue porque há poças no entorno da represa São Miguel no caminho que leva até à São Pedro.
—Porque não fazem valas para escoar a água e evitar o risco de propagar a dengue, questiona ele.
Contraponto
De acordo com o Samae, a presença das plantas não altera a qualidade da água distribuída para a população. A equipe monitora o surgimento das macrófitas, e também há uma grade no vertedouro da represa São Pedro, evitando que as plantas cheguem em grande quantidade na represa São Miguel. É na São Miguel que é captada a água que abastece o centro da cidade e onde ocorrem os treinamentos do Programa Caxias Navegar da Secretaria de Esporte e Lazer (SMEL).
Já a secretaria de Saúde não teve como acessar o sistema para conferir se há denúncia sobre possíveis focos de mosquito no entorno da represa ou se as equipes já estiveram no local para coletar água. O sistema da prefeitura estava fora do ar desde a última segunda-feira (18), mas assim que possível, a assessoria iria verificar o assunto.
MACRÓFITAS
A macrófita se prolifera em função da presença de nutrientes na água. Quando em grande quantidade, como na Represa São Pedro, indica que a represa está recebendo quantidade significativa de matéria orgânica originada de residências e indústrias, efeito do processo de urbanização em áreas de recarga do recurso hídrico, ou seja, na região da Bacia de Captação do Complexo Dal Bó. A época de maior proliferação é no início da primavera, quando as temperaturas são amenas.
Porque o acúmulo
Há uma grade de contenção que visa impedir que as plantas evoluam para a represa São Miguel. O objetivo da contenção é evitar entupimentos das bombas de captação da água bruta, bem como facilitar o processo logístico de manejo das plantas (remoção até o nível de presença ideal no lago).
Função (pros e contras)
As macrófitas flutuantes não são plantas prejudiciais, inclusive são usadas em larga escala em processos de fitorremediação (plantas atuando como agentes de purificação da água, removendo nutrientes). Elas absorvem principalmente fósforo e nitrogênio presentes na água, reduzindo o risco de proliferação de algas. No entanto, caso entrem em processo de decomposição, podem prejudicar a qualidade da água. Nesse sentido, realizando o adequado manejo, as macrófitas melhoram a qualidade da água fornecida à população caxiense. Ressalta-se que as macrófitas não são algas, mas sim plantas aquáticas benéficas, que limpam a água em que vivem, por meio da absorção dos nutrientes.
Manejo
O manejo consiste na retirada das plantas flutuantes, como forma de reduzir a biomassa do lago e assim, utilizar os benefícios que as mesmas trazem a qualidade da água, que é retirar nutrientes da água. A previsão de conclusão é de 30 dias.
Abastecimento
O complexo Dal Bó é responsável pelo abastecimento de nove bairros de Caxias do Sul, o que equivale a 4% da população. Os bairros abastecidos são: Centro (parte), Jardim América (parte), Jardim Margarida (parte), Madureira, Marechal Floriano (parte), Pio X (parte), Primeiro de Maio, São José (parte) e Universitário.