A Polícia Civil vai investigar as circunstâncias que levaram um vigilante a atirar em uma cadela na manhã de domingo (20) em Bento Gonçalves. O fato ocorreu no entorno de um lago na área do Campus da Região dos Vinhedos da Universidade de Caxias do Sul (UCS).
Na ocasião, o vigilante atirou contra uma cadela da raça labrador de um casal que passeava no parque, e atingiu a pata esquerda do animal. O animal foi socorrido e está recebendo atendimento em Bento Gonçalves. Nesta segunda-feira (21), ela deve fazer um exame de raio X para, posteriormente, passar por uma cirurgia. O animal não corre risco de morrer.
— Ela está bastante assustada. Um ortopedista deve vir de Porto Alegre para fazer a cirurgia. Ainda não sabemos quando ela vai acontecer — comenta o publicitário Ricardo Aronson, dono da cadela.
Em depoimento à polícia, o vigilante afirmou que a segurança foi acionada por duas senhoras que estavam caminhando nas proximidades do lago, que teriam dito que pessoas estavam atirando objetos na água e maltratando um cão. O vigilante, então, conta que se deslocou até o local, e informou a uma colega que estava se dirigindo ao lago. Segundo o registro, essa colega chegou mais tarde, depois de ele já ter disparado contra o animal.
O vigilante disse no depoimento que, ao chegar ao local, encontrou um casal com a cadela, que estava saindo do lago. Ele relatou que o animal começou a rosnar e correr na direção dele e, por isso, teve que atirar. Na sequência, afirmou que ligou para a polícia e ambulância.
Já o dono da cadela, o publicitário Ricardo Aronson, contesta essa versão. Ele diz que não havia nenhum mau-trato e que o casal costumava levar a cachorra para passear nessa área, sendo que nunca haviam tido nenhum problema com a segurança.
— Ela inclusive brincava com outros cães também levados para passear ali — afirma.
Aronson diz que o vigilante chegou agressivo. O dono contou ter chamado a cadela, de nome Vick, de volta, mas ela continuou se dirigindo ao vigia devagar para farejá-lo, quando o vigilante sacou a arma e disparou. Na sequência, segundo o publicitário, outras pessoas que estavam no local auxiliaram o casal e uma delas levou a esposa de Aronson e o animal para atendimento; enquanto isso, ele seguiu para a Polícia Civil.
Conforme a delegada Maria Isabel Zermann, titular do 1º Distrito Policial de Bento Gonçalves, a investigação vai verificar qual era a situação que levou o vigilante a disparar. O revólver utilizado por ele, de calibre 38, e o estojo deflagrado foram apreendidos para investigação. A legalidade do porte será apurada e testemunhas serão ouvidas. Em princípio, segundo o registro policial, não há imagens de câmeras no local.
A UCS e a Gocil, empresa de vigilância contratada para a segurança da área, manifestaram que repudiam maus-tratos e que estão apurando o caso para tomar as providências necessárias. O vigilante foi afastado da operação enquanto a situação é investigada. A Gocil afirma que está dando todo o apoio à família e pagando as despesas de atendimento do animal.
O coordenador de operações da Gocil no Rio Grande do Sul, Fernando Martinelli, explica que a orientação para os vigilantes é que eles recomendem aos frequentadores que os animais permaneçam nas coleiras a fim de prevenir o risco de um possível ataque a outros visitantes do espaço.
— Reconhecemos que houve um excesso do nosso efetivo. A intenção é orientar. Não estamos ali de forma alguma para pedir que alguém se retire do parque — comenta.
Segundo Aronson, não há cercamento no lago, e tampouco sinalização na área proibindo o acesso ao lago ou recomendando sobre uso de coleiras nos animais.
Sobre essa questão, procurada pela reportagem, a assessoria de comunicação da universidade afirma que "a UCS permite a entrada de animais no campus desde que sejam conduzidos pelos seus tutores por meio de guias, respeitando as normas de segurança de pessoas e animais". Em relação aos lagos, informa que "não estão adequados para o uso de humanos e animais, são espaços ornamentais dos campi e não têm função recreativa", acrescentando que, mesmo não havendo sinalização, o fato de os lagos não serem recreativos implica que o seu uso não é recomendado. Ainda conforme a assessoria de comunicação, "a recomendação da UCS à empresa de segurança é para priorizar o cuidado e bem-estar das pessoas, dos animais e também a preservação patrimonial".
Confira as notas da UCS e da Gocil encaminhadas ainda no domingo:
O que diz a Universidade de Caxias do Sul
A respeito do episódio ocorrido no Campus Universitário da Região dos Vinhedos, em Bento Gonçalves, na manhã deste domingo (20), que envolveu o ferimento de um animal de estimação por disparo de arma de fogo, a Universidade de Caxias do Sul salienta que repudia com veemência qualquer tipo de maus-tratos praticados contra animais. Esclarece, ainda, que o ato foi praticado por vigilante da empresa Gocil, contratada para a manutenção da segurança das unidades universitárias, incluindo o referido campus. A instituição informa também que vai acompanhar as apurações do caso e tomar as providências que se apresentarem necessárias.
O que diz a empresa Gocil sobre o caso
A Gocil informa que no dia de hoje (domingo), 20 de outubro de 2019, houve um incidente na Universidade Caxias do Sul, na unidade de Bento Gonçalves, envolvendo um cachorro da raça labrador e um vigilante. Segundo informações, que estão sendo apuradas, hoje pela manhã (domingo pela manhã) uma pessoa estava brincando com cão, sem coleira, próximo a um lago. O vigilante Gocil estava em ronda quando, segundo ele, o cão veio em sua direção para atacá-lo e o mesmo se defendeu com um disparo, acertando a pata do cachorro. No momento, a operação da Gocil socorreu o cão, que passa bem. A Gocil repudia qualquer tipo de maus-tratos contra animais, está prestando toda assistência ao proprietário e ao animal, além de estar à disposição para qualquer esclarecimento. O vigilante foi afastado da operação e a segurança do local não foi afetada.