Há muito anos que os limites deixaram de existir e o crack produz efeitos danosos em locais improváveis, caso da Avenida Júlio de Castilhos, em Lourdes. Elizabeth Finco Pedron, 67 anos, uma das herdeiras do centenário casarão da família Finco, ao lado da Igreja do Santo Sepulcro, deixou a moradia há quatro meses por causa da insegurança provocada por invasores do também histórico casarão da família Rigotto, do outro lado da rua.
Vazia desde 2013, a residência virou reduto de usuários de drogas nos últimos três anos e foi alvo de pelo menos três incêndios de pequenas proporções. O imóvel está condenado pelos bombeiros e já foi todo depenado pelos ladrões. Os Rigotto tentam obter autorização para demolir a casa na Justiça.
— O engenheiro disse que não tem o que fazer. Ali dentro, roubaram telhado, tem infiltração, colocaram fogo. Acredita que (os invasores) colocaram cadeado para ninguém entrar? Neste final de semana, dei uma volta pela cidade e vi muitas casas invadidas — diz Julius Rigotto.
A polícia até entra na casa da família, mas no dia seguinte ou na mesma noite, a residência volta a ser ocupada. Como é uma propriedade particular, os serviços públicos de saúde e de assistência social não entram no imóvel, pois a abordagem pode ficar caracterizada como invasão. No lado oposto, uma impotente Elizabeth sofre as consequências
— Cansei de ver gente sentada na frente da minha casa fumando crack. Comecei a ter síndrome do pânico e sequer abria a janela de noite para não me verem. Tinha de chamar o monitoramento para me cuidar para chegar em casa. Não deu mais. Mudei para outro bairro — desabafa a mulher, que apenas passa o dia no casarão dos Finco.
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O desamparo é sentido pelos vizinhos do antigo prédio do INSS, em São Pelegrino. Desde 2011, o imóvel que foi da União e hoje está com o município continua sem serventia. Gastou-se dinheiro público para instalação de gradil de concreto e alvenaria nas portas e janelas. Não adiantou nada. Na esquina do antigo INSS, a área cercada de uma velha banca de revistas também abriga invariavelmente alguém.
O tráfico de crack mantém os viciados nas proximidades que, por sua vez, buscam abrigo no imóvel público. As confusões e brigas são corriqueiras, segundo o comerciante Osvam Hoffmann. Neste ano, Ellen de Pontes Santos, 18, foi assassinada e teve o corpo queimado numa das salas vazias. A prefeitura ainda não tem definido o que pretende fazer com o patrimônio deteriorado.
— Vi construir esse prédio, brinquei nas fundações. Foram depenando aos poucos e não sobrou nada. De uns tempos para cá, ficou muito mais inseguro e tem muita sujeira. Tem que ligar na Codeca para fazer a limpeza. É lamentável — reclama Rogério Marcon, 62, vizinho ao lado.
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