Primeiro delegado de Tóxicos no Rio Grande do Sul (final dos anos 1960) e juiz aposentado, Luiz Matias Flach teve a tarefa de encerrar as atividades do Instituto Crack Nem Pensar (ICNP), em 2016, onde atuava como presidente desde 2014.
A instituição nasceu de uma campanha da RBS e reunia representantes da sete instituições diferentes sem fins lucrativos. Com reconhecimento nacional e internacional, o ICNP promoveu seminários, debates, palestras e outras ações. A entidade considerou que o papel já havia sido cumprido e optou-se pelo fechamento. Flach, que também presidiu os antigos Conselho Federal de Entorpecentes e Conselho Estadual de Entorpecentes, avalia o atual estágio de mobilização contra o crack.
Por que o instituto fechou?
Terminou porque eu havia encerrado meu mandato e não havia interessados, logo eu também vislumbrava que poderíamos ter problemas financeiros (em função dos cortes no orçamento do governo e da crise econômica, que afetaram, por exemplo, o programa Crack é Possível Vencer).
Estamos desmobilizados?
A percepção é certa, há desânimo. O momento é de inércia. Vejo que o Osmar Terra tem um projeto para criar sistema que favorece comunidades terapêuticas. Não sou contra, mas é um sistema pesado, de difícil administração e não muito científico.
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Como o senhor avalia o atual cenário?
As ideias conservadoras estão no auge no Brasil, sendo que a tendência mundial é o contrário, que é ver a questão das drogas como saúde, como problema socioeconômico, e não ser centrado na guerra às drogas. A posição da ONU e de estudiosos é de que a política centrada na repressão não levou a conquistas interessantes. Até então, havia a controvérsia estabelecida, de que havia como evoluir, que era esse o caminho. Mas no Brasil, no momento, se aponta quem é a favor da descriminalização das drogas. Hoje, temos encarcerado é os passadores de "baganas", prisões que acho uma tragédia. Veja bem: as mulheres são presas em sua maioria por tráfico, mas você não vê as mulheres no comando do tráfico. É a velha política de culpar o doente pela sua doença.
Há solução?
Faltam intervenções do Estado. Por ora, se intervém no sentido de prender alguns e espantar os demais. A questão é que as políticas públicas são difíceis de fazer. Fazem desintoxicações ineficazes. O Estado não busca enfrentar o problema. O tráfico seja bagana ou tráfico organizado são punidos tecnicamente pelo mesmo crime. O certo é que o tratamento involuntário não é o melhor caminho porque, pela experiência que se tem, se faz internações breves, no sentido de desintoxicação e logo se caracteriza de novo o quadro anterior. Sem intervenção de saúde, educação, sanitárias as esperanças são diminutas. Precisamos é de diversidade de estratégias.
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