Você está amamentando o bebê com mamadeira e ele começa a tossir e fica com o rostinho rosado. A respiração fica difícil e, em poucos segundos, o desespero toma conta. Essa cena figura entre os medos dos pais e é uma realidade, já que o engasgamento, seguido de sufocação, representam uma das principais causas de morte de bebês no Brasil. Segundo levantamento do Ministério da Saúde, em 2016 mais de 800 crianças morreram por esse motivo, sendo que, em 77% dos casos, os bebês tinham menos de um ano de idade.
A Sociedade Brasileira de Pediatria, aponta que as crianças de um a três anos, são as mais vulneráveis porque não possuem controle total da mastigação e deglutição de alimentos. Nos menores de dois anos, os engasgos podem ocorrer enquanto são amamentados, principalmente, com mamadeiras, líquidos ou medicação via oral. Brinquedos com peças pequenas e materiais sintéticos, como bexigas, também podem provocar sufocamento.
Chama a atenção, o número de casos em que as crianças com menos de dois anos foram salvas com orientações repassadas pelos Bombeiros, no período de poucos dias na Serra. No dia 27 de agosto, uma equipe estava na sala de operações do Corpo de Bombeiros de Bento Gonçalves quando, por volta das 11h, uma mulher desesperada ligou pedindo socorro. Era uma mãe, aflita com o engasgamento da filha, de um mês, que havia acabado de receber um medicamento líquido. Quatro dias depois, em 31 de agosto, três soldados dos Bombeiros de Farroupilha salvaram, com informações por telefone, uma menina de seis dias, que se engasgou. O pai dela foi orientado a realizar um procedimento de sucção pelas vias orais que salvou a criança. Em 3 de setembro, a mesma equipe ajudou no salvamento de uma menina de um ano e seis meses, no bairro Pio X, em Farroupilha.
Leia mais
Por telefone, bombeiros voluntários de Antônio Prado salvam bebê engasgado
Por telefone, bombeiros de Bento Gonçalves ajudam a salvar bebê engasgada
Bombeiro que ajudou a salvar bebê engasgada em Bento Gonçalves explica quais as orientações para esses casos
Na área de abrangência do 5º Batalhão de Bombeiro Militar, cinco ocorrências foram atendidas em 2018. Neste ano, até 24 de setembro, foram registrados nove casos: três em Canela, dois em Bento Gonçalves, dois em Farroupilha, um em Veranópolis e outro em Vacaria. Ainda conforme os Bombeiros, metade das ocorrências são solucionadas com instruções por telefone.
Enquanto o atendimento é realizado pela equipe no quartel, uma viatura é encaminhada até local para verificação dos sinais e encaminhamento ao atendimento médico-hospitalar.
Risco de bebês que mamam no peito é menor
A coordenadora do Setor Pediátrico do Hospital Geral e pediatra Maira Ester Soares De Carli, orienta pais e responsáveis a ficarem atentos. A sufocação, informa, é a causa mais frequente de acidentes no primeiro ano de vida porque é preciso considerar a imaturidade neurológica, respiratória e digestiva do bebê.
— Eles têm mais facilidade em se engasgar, e em caso de sufocamento há risco de morte. Caso consigam reverter o engasgo, pode ficar com sequelas devido ao tempo que ficaram sem respirar– ressalta.
Há uma série de ações educativas para prevenir: a primeira pretende evitar que a aspiração aconteça e a segunda, caso ocorra o engasgo, reduzir o risco de sequelas:
— A amamentação é uma das medidas mais importantes. O risco de um bebê que mama no peito aspirar o leite é menor, porque reduz a regurgitação e os vômitos. Com a mamadeira, o fluxo do líquido não é controlado, o que aumenta a possibilidade de acidentes. No peito, ele suga quando tem fome.
Denize Duarte, 31 anos, recebeu orientações da pediatra para amentar a filha Jeovanna Antonella Duarte Fachinello, com dois dias. A maneira de colocar o bebê para mamar é fundamental para evitar engasgos.
— Com a mamadeira o bebê fica mais deitado e não há a mesma proteção dos que estão no peito da mãe. Outro ponto essencial é amamentar as crianças conforme o seu ritmo, prestando atenção aos sinais de quando ele está com fome. Se chorar, a ansiedade da criança e dos pais, pode levar a engasgos. A médica reitera:
— É importante que quando vá amamentar a mãe esteja fazendo apenas isso e não se distraia com outras coisas.
Denize concorda:
— É um momento nosso e procuro estar focada enquanto ela mama.
DICAS
Quando engasga
:: Verificar se a criança está respirando.
:: Não entrar em pânico.
:: Não jogar o bebê para cima.
:: Não sacudir a criança.
:: Não provocar o vômito.
:: Apoie a criança no antebraço, mantendo-a levemente curvada para baixo. Dê tapas firmes nas costas, até que o bebê consiga expelir o leite ou o que provocou o engasgo.
:: Deite a criança de lado com a cabeça mais baixa para o leite fluir.
:: Se criança entrar em parada respiratória é preciso uma manobra chamada Reanimação Cardiopulmonar (RCP) com 15 compressões com os dedos no peito da bebê. O procedimento deve ser realizado com a criança deitada sobre uma superfície firme e reta.
:: Após pressionar o peito, faça a ventilação de resgate ou insuflação, quando é preciso assoprar ar pela boca da criança.
:: O ciclo de compressão do peito e ventilação pode ser mantido por dois minutos.
Como evitar
:: Amamente os bebês em local tranquilo para que a criança não sugue o peito ansiosamente.
:: Após a amamentação, deixe o bebê em pé, no colo, por pelo menos 20 minutos antes de deitá-lo.
:: Cuidado com os bicos e chupetas que ficam penduradas nas roupas dos bebês.
:: Deixe o bebê dormir do lado direito para não comprimir o estômago.
::Não deixe almofadas, travesseiros, cobertores e brinquedos no berço.
:: Só compre brinquedos certificados pelo Inmetro e que sejam indicados para a faixa etária.
:: Evite peças de roupas com botões e cordões que as crianças possam arrancar e colocar na boca.
:: Deixe o chão de casa sempre limpo e tenha cuidado ao manusear grãos.
:: Evite alimentos como pipoca e balas.