*Marcus Gravina é advogado
Os fatos são quase iguais. Os personagens é que mudam. Em meados de 2017 o encontro foi entre um juiz da mais elevada corte judicial do país com o presidente Temer e dois de seus ministros – Eliseu Padilha e Moreira Franco.
O Correio do Povo publicou: “Temer, Padilha e Moreira Franco foram a um jantar na casa de Ministro do Supremo em agenda secreta. O ministro do STF e presidente do TSE, Gilmar Mendes, manteve um encontro secreto, sem registro na agenda do Palácio do Planalto, com o presidente Michel Temer na noite da última terça-feira, segundo o jornal O Globo”.
Houve uma branda polêmica, logo sufocada. O senador Randolfe Rodrigues, diante da sua “bola de cristal”, vislumbrou e disse: “Do mais alto mandatário da Nação, se espera principalmente que ele não utilize o cargo como habeas corpus. Por parte de um ministro do Supremo, se espera que ele se abstenha de qualquer contato com alguém que provavelmente será réu no STF”.
Isso em 30 de junho. Em seguida por uma destas coincidências, li em Zero Hora do dia 6 de julho o artigo de Cezar Miola: “Agendas Sem Segredos - As agendas das autoridades podem nos dizer muito. A falta delas também. Com frequência, tomamos conhecimento de que agentes públicos por vezes se reúnem com diferentes atores em horários ‘atípicos’ ou espaços não usuais. E que tais encontros, quiçá por furtivos, não constam das respectivas agendas oficiais”.
Em 10 do mesmo mês escrevi um artigo. Estava indignado, por isso o título foi: “Apatifaram o TSE” . Tá na cara que as conversas entre ambos já haviam iniciado muito antes. Explico: o TSE, presidido pelo ministro Gilmar Mendes, protelou a entrada em pauta do julgamento da cassação da chapa Dilma-Temer. Apoiou o relator do processo ministro Herman Benjamim na coleta de mais provas e testemunhas. O relator realizou um exaustivo trabalho que ao final revelou as ilegalidades de abuso de poder político e econômico e de ter se beneficiado do caixa 2 de campanha.
Neste meio tempo Temer nomeou outros dois ministros, supostamente amestrados, para o TSE e que foram contrários a aceitação das novas provas trazidas ao processo e contaram com a súbita mudança de entendimento do presidente Gilmar Mendes, que havia apoiado expressamente o ministro Hermann Benjamim. Não satisfeito, ainda o destratou durante o julgamento, dizendo que graças a ele o ministro Benjamim “havia conquistado as manchetes da mídia e uns momentos de glória”. Rematou com toda a sua empáfia mandando a “modéstia às favas”.
E agora, Gilmar, vai julgar os homens, depois de jantares íntimos, secretos e de conhecimento público? O Moro conversou com procuradores da República. Mas, o jantar ao molho pardo foi secreto com quem já vinha respondendo ações em instâncias inferiores, cujos processos estão e outros continuam chegando aos tribunais superiores.
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