Quando relembra a sedutora proposta de rentabilidade diária, um empresário de Caxias do Sul sente enorme frustração. Experiente no ramo dos negócios, o homem e familiares investiram juntos R$ 600 mil na NegocieCoins em maio deste ano. O dinheiro está retido pela empresa desde então e o empresário busca forças para superar a crise financeira em que se meteu.
— Era minha economia de 15 anos de trabalho.
Ele não está sozinho. Milhares de pessoas estão sem acesso ao dinheiro aplicado há meses em diversas empresas que se dizem especializadas em bitcoins e muitos estão procurando a Justiça para reaver os valores. O caxiense já conhecia o mercado de criptomoedas e chegou a fazer um curso para aprender mais sobre o ofício. Soube da NegocieCoins e investigou para saber era uma empresa séria. Não encontrou contradições.
— Estava tudo redondinho. Fiz um filtro bem grande antes de entrar. Passaram 15 dias, pedimos o primeiro saque e veio rápido. Quando solicitei pela segunda vez, trancou, demorou uma semana para vir. Dali pra frente, não veio mais nada, daí acusaram o golpe dos hackers — relembra o empresário.
O caxiense projeta um futuro complicado se os R$ 600 mil não retornarem para a família. Ele decidiu procurar orientação jurídica.
— Nossa, faz falta. Estamos apavorados. Balançou bastante as finanças. A gente acaba agindo com emoção, e com emoção queremos esperar, acreditar. Então, precisamos de alguém mais racional para nos dar orientação. Estou estruturando minha vida para que ela seja bem mais econômica. Tive que recorrer a empréstimo e imagino que tenha de vender até mesmo meus bens — desabafa.
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Muitas pessoas que investiram dinheiro por meio de terceiros no mercado de criptomoedas têm vergonha de serem taxadas como vítimas de um possível estelionato. Um trabalhador pegou financiamento de R$ 70 mil num banco e parcelou para pagar com os juros que obteria na aplicação da Indeal. Agora, está arcando com prestações maiores do que o salário.
Um empresário do ramo imobiliário disse à reportagem que colocou recursos na Indeal em setembro do ano passado. Começou com R$ 3,5 mil e foi aumentando gradativamente até chegar a R$ 46 mil na carteira da Indeal.
— Fiz o pedido de sangue pouco dias antes da operação da polícia e levaram 15 dias para pagar. O dinheiro faz falta sim, minha mãe está doente, preciso pagar uma cuidadora. Esperei para ver o que aconteceria, mas não tem muito o que fazer — lamenta.
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