Mesmo não sendo uma prática reconhecida oficialmente pela Igreja Católica, muitos símbolos e orações da religião cristã integram os procedimentos de benzedura, sendo comum à maioria o fato de serem praticantes e devotos de santos da instituição.
Em Galópolis, bairro de Caxias do Sul, o próprio padre responsável pela Paróquia Nossa Senhora do Rosário de Pompéia, Paulo Venturin, 59, é procurado por paroquianos e pessoas de outras localidades em busca de cura por meio da fé.
Leia mais
De mau-olhado a rendido: benzedeiras ainda são procuradas em Caxias do Sul
Tradição da benzedura vira objeto de pesquisa acadêmica e de montagem teatral na Serra
— A medicina nem sempre consegue resolver e algumas curas realmente são conseguidas só com as bênçãos — afirma o religioso, que não se considera um benzedeiro, apenas uma pessoa que tem o "dom" e que procura usá-lo para o bem.
— Não é benzedura, é uma bênção que eu dou usando o sinal da cruz acompanhado de orações e fórmulas especiais, que estas eu não revelo — explica o padre.
Dependendo do caso, ele também faz uso de água benta e de uma aliança de ouro que Venturin usa no dedo anelar da mão direita desde o dia de sua ordenação, que ocorreu há 24 anos, em Antônio Prado. Na cerimônia, a joia foi abençoada por Dom Paulo Moretto.
Inspirado em outros padres reconhecidos em suas comunidades por bênçãos de cura, há 15 anos, Venturin usa seu dom e diz sentir-se realizado por fazer cessar o sofrimento das pessoas que o procuram, em sua maioria, para resolver problemas de aftas na boca, cobreiro e esporão calcâneo - o popular "esporão de galo", uma inflamação que afeta a planta do pé. Pais de crianças agitadas, que não dormem, também o procuram e ele afirma que o resultado é garantido em todos os casos.
— É preciso ter uma espiritualidade muito profunda para dar a bênção e quem recebe precisa ter fé. Dou a benção como um instrumento de Deus. O processo de cura não tem uma explicação, mas ele acontece, é um mistério da fé.
Ele cita um trecho da Bíblia, do capítulo nove de João, no qual Jesus encontra um homem cego de nascença e o faz voltar a enxergar.
— Na passagem Jesus ensina que o homem nasceu cego para que, por meio dele, se manifestassem as obras de Deus, neste caso, a cura. Deus dá o dom e quem o recebe precisa colocá-lo a serviço do bem. Eu sou padre, tenho o dom e acredito que as pessoas que benzem não cometem pecado porque fazem isso para o bem.