Os 1.080 estudantes da Escola Santa Catarina — que integra a rede estadual em Caxias do Sul — estão, há cerca de dois meses, com acesso limitado aos serviços da biblioteca. O chamado Espaço de Leitura Alquimia do Saber está com atendimento restrito desde que o Governo do Estado iniciou um processo de remanejo de professores em toda a rede, sob justificativa de reorganizar o quadro para, depois, iniciar as contratações onde ainda houver falta de efetivo.
Ainda não há previsão de quando o quadro ficará completo. Desde o início do ano letivo a escola aguarda a reposição de docentes nas disciplinas de artes e espanhol para o turno da tarde; e de física, para o turno da noite.
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A disciplina de história não tinha demanda na escola, mesmo assim, por ser contratada como professora da matéria, a funcionária Gilvânia de Almeida, 50, foi redirecionada à sala de aula após atuar na biblioteca do educandário ao longo dos últimos três anos.
Ela conta que, após 15 anos lecionando no Santa Catarina, acabou assumindo a função na biblioteca para tocar um projeto que desenvolveu visando qualificar o espaço para utilização dos alunos.
Com a reorganização, orquestrada pela 4ª Coordenadoria Regional da Educação (CRE), Gilvânia precisou voltar a cumprir suas 20 horas de convocação dentro de sala de aula e, por estar cursando Biblioteconomia, conseguiu negociar as 20 horas de nomeação para dar sequência ao atendimento literário.
— Isso acabou desestimulando os alunos quanto à leitura, porque eles não têm mais quem os oriente ou indique livros e o acesso ao material também fica limitado — comenta a professora.
No período em que atuou pela biblioteca do colégio, Gilvânia promoveu a renovação do acervo, a catalogação de todos os livros e implantou a informatização do sistema de controle das retiradas que, há três anos, ainda eram controladas por meio de anotações em fichas.
— É triste ver tudo que a gente fez, agora sem ninguém para dar continuidade, a biblioteca sem atendimento — lamenta.
A experiência com a organização do acervo literário motivou Gilvânia a buscar formação na área. Ela planeja concluir, até o final deste ano, o curso de Biblioteconomia que faz à distância pela Universidade de Caxias do Sul.
— Faltam apenas quatro anos para eu me aposentar, pretendo trabalhar com isso depois.
Professores em sala de aula
Em passagem por Caxias do Sul no dia 15 de maio, na inauguração da Escola Estadual de Ensino Médio Paulo Freire, que atende o Centro de Atendimento Socioeducativo (Case), o secretário estadual de Educação, Faisal Karam, questionado pela reportagem a respeito do remanejo nas escolas, destacou que os professores devem exercer a disciplina para a qual prestaram concurso.
— A biblioteca é um braço importantíssimo na educação dos alunos. Sempre dissemos que aquele professor que é de outra disciplina pode fazer atividades com os alunos na biblioteca. Nunca foi dito para fechar e, a partir do momento que estado tem uma condição financeira, de responsabilidade fiscal, de poder fazer concurso para um bibliotecário, nós teremos profissionais dentro das bibliotecas e não serão professores — afirmou o secretário.
Na prática, porém, o serviço acaba sendo prejudicado:
— Pra mim, tirar a professora da biblioteca faz uma falta extrema, desestrutura o trabalho pedagógico desenvolvido, é difícil, tem livros ótimos, e os livros acabam se perdendo se não tem acompanhamento. Sem contar a frequência dos alunos que diminuiu, os professores estão levando as turmas conforme conseguem — comenta o diretor do Colégio Santa Catarina, Genor Zuanazzi Urio.
Ele reconhece que o caso da professora esteja dentro da reorganização proposta pelo governo, mas lamenta que nenhum profissional seja direcionado ao atendimento da biblioteca.
— Ela reestruturou a biblioteca. O projeto sobre autores que desenvolvemos com os alunos também fica prejudicado agora. Não tivemos mais remanejo, mas se eu perder pessoal da secretaria para sala de aula não terei mais condições. Sempre tem professor no administrativo pra fazer a parte pedagógica, precisamos ter quem faça essa parte — defende.
Deficiência de docentes e funcionários afeta estudantes
Além da falta de professores, ainda sem previsão de reposição de profissionais e recuperação das aulas perdidas, os estudantes precisam de uma organização extra para garantir o acesso aos serviços da biblioteca, que funciona em horários específicos da semana.
— A gente ainda consegue frequentar no horário do recreio, para leitura, mas para fazer trocas, ter outras orientações e acessar determinados livros, precisamos ficar de olho nos horários de atendimento — relata Lara Paim da Silva, que preside o grêmio estudantil do colégio.
Estudante do terceiro ano do Ensino Médio, Lara pretende ingressar em uma graduação de artes visuais. Ela planeja prestar vestibular no ano que vem e conta com o material da biblioteca para a preparação.
— Pego livro toda semana, os clássicos, indicados pro vestibular, e quando é só por entretenimento também leio aqui.
Afetada pela limitação no atendimento da biblioteca de sua escola, Lara também entende que isso pode prejudicar os demais estudantes do Santa Catarina e de escolas que passem pela mesma situação.
— Têm alunos que não conseguem comprar livros, não têm conhecimento de bibliotecas municipais. Aqui encontramos vários livros que precisamos, desde pesquisa até gibis e mangás. É uma forma de incentivo à leitura.
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