Além das comemorações de Corpus Christi, este 20 de junho tem significado especial para a comunidade de Flores da Cunha. Tradicionalmente, nesta data é realizada a Romaria ao Frei Salvador Pinzetta, capuchinho que pode se tornar o primeiro brasileiro beato da congregação no país. Mas, neste ano, as atividades terão a presença de dois freis que vieram de Roma para acompanhar as celebrações e, mais do que isso, ouvir relatos de moradores sobre casos que poderão passar a ser investigados como possíveis milagres atribuídos à intercessão de frei Pinzetta.
– Sobretudo, este ano é importante porque em 13 de maio, o Papa autorizou o decreto que certifica que Frei Salvador Pinzetta viveu de maneira heroica as virtudes da fé, esperança e caridade e, na vida religiosa, observou os votos de obediência, pobreza e castidade. Este é o motivo pelo qual, neste ano, viemos a Flores da Cunha, porque concluímos uma primeira etapa da causa. Agora, se abre outra, porque pela beatificação se reconhece que frei Salvador poderá ter um culto público e será proposto como exemplo e modelo. Para isso, precisamos provar um fato extraordinário, que comunmente chamamos milagre, algo que a ciência não pode explicar – declarou frei Carlo Calloni, postulador-geral do processo na Causa dos Santos dos Capuchinhos em Roma.
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Como exemplo, frei Calloni cita a cura inexplicável de uma doença ou alguém que, sem explicação escapa ileso de um acidente que, notadamente, levaria a ferimentos graves ou até a morte. A fase anterior mencionada pelo postulador se refere ao processo aberto na Diocese do município e enviado a Roma e que tornou o frei Pinzetta primeiro Servo de Deus e, depois, Venerável, posto em que se encontra atualmente.
Frei Calloni explica que por ser venerável, as pessoas podem rezar para frei Pinzetta, o que na prática, ocorre há anos. Podem ser distribuídas fotos dele, como também já se faz. Podem ser feitas estátuas dele, mas ainda não é permitido pela Igreja que ela seja posta em local de destaque em altar, por exemplo, ou que tenha algum sinal ou referência de santidade, nem culto. Mas a imagem pode permanecer no lugar que ocupa junto ao seu túmulo, dentro da Igreja Matriz.
Frei Calloni e frei Antonio Haddad chegaram em Flores da Cunha no último sábado e ficam até este sábado. O postulador local da causa, frei Sergio Marcelo Dal Moro, espera encontrar, entre os relatos de pessoas que dizem ter rezado ou pedido a intercessão de frei Pinzetta e, assim, conseguido melhora inexplicável pela medicina, o milagre necessário para a beatificação.
– Seguramente, a fé é importante, mas é preciso ter calma, para não criar na população uma expectativa muito grande – pondera Calloni.
São cinco capuchinhos em processo de canonização no país – quatro deles italianos missionários e apenas Pinzetta brasileiro. Três já são veneráveis e dois Servos de Deus.
A Romaria a Frei Pinzetta está na 30ª edição. A caminhada sai da Igreja Matriz, no Centro, às 13h30min, e segue por cerca de três quilômetros até o Eremitério, onde ocorre celebração eucarística e benção da saúde.
Quem foi
:: Frei Salvador Pinzetta nasceu em 29 de julho de 1911, em Casca. Iniciou a vida religiosa com os capuchinhos no ano de 1944 em Marau e logo depois, foi para o Seminário Sagrado Coração de Jesus, de Flores da Cunha, onde desenvolveu a maior parte de seus trabalhos religiosos. Ele morreu, aos 61 anos, após um acidente vascular cerebral (AVC). Segundo relatos dos moradores de Flores da Cunha, o frei levava uma vida humilde e tinha como principais características a fé, caridade, oração e trabalho.
:: Frei Pinzetta não era padre. Maior parte da vida passou trabalhando nos afazeres do convento, portanto, sem muito contato com a comunidade. Nos últimos dois anos de vida, se tornou ministro da eucaristia. Visitava as casas dos moradores doentes que não podiam deslocar até a igreja para comungar e ao hospital. Rezava com as famílias.
:: Quando da sua morte, em 1972, houve uma comoção geral na comunidade, de onde se percebeu que ele tinha fama de santidade, o que precede os processos de canonização.
Possíveis milagres serão avaliados aqui e em Roma
O postulador da causa de frei Pinzetta em Roma, Carlo Calloni, refere que a comprovação de um milagre requer pesquisa, documentos (inclusive médicos) e coleta de provas e testemunhos que certifiquem a relação do fato extraordinário com a invocação ao frei Pinzetta. Esse trabalho caberá ao postulador local.
Identificado o possível milagre, reunidas as provas para a comprovação, o material enviado a Roma e submetido à análise de especialistas da área da teologia e da ciência, que avaliarão tudo e dirão se existe ou não um milagre. Ao fim, o Papa dará a palavra final sobre a beatificação ou não.
A cerimônia, caso ocorra, que antes era realizada em Roma, por determinação do Papa Bento XVI, passou a ser na Diocese. Ou seja, caso seja beatificado, um representante do Papa virá a Flores da Cunha para o ato. A mudança ocorreu para valorizar a Igreja local.
O processo
:: O movimento para tornar o frei venerável Servo de Deus começou em 1977, cinco anos após a morte dele, em 31 de maio de 1972.
:: O processo foi aberto em abril de 2011 na diocese de Caxias do Sul, com a instauração do Tribunal Eclesiástico Diocesano.
:: Os documentos foram levados para Roma pelo então postulador local, dom Ângelo Domingos Salvador, no ano seguinte. Depois disso, o vice-postulador, frei Celso Bordignon, ficou responsável por dar prosseguimento ao processo no Brasil. E, recentemente, o frei Sergio Marcelo Dal Moro assumiu a causa no âmbito da Diocese.
:: Em 13 de maio deste ano, o frei Salvador Pinzetta foi tornado venerável pelo Papa Francisco.
:: Para a beatificação é necessária a confirmação de um milagre. Escolhido um caso em que existe a possibilidade de ter ocorrido milagre, o postulador local pesquisa, reúne documentos (inclusive médicos) e coleta provas e testemunhos que certifiquem a relação do fato extraordinário com a invocação ao frei Pinzetta. Identificado o possível milagre, reunidas as provas para a comprovação, o material enviado à Congregação da Causa dos Santos, em Roma, onde se avaliará o caso, primeiro com opiniões de dois médicos, indicados pela Congregação. Se o parecer for positivo, nova avaliação será feita por uma junta médica composta por sete profissionais. Se, ao menos cinco derem parecer favorável, o processo continua. Aí, o caso é analisado por nove teólogos que avaliam a invocação e a intercessão. Se ao menos sete atestarem que houve, o processo é remetido a reunião de 22 cardiais e bispos que examinam o caso. Se eles também atestarem, o caso é encaminhado, em forma de um relatório, ao Papa que, se estiver de acordo, declara a beatificação. Se não concordar, o Papa arquiva-se o caso.
:: Caso seja considerado beato, o passo seguinte, a canonização, quando frei se tornaria santo, depende de um segundo milagre e todo o processo de comprovação é feito de novo.