A ideia batizada de Brasil sem Frestas nasceu em Passo Fundo, no Rio Grande do Sul. Preocupada com a população mais pobre da cidade Maria Luísa Camozzato, perdeu o sono em um noite de forte temporal, em 2009, e enquanto via pela janela o granizo e ouvia o estrondo dos raios e trovões, ela pensou nas pessoas que vivem em casas de madeira, desprotegidos da chuva.
— Acordei numa madrugada em setembro, às 4h da manhã, com o barulho de uma tempestade horrível, com muitos raios e trovões. Fiquei pensando se eu no conforto e segurança do meu apartamento sentia medo como estariam as pessoas que eu via quando era pequena e ia nas vilas com a minha tia que fazia trabalho social. Essas pessoas que moram em casas feitas com restos de madeiras, como elas se protegem das tempestades, da água da chuva e do frio? Eu fiquei pensando por duas horas — afirma.
O estalo, definido por ela como "um plano divino", surgiu em uma frase que veio de repente, como se Deus olhasse para baixo e falasse com ela:
— Chega de me incomodar, fecha com caixa de leite.
Ex-professora de química industrial na Universidade de Passo Fundo (UPF), Maria explica que a embalagem cartonada dura cerca de 200 anos, e sabendo disso surgiu a ideia de usar as caixas como matéria-prima para forrar as paredes, evitar a entrada da chuva e ser um isolante térmico. As caixas são compostas por seis camadas:
— Tem uma camada de plástico, uma de papelão, outra camada de plástico, uma de alumínio e, por fim, mais duas folhas de plástico. Essas características tornam as caixas impermeáveis e fazem delas um ótimo isolante térmico para aquecer no inverno e refrescar no verão.
Ela pesquisou sobre o tema na manhã daquele dia e reuniu as primeiras caixas do leite consumido em casa. Uma semana depois, começou os testes até encontrar os equipamentos certos. A fabricação começou um ano depois:
— A primeira casa nós grampeamos caixinha por caixinha na parede, e depois grampeávamos as caixas umas as outras, até chegar ao processo de costurar e formar as chapas com o material para revestir as paredes. Em Passo Fundo já forramos mais de 230 casas e levamos qualidade de vida a essas pessoas.
Atualmente, há multiplicadores do Brasil sem Frestas em mais de 20 municípios no Brasil.
— A ideia é para ser jogada ao universo para ajudar a quem precisa. Não sabemos o que essas pessoas passam, eles não tem o que comer, como vão arrumar suas casas? Esse projeto não é meu, ele é de Deus, e quanto mais pessoas puderem ajudar a mudar a vida do próximo mais sementes serão plantadas — emociona-se.
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