Uma das interligações dos bairros São Caetano e Nossa Senhora das Graças se dá por meio da Rua Libero Rizzo, estradinha de chão vicinal com cerca de 800 metros de extensão na zona sul de Caxias. Ali próximas, estão a Estrada Municipal do Vinho e, do outro lado, a Estrada do Imigrante, ambas consideradas rotas turísticas do município. Diferentemente dessas, no entanto, a Libero Rizzo não dispõe de um cenário de casas históricas e vales: o que chama atenção na via é a quantidade de lixo descartado irregularmente nas suas margens.
— Tem dias que é tanto lixo despejado que os motoristas só conseguem usar um dos lados da rua — comenta o mecânico, Paulo Ricardo Ferrari, morador das proximidades.
Há resíduos de todo o tipo, embalagens de produtos, caliças, sofá e até já houve carcaça de um carro incendiado.
— Já desovaram dois corpos por ali. A Codeca passa esporadicamente, mas até recolher são pilhas e pilhas de lixo que se acumulam — acrescenta.
Há pontos com indícios de queima de lixo e até fontes de água são contaminadas com o descarte de material. Segundo Ferrari, pessoas vêm de carro para descartar resíduos no local. Ele diz já ter visto até veículos de empresas fazendo isso:
— Não dá para entender. É um risco para a nossa saúde com proliferação de insetos e mosquitos e até de incêndios dessa mata nativa ao redor.
O mecânico ressalta ter denunciado a prática várias vezes à prefeitura. Entretanto, o poder público alegaria que pode somente notificar o proprietário do terreno que margeia a pista, apesar da maior parte dos resíduos serem despejados, de fato, na via pública. Ao Pioneiro, a Companhia de Desenvolvimento de Caxias do Sul (Codeca) informou que não recebeu reclamações recentes específicas a essa área, contudo, deve realizar a verificação no local nos próximos dias.
Não muito longe dali, na Rua José Casara, no bairro São Caetano, moradores da região denunciaram a existência de outra área usada para descarte ilegal. Na sexta-feira, no entanto, quando o Pioneiro foi ao local, haviam sinais de que o espaço havia sido aterrado e o lixo, recolhido. No local, agora, há uma placa com indicação do número de denúncias da Codeca. A prática de despejo de lixo, no entanto, foi confirmada por um caminhoneiro que passava pelo local e preferiu não se identificar:
— Até esses dias tinha uma montanha de lixo aqui. Pelo visto, limparam na última semana.
Legislação
A Lei Federal nº 9.605/98 prevê o descarte irregular como crime ambiental e aplicação de multa para quem for flagrado despejando resíduos em áreas públicas e privadas.
Espaços mal aproveitados
Margeando a extensão da represa Dal Bó, nas proximidades do Sesi, pilhas de lixo ocupam uma área verde na Rua Luigi Galichio, no bairro Fátima. Mesmo assim, os irmãos Adercides Silveira Flores, 75 anos, e Leonel Silveira, 80, utilizam o espaço como pracinha. Sentados em uma das mesas de concreto que existem ali, eles dizem estar acostumados com o lixão a céu aberto.
— Faz anos que está assim. A Codeca vem às vezes, recolhe, mas depois de alguns dias tem uma pilha grande de novo. Muitos moradores despejam lixo aqui, mas tem gente que vem de carro de outros lugares e só larga também — comenta Leonel.
O aposentado diz que com frequência são descartados, inclusive, pneus, o que causa preocupação em decorrência da proliferação do mosquito da dengue.
— Aparece cada ratão aqui por perto, e muito inseto também — conta.
Apesar da montanha de resíduos, há um contêiner de lixo no local. Para Adercides, o ideal seria colocar mais um repositório:
— Esse contêiner fica cheio rápido. E já vi gente que chega ali, vê o lixo transbordando, joga a sacola com resíduos e ele não cabe, cai no chão, e a pessoa acaba deixando ali mesmo.
Outro morador da região, Vilmar da Silva Oliveira, 68, lamenta o mau uso do espaço. A área verde ampla fica próximo à represa, tem parquinho e mesas de concreto com bancos. No entanto, seu uso recreativo acaba não acontecendo, devido ao lixo e também pela falta de manutenção da área, cuja grama já é quase um mato.
— Poderiam fazer um outro parquinho ou ampliar aquele. Fica feio assim com essa sujeira — destaca.
A situação é parecida no bairro Vila Ipê, na região do Santa Fé. A esquina das ruas dos Pintassilgos e dos Pardais é usada para descarte de lixo irregular. A poucos metros dali, há um parquinho e uma quadra de esportes bastante utilizados pela comunidade. A área, no entanto, acaba sendo desvalorizada pela existência das pilhas de caliças, restos de móveis e lixo depositados próximo.
— A Codeca recolhe só quando ligamos várias vezes e como eles não recolhem os restos de construção, fica sempre uma parte. O problema é que são só os moradores que jogam lixo ali. E se a gente chama a atenção, eles ainda xingam — comenta a moradora Vilma da Silva.
Providências
Com relação ao lixo do bairro Vila Ipê, a Codeca confirmou ter recebido denúncias e que deve atender a demanda nos próximos dias. Sobre o bairro Fátima, estaria sendo planejada o cercamento da área para evitar o acesso e consequente despejo de resíduos. O projeto está sendo articulado em conjunto com as secretarias do Meio Ambiente, Esporte e Lazer e Samae.
Codeca atua a partir de denúncias
Conforme a presidente da Codeca, Amarilda Bortolotto, embora a empresa busque reforçar equipes para trabalho de prevenção para descarte irregular, a maioria dos locais são conhecidos somente por meio de denúncias da população.
— É importante que a população nos sinalize. Paralelamente, estamos sempre tentando insistir para que a população se conscientize. Não é só a questão ambiental, o descarte irregular de materiais prejudica também os recicladores. É inacreditável que uma situação como essa continue a ocorrer em Caxias — ressalta.
De acordo com a Codeca, neste ano estão sendo recebidas por mês em média de cinco pedidos de limpeza de áreas com descarte irregular de lixo. De acordo com a Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Semma), a pasta contabiliza mais de 290 denúncias da existência de lixões desde o início do ano.
DENÚNCIAS
Codeca: 3224-8000
Patrulha Ambiental (Patram): 3217-1187
Alô, Caxias: 156