Reocupar de forma inteligente pavilhões fechados e que já não poderiam abrigar fábricas e possuem valor histórico para Caxias do Sul geralmente rendem debates intermináveis, caso da antiga Metalúrgica Abramo Eberte (Maesa). Mas a cidade reúne grandes iniciativas.
Uma novidade, que deve ser anunciada em breve, é a recuperação de parte do complexo da antiga Vinícola Cooperativa Caxiense, nos fundos da Praça das Feiras, em São Pelegrino. O antigo moinho da Estação Férrea é hoje reduto de gastronomia, cultura e entretenimento. O prédio da Eberle, na Sinimbu, também é citado como ocupação bem sucedida. São três exemplos do bom uso de patrimônio tombado.
Mas há projetos diferentes, caso da antiga Cantina Michielon, onde houve investimento num local histórico, mas sem valor para tombamento, que acabou tornando-se a Fabbrica, uma referência na Serra.
— É preciso analisar o histórico desses pavilhões, ver o valor cultural e histórico dos prédios, caso a caso, se tem valor arquitetônico e cultural. Mas é o dono que vai decidir o que fazer, pois o poder público não pode intervir num patrimônio particular — ressalta a coordenadora da Divisão de Proteção ao Patrimônio Histórico e Cultural (Dippahc), Heloise Salvador.
Oliver Viezzer tem uma sugestão:
— Se não houver remuneração condizente para o dono, as pessoas fogem do tombamento. É preciso rever a lei, dar maior remuneração para os donos para que possam preservar.
Um dos temores é a deterioração dos prédios pela ação do tempo, pelas invasões e pelos saques, o que acaba gerando o desinteresse dos donos em alugar ou vender prédios que marcaram a história de um bairro ou da própria cidade.
A antiga sede da Robertshaw funcionava há mais de 50 anos no Exposição e as construções foram assentadas sobre uma quadra inteira. Como não havia segurança nos últimos meses, ladrões usaram carros e caminhões para carregar janelas, portas e até parte da cobertura. Os furtos expuseram parte da estrutura interna, num cenário de tristeza para a vizinhança. Para negociar o espaço, que já teria interessados, a empresa ainda precisa resolver questões trabalhistas.
— Cada pavilhão tem uma história. A própria Maesa era a grande indústria metalúrgica em um primeiro momento. O segundo momento veio com o setor automotivo, um segmento ainda muito forte, que teve alguma baixa. Veja o exemplo da Gazola e da Eberle, no ramo da cutelaria, fecharam, mas temos aqui, ao lado, a Tramontina, que está forte. Temos de pensar no conjunto da Serra. São os tempos que vão mudando, o que temos de cuidar é manter e inovar, não pode só fechar — pondera Reomar Slaviero, presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Caxias do Sul (Simecs).
O empresário aponta a recuperação econômica, pois Caxias é a cidade que mais criou postos de trabalho puxada pelo setor metalmecânico.
— Com a expansão urbana, não acredito que os pavilhões na área central voltem a ser ocupados pela indústria. Creio que tendem a ser mais pela área de habitação justamente pela localização — conclui Slaviero.
CIDADE QUASE FANTASMA
:: Não dá para comparar Caxias do Sul com a situação de Detroit, mas também não dá para ignorar os efeitos danosos do esvaziamento industrial da cidade dos Estados Unidos, situação que serve para embasar o planejamento de Caxias do Sul para as próximas décadas.
:: A cidade americana, que pediu concordata em 2013, sobrevivia basicamente da indústria automotiva. Com o fechamento de empresas do setor e uma dívida pública astronômica, a cidade sofreu um êxodo populacional _ teve 1,8 milhão de moradores no passado e hoje tem pouco mais de 700 mil.
:: O resultado disso tudo foi o abandono de milhares de casas e pavilhões e aumento da violência. Hoje, Detroit ensaia uma recuperação lenta, com a chegada de novas empresas com outros modelos de negócios, mas levará anos até a retomada plena da economia local.
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