As duas assembleias realizadas na tarde de ontem com funcionários e ex-funcionários do Grupo Voges aprovou a proposta de venda de uma das unidades da empresa. A Biehl Metalúrgica SA, de São Leopoldo, apresentou uma proposta para comprar a Voges Motores, localizada na BR-116, bairro São Ciro, por um valor de R$ 40 milhões. Ambos os encontros lotaram o auditório do Sindicato dos Metalúrgicos, de Caxias. Pelo menos 400 trabalhadores participaram e questionaram o novo comprador. O negócio também inclui a fazenda do dono da Voges, Osvaldo Voges, avaliada em R$ 7 milhões.
Dentro do valor proposto, R$ 20 milhões serão destinados para o pagamento de dívidas trabalhistas. A outra metade será para a implantação de melhorias na infraestrutura da empresa. O valor destinado ao pagamento dos processos trabalhistas representa em torno de 25% do montante devido, que soma cerca de R$ 70 milhões. Ou seja, cada trabalhador vai receber cerca de 25% da rescisão.
A Voges se encontra em recuperação judicial desde 2013 e conta com 2,5 mil pessoas envolvidas. Atualmente, as duas unidades (Voges Motores e Metalcorte, junto à Maesa) empregam cerca de 400 trabalhadores.
Pagamento será parcelado
A empresa de São Leopoldo foi representada pelo advogado Carlos Eduardo França. Ele informou que a proposta está sendo feita por cinco empresários da Biehl Metalúrgica SA. Três atuam no Brasil e dois no Exterior. A empresa é de porte médio e emprega 75 funcionários na Região Metropolitana.
A proposta apresentada aos metalúrgicos inclui, entre outros requisitos, as formas de pagamento. São R$ 2 milhões de entrada, mais 18 parcelas de R$ 1 milhão. O parcelamento será repassado para o acerto com os trabalhadores.
Além disso, a nova empresa se compromete em manter os atuais empregos (cerca de 120 na unidade) e priorizar a contratação de quem já trabalhou na Unidade Motores.
Agora, o próximo passo é a apresentação do plano modificativo aos credores da Voges, que acontece na próxima segunda-feira, no Jockey Clube.
Melhor pouco do que nada
No encontro do início da tarde de ontem, o clima era de apreensão. Muito trabalhadores protestaram contra o valor a ser pago. Outros, mais conformados, achavam melhor receber pouco do que nada. Esse, aliás, foi o tom de quem conduziu a assembleia.
O advogado do Sindicato dos Metalúrgicos, Valdecir de Lima, avisou que, se a proposta não fosse aprovada, dificilmente os colaboradores da empresa teriam outra chance de usufruir dos passivos trabalhistas.
Algacir Freitas, 44 anos, trabalhou na empresa durante 14 anos. O processo trabalhista soma R$ 26 mil. Se a venda for concretizada, deve receber cerca de R$ 6,5 mil.
— Melhor pouco do que nada — avalia.
Carla Vanderleia dos Santos não aprovou o negócio e votou contra a venda. Atuou na unidade da Voges durante oito anos. O valor da rescisão chega a R$ 25 mil.
— Receber esta miséria, e ainda parcelado. É muito injusto. Prefiro não receber nada.
Para o metalúrgico Mauri Margarin, 57 anos, o possível acerto trabalhista não vai quitar as dívidas que acumulou há dois anos, depois de ser demitido.
— Não pude mais pagar as prestações da casa. Esse dinheiro não vai resolver os problemas acumulados.
Salários atrasados
Funcionários que continuam trabalhando na unidade do São Ciro também participaram da assembleia. Milton Rambo, 51, está na empresa há 11 anos. Ele torce pela venda da unidade. Segundo Rambo, é a única possibilidade de a indústria sair do buraco, pois os salários estão atrasados em dois meses.
— O 13º salário de 2017 foi pago em panelas — declara.